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Bradesco (BBDC4) vai piorar antes de melhorar e ações desabam – entenda o porquê

Visão negativa do mercado diz respeito ao quanto os bancos estão preparados para lidar com a inadimplência

Foto: Shutterstock/casa.da.photo

Os riscos mais temidos pelo mercado continuam se materializando durante a temporada de balanços do terceiro trimestre deste ano. Ontem foi a vez de o Bradesco (BBDC4) decepcionar as expectativas.

Antes, o Santander (SANB11) já havia dado um aperitivo de como os resultados dos bancões poderiam ter sido durante o intervalo entre julho e setembro. Bradesco e o banco espanhol, inclusive, têm no calcanhar de Aquiles neste momento a alta exposição a pessoas físicas.

A carteira de crédito do Bradesco cresceu 13,6% em 12 meses e 2,7% em três meses, chegando a R$ 878,6 bilhões, sustentada por concessões com cartões de crédito e crédito pessoal para pessoas físicas.

Hoje, 40,1% da carteira de crédito total está nas mãos das pessoas físicas, que cresce em maior proporção do que os empréstimos para pessoas jurídicas. No segundo trimestre, essa relação era de 39,9%.

Embora esse crescimento tenha desacelerado percentualmente de trimestre para trimestre, com mais empréstimos concedidos para pessoas físicas o risco é inerentemente maior. O banco precisou elevar suas provisões.

No terceiro trimestre deste ano, a PDD (provisão para devedores duvidosos) mais do que dobrou em um ano, para R$ 7,26 bilhões. No acumulado de nove meses, as provisões de 2022 já superam o reportado no mesmo período do ano passado em mais de 60%.

Na teleconferência de resultados com analistas nesta quarta-feira (9), o CEO do Bradesco, Octavio de Lazari Júnior, disse que o aumento das provisões deve continuar ao longo de 2023, em razão dos créditos já concedidos.

Dessa forma, mesmo que as receitas com prestação de serviços e margem com clientes tenham ficado dentro do esperado, o lucro líquido no trimestre e o ROAE (retorno sobre patrimônio líquido médio) frustraram toda e qualquer projeção de mercado.

O resultado líquido recorrente ficou em R$ 5,22 bilhões, queda de 22,8% na comparação anual. O retorno sobre patrimônio tombou 5,6 p.p (pontos percentuais) no período, para 13%, que deve ser o menor dos grandes bancos.

Perfil da qualidade dos empréstimos do Bradesco

A história do Bradesco o proporciona uma alta capilaridade dentre a população brasileira. São 76,8 milhões de clientes, com alto acesso a crédito – muitos deles voltados à baixa renda. Em meio ao processo inflacionário no Brasil nos últimos meses, esse crédito se concentrou nas pessoas físicas, sobretudo nas linhas mais arriscadas.

No financiamento ao consumo, o cartão de crédito equivale a 7,4% de toda a carteira de crédito, atingindo R$ 65,77 bilhões no terceiro trimestre, ao ter avançado quase 40% em um ano.

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O crédito pessoal também teve forte avanço, de 19%. Ambas as linhas de crédito mais arriscadas do portfólio do banco equivalem a 14% da carteira de crédito expandida.

Esse perfil de crédito do Bradesco não é novidade para o mercado, mas tem sido intensificado nos últimos anos. Desde 2018, as grandes empresas têm perdido participação nos empréstimos do banco, na ordem de 1 p.p ao ano.

Condições econômicas pressiona inadimplência

Esse cenário gera preocupação generalizada, já que a inadimplência entre famílias atingiu em outubro a maior taxa desde 2016, segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).

O levantamento divulgado nesta semana mostra que 30,3% das famílias estavam inadimplentes, avanço de 4,6 p.p em 12 meses. A deterioração da qualidade de crédito dos bancos gira em torno da queda do poder de compra dos clientes e do uso de linhas alternativas e mais custosas, como o rotativo, para custear o dia a dia.

Isso se reflete no balanço do banco, que mostrou uma alta da inadimplência acima de 90 dias para 3,9%, de 3,5% no trimestre anterior e 2,6% no mesmo trimestre do ano passado. Este patamar é o maior desde o primeiro trimestre de 2018, quando o índice de inadimplência estava em 4,4%.

De acordo com Lazari, o pico da alta da inadimplência deve ser atingido entre o quarto trimestre de 2022 e o início de 2023 – mesmo que ele tenha chamado o terceiro trimestre de “tempestade perfeita”.

É de se esperar que o banco se esforce para elevar seu índice de cobertura, com o intuito de dar maior flexibilidade nas operações de crédito. Os empréstimos acima de 90 dias têm cobertura de 200,7%, a menor do ano.

A visão negativa do mercado para o resultado gira em torno do quanto os bancos estão preparados para isso, e naturalmente quanto do lucro será sacrificado para a manutenção dos níveis de qualidade.

Margens com cliente ainda forte, mas tesouraria deve ficar no vermelho

A margem com clientes cresceu 47,7% em 12 meses e 3,4% no trimestre, mostrando talvez o que seja a melhor parte do resultado do banco, ou seja, de um maior volume de operações com novo mix de produtos.

Já a NII (receita de juros ou margem) com mercado ficou negativa em R$ 1,24 bilhão, depois de um resultado positivo de R$ 1,64 bilhão no terceiro trimestre do ano passado. O segundo trimestre deste ano já havia deixado indicativos pessimistas e o quarto trimestre deve apresentar mais um balanço negativo da tesouraria do banco.

Os números desta linha foram prejudicados pelos recursos expostos à inflação, já que durante julho e setembro – o exato período do terceiro trimestre – houve deflação.

Como parte da originação de crédito do banco foi realizada ainda com a Selic em níveis baixos, o giro da carteira deve se consolidar no início do ano que vem, o que normalmente acontece após cerca de 18 meses do início de um processo de contração monetária. A expectativa para redução da Selic também deve colaborar.

Impacto nas ações

E o péssimo resultado do terceiro trimestre e perspectivas ainda piores para o futuro colocam as ações do Brasdesco como a segunda maior queda do dia.

Por volta das 11h36, as ações BBDC4 recuavam 9,9%, para R$ 16,73, no menor patamar desde julho. O Bradesco vale R$ 168,54 bilhões na B3.

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