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IPCA acelera com fim da Black Friday, mas deve perder parte da força em janeiro

Para economistas, metade da surpresa do mês passado partiu do fim das promoções e das compras de Natal

Foto: Shutterstock/rafastockbr

Índice oficial de inflação, o IPCA acelerou a alta e avançou 0,62% em dezembro, acima do esperado pelo mercado, encerrando 2023 com aumento de 5,79%. Pelo menos metade da surpresa altista (analistas esperavam um aumento de 0,45% no mês) partiu de fatores pontuais – como o fim das promoções da Black Friday- , que não devem se repetir neste início de ano.

Apesar disso, parte do mercado viu sinais de alerta no número, que mostrou um espalhamento maior do que o esperado da inflação por diferentes itens.

Nesta terça-feira (10), o Banco Central deve publicar, pelo terceiro ano consecutivo, uma carta explicando os motivos pelos quais não conseguiu entregar o IPCA dentro do intervalo da meta de inflação (que era de 3,5% em 2022, com banda de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo).

“A guerra da Ucrânia, iniciada em fevereiro do ano passado, elevou os preços de combustíveis e grãos e adiou a normalização das cadeias produtivas globais”, aponta Claudia Moreno, economista do C6 Bank. “Na dinâmica interna, a pressão maior veio do setor de serviços, que inclui restaurantes e salões de beleza, influenciados pela remarcação de preços no pós-pandemia, pela inércia inflacionária e, por último, por um mercado de trabalho mais aquecido.”

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Analistas de mercado acreditam que o IPCA de 2023 tampouco será cumprido. A expectativa de especialistas ouvidos pelo Banco Central é que o índice feche o ano com alta de 5,46% (a meta é de 3,25%, com banda de 1,5 ponto).

Núcleos e difusão em alta

Em dezembro, a média dos núcleos do IPCA (ou seja, os itens com inflação menos volátil) avançou 0,66%, acelerando em relação a novembro, quando o aumento foi de 0,32%, enquanto o índice de difusão (quantos itens, de todos os que compõe o IPCA, subiram) se elevou de 59% para 69% no mês passado.

Em relatório, os economistas Daniel Karp e Felipe Kotinda, do Santander, salientaram que a maior parte da surpresa se concentrou na volta dos preços de bens industriais após a Black Friday, em um repique que influenciou os núcleos.

Eles ponderaram, contudo, que, quando se olha a média dessazonalizada (quando são retirados os efeitos típicos de cada período) dos núcleos nos últimos três meses, a tendência é de estabilidade.

“Precisamos monitorar para avaliar se é de fato uma estabilização ou somente uma pausa na tendência de desaceleração que vínhamos observando”, apontaram. “Do lado positivo, a inflação de serviços dos últimos três meses dessazonalizada continuou a desacelerar.”

O Santander vê uma rápida desaceleração do IPCA nos próximos meses, para o patamar de 5% de aumento em 12 meses. “Mas ainda acreditamos que a convergência na direção do centro da meta será difícil e demorará para acontecer.”

Higiene pessoal e artigos de residência

Tatiana Nogueira, economista da XP, lembrou que a alta em higiene pessoal, um dos grupos que mais surpreendeu no mês passado, pode estar relacionada ao fim das promoções da Black Friday e ao impacto das compras de Natal.

Por outro lado, itens como gasolina (com deflação de 1,04% em dezembro por causa das reduções de preços pela Petrobras) e bebidas surpreenderam para baixo.

“De forma geral, um número negativo, com uma variação maior que esperada e de forma espalhada”, resumiu Nogueira, em relatório. “Ainda assim, metade da surpresa se deu em um subgrupo volátil e bastante sensível à Black Friday e ao Natal, o que não deve se repetir nos próximos meses.”

A XP espera uma alta de 5,4% na inflação de 2023.

O salto em produtos de saúde e higiene pessoal, assim como de artigos de residência, também foi destacado pela economista para Brasil do BNP Paribas, Laiz Carvalho.

“Um dado muito puxado por coisas pontuais. Não esperamos continuar com essa variação tão alta em janeiro”, disse Carvalho, que prevê um avanço de 5,5% no IPCA deste ano.

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