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Natura (NTCO3) sente peso inflacionário e quer ajuda da liquidez externa; entenda

Não só a queda do resultado líquido, mas a menor eficiência da Natura chamou atenção negativamente

Foto: Divulgação

A Natura (NTCO3) foi um dos destaques negativos do pregão desta sexta-feira (12). As ações da companhia despencaram 17,54%, para R$ 33, com os investidores digerindo os desafios e as decisões da empresa.

A principal notícia do dia diz respeito aos números do terceiro trimestre. Entre julho e setembro deste ano, o lucro líquido consolidado da Natura foi de R$ 269,6 milhões, um tombo de 28,6% em 12 meses.

Na DRE, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) foi o que mais assustou. O resultado foi de R$ 953,9 milhões, uma baixa de 34,5%, com o peso das despesas com pessoal, corporativas e de capturas de sinergia sobre os negócios recentes.

Não só a forte queda do resultado líquido, mas a menor eficiência do Grupo também chamou atenção negativamente. 

A margem Ebitda, que mostra o grau de eficiência da empresa, pois mede a lucratividade operacional do negócio, caiu quatro pontos percentuais, para 10%. O guidance para o indicador, inclusive, sofreu uma alteração. A companhia previa manter entre 14% e 16% até o fim de 2023, mas esse patamar será atingido apenas no fim de 2024.

A Natura, por característica do setor, opera com margens baixas por si só. A margem líquida, que mostra o resultado líquido em relação à receita líquida, foi de apenas 2,8% no trimestre, com uma queda de oito pontos percentuais.

O que o mercado enxerga

Na plataforma do TradeMap, é possível encontrar a recomendação dos analistas ouvidos pela Refinitv

Dos 14 especialistas que acompanham a empresa, dez recomendam a compra das ações — inclusive três indicam que os investidores a façam correndo. Três são “otimistas cautelosos”, com a recomendação de manutenção dos papéis, ao passo que apenas um indica venda das ações.

Foto: TradeMap
Foto: TradeMap

Os papéis da Natura não vêm bem. Embora tenham fechado o ano passado com uma alta de 35,46%, em 2021, já caíram mais de 23% — claro, com forte pressão da sessão de hoje.

Caso a Natura supere os desafios e corresponda às expectativas do mercado, negocia a 25 vezes os lucros estimados para 2022. Não é exatamente uma barganha para um setor de margens apertadas, com pouco princig power frente às commodities e que depende do ciclo econômico. 

O pesadelo da Natura

São quatro grupos que compõem o resultado da Natura:

  • Natura&Co da América Latina;
  • Avon Internacional;
  • The Body Shop;
  • Aesop. 

A base comparativa do balanço mais recente não ajudou. Assim como todo o varejo, a companhia teve um resultado no terceiro trimestre de 2020 muito forte, com aumento de 26% na receita líquida.

A queda de 4,2% em reais entre julho e setembro deste ano, na comparação anualizada, até pode parecer um bom resultado se comparado ao terceiro trimestre de 2019, um dos últimos períodos pré-pandêmicos. Porém, a conjuntura é de se preocupar.

Do ponto de vista econômico, o ambiente externo é desafiador. A pandemia trouxe desafios globais, como o encarecimento dos fretes e a inflação generalizada. Nos Estados Unidos, o aumento dos preços está no maior patamar em 30 anos.

A margem bruta do trimestre, que mostra quanto do faturamento total sobrou para o pagamento das demais obrigações, pode até ter tido um leve aumento, de oito pontos percentuais, para 65,3%, mas foi pressionada por esse efeito.

Os preços das commodities, o maior pesadelo da Natura nos últimos meses, ensaiam buscar o maior patamar na história, se assemelhando ao pico do ciclo global do início do século, conforme mostra a imagem abaixo.

Fonte: FMI. Reprodução: Fred Economic Data
Fonte: FMI. Reprodução: Fred Economic Data

Matérias-primas como óleo de palma, resinas plásticas e papel e celulose subiram 55%, 65% e 94%, respectivamente, em comparação ao terceiro trimestre do ano passado. O custo do frete marítimo disparou 370%.

A inflação, que na prática se traduz diretamente como perda do poder de compra, naturalmente impactou a demanda. 

Nesse sentido, os resultados foram pressionados pela queda da procura nos mercados em que atua, sobretudo no Brasil, e de produtos e marcas de baixo tíquete médio, como a Avon, adquirida em 2019 e que passa por reformulações operacionais.

A pressão cambial também apareceu nos números da empresa. Vale ressaltar que 71% do faturamento da Natura vem de fora do Brasil. Desmembrando a receita líquida, 79% da receita líquida está em países com divisas consideradas fracas, de mercados emergentes latino-americanos e globais.

Operação globalizada faz Natura mudar de endereço

Outro anúncio que chamou atenção dos investidores foi o fato de a Natura ter escolhido os Estados Unidos como sua nova casa, aproveitando que seus trabalhos estão majoritariamente fora das fronteiras brasileiras. 

O Conselho de Administração autorizou um comitê operacional da empresa a estudar a migração da listagem primária das ações para a Bolsa de Valores de Nova York (NYSE).

A companhia já possui essa autorização desde 2019, e é negociada por lá por meio de American Depositary Receipts (ADRs). Agora, a direção quer alterar a lógica: ser oficialmente listada em Nova York e ter Brazilian Depositary Receipts (BDRs) na B3.

A lógica da Natura é a mesma de toda e qualquer empresa que queira internacionalizar seus negócios, caso ainda não o tenha feito. 

Internacionalizando-se dessa forma, a companhia terá acesso ao financiamento de suas operações de forma mais ampla e qualitativa, dada a liquidez dos investidores e a robustez do mercado de capitais americano. Mais analistas acompanharão os papéis da empresa, podendo recomendar a compra dos papéis, por exemplo.

Com mais capital no bolso, a companhia poderá continuar tocando sua reestruturação, a despeito dos desafios conjunturais.

A estrutura corporativa da empresa também deve ser ajustada. A ideia é criar uma holding, que abrigará todos os negócios da Natura sob seu guarda-chuva. Isso está em estudo e, caso aconteça, ela será sediada no Reino Unido.

Na visão da direção, a Natura estaria, assim, mais bem posicionada para obter um grau de investimento no “futuro próximo”, o que faz parte de seu racional estratégico. 

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