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Quais setores da Bolsa podem se beneficiar e se prejudicar com o aumento da taxa Selic? 

Foto: Freepik

  

Desde março de 2021, o Banco Central vem elevando os juros brasileiros e nesta quarta-feira, 22, tivemos o anúncio de mais um aumento da taxa Selic, em 1 ponto percentual, para 6,25% ao ano, como forma de combater o avanço da inflação no país.   

  

No comunicado, os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) deixaram claro que devem manter o ritmo de ajuste da Selic pelo menos no próximo encontro, ao fim de outubro.  

“Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance no território contracionista. Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude”, afirmou o Comitê.  

  

Diante das sucessivas elevações dos juros, que começaram o ano no patamar de 2,0%, e do potencial do ajuste de levar a Selic para mais perto dos dois dígitos, quais setores podem se beneficiar em Bolsa?  

  

Destaco três deles: bancos, seguradoras e empresas importadoras.  

Bancos 

  

Empresas ligadas ao setor financeiro, como os bancos, são diretamente beneficiadas por uma elevação da taxa Selic devido à diferença entre o custo de captação e os juros cobrados dos clientes. 
 

Destacamos os quatro maiores bancos que detêm ações na B3 — Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Banco do Brasil (BBAS3) e Santander (SANB11) — e notamos que o ROE (sigla para Retorno Sobre o Patrimônio Líquido) de todos teve um achatamento no período em que as taxas de juros estavam baixas, como podemos notar no gráfico a seguir.  

Vale lembrar que o ROE mede a capacidade de geração de valor de uma empresa aos recursos aportados pelos seus acionistas. Quanto maior o ROE, maior a geração de lucro por equity investido na empresa, ou seja, maior a lucratividade relativa ao investimento de acionistas.  

Em 2015, quando a Selic estava na casa dos 14% ao ano, o ROE dos bancos teve forte incremento, chegando a atingir a média de 18,4%. Já em 2020, os juros básicos brasileiros chegaram ao menor patamar histórico, de 2% ao ano, e se refletiram no retorno sobre o patrimônio dos bancos, com uma média para o setor de 10,95%.   

   

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Por conta de um spread bancário mais baixo com juros menores, os bancos tiveram suas rentabilidades afetadas. Desta forma, a Selic em queda acaba gerando um retorno menor para os bancos e, consequentemente, para o acionista. 

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No que tange ao movimento do Copom de iniciar a elevação da taxa de juros, verificamos que os grandes bancos vêm melhorando bastante sua rentabilidade. Como destaque, temos o Banco Itaú com maior ROE, de 18,29% no segundo trimestre de 2021, acima de todos os concorrentes. Em segundo lugar, embora bem atrás, está o Bradesco, com ROE de 14,87%, seguido pelo Santander, com 14,66% e, por último, pelo Banco do Brasil, com ROE de 14,66%. 

Seguradoras 

  

As seguradoras respondem por outro setor que tende a ser positivamente beneficiado pelo aumento da Selic, porque a receita operacional que parte da venda de seguros é ajustada pela inflação. Um fator adicional favorável diz respeito às outras fontes relevantes de receita: as aplicações feitas no mercado financeiro, em renda fixa, com rendimentos atrelados à Selic.  

Importadoras 

  

Outras empresas que tendem a performar positivamente com a alta da Selic são as importadoras, dada a expectativa de queda do dólar. Juros mais altos no Brasil atraem capital estrangeiro, com investidores em busca de maior rentabilidade e com efeito direto sobre o câmbio.  

A queda do dólar é um aspecto favorável para importadoras de matérias-primas e mercadorias no exterior. É o caso da Hypera, da indústria farmacêutica, e da M. Dias Branco, da indústria de alimentos, além de empresas de tecnologia, como Positivo e Technos, que têm grande parte de seus custos atrelados à compra de insumos dolarizados. 

Outro setor beneficiado por uma Selic em alta é o das empresas aéreas, já que cerca de 70% dos custos, referentes ao arresto de aeronaves e combustíveis, estão indexados ao dólar. Um câmbio mais valorizado também pode ter efeito sobre as receitas dessas companhias, uma vez que a demanda por viagens internacionais se torna mais atrativa com um dólar mais baixo.  

Setores pressionados por juros em alta 

  

Quanto aos setores mais pressionados por um aumento da Selic, destaco os de varejo, shopping centers e construção civil. Os condicionantes para o crescimento destes segmentos são a expansão da renda, do crédito e do emprego.   

 
Algumas construtoras foram, inclusive, destaque de baixa no pregão desta quinta-feira, 23. É o caso da Eztec, que registrou a maior queda do dia, de 4,80%, com os papéis cotados a R$ 25,20. Os papéis da Cyrela também sofreram queda expressiva, de 4,04%, a R$ 19,49. E as ações da MRV caíram 2,73%, para R$ 13,52. 

  

A elevação dos juros tende a encarecer a tomada de crédito não só para consumidores, mas também para empresas, o que acaba desestimulando o consumo e atingindo esses setores. 

Além disso, com uma taxa Selic mais elevada, algumas empresas podem ter um aumento das dívidas financeiras já assumidas, com prejuízo sobre o seu resultado. 

*Sandra Peres é analista CNPI

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