Debandada na equipe econômica, quase R$ 100 bi extra teto e o que mais você precisa saber para investir hoje

Mercado também repercute novo nome para o Tesouro e pagamento que evita falência da Evergrande

Em três dias, as empresas listadas na Bolsa perderam quase R$ 300 bilhões em valor de mercado, o dólar se valorizou 2,5% e os juros futuros dispararam. Nesta sexta de manhã, em um Brasil em que os fatos mudam a cada instante, nada aponta para um alívio significativo no clima de pessimismo entre os investidores.

As razões são muitas: adiamento de pagamento de precatórios, R$ 400 por pessoa no novo Auxílio Brasil (estes dois primeiros vão furar o teto de gastos em quase R$ 100 bilhões, segundo cálculo da Instituição Fiscal Independente) e até auxílio diesel para os caminhoneiros. Cada vez mais, a responsabilidade fiscal parece uma miragem.

Após o fechamento do mercado ontem, em um dia já suficientemente conturbado, o Ministério da Economia informou a saída do secretário do Tesouro, Bruno Funchal, e de sua equipe. Com a submissão cada vez maior do ministro Paulo Guedes às vontades do presidente Jair Bolsonaro, Funchal vinha sendo considerado por parte dos investidores o fiador de fato do teto.

“A equipe ficou muito insatisfeita com o descumprimento do teto dos gastos”, resumiu José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos. “Minha avaliação é que este era o limite. A avaliação é que perderam toda a capacidade de fazer política fiscal responsável.”

Em Nova York, o principal fundo de índice brasileiro, o EWZ, que negocia as principais ações brasileiras negociadas nos EUA, respondeu à debandada na equipe econômica e chegou a cair mais de 2% ontem.

No que o mercado estará de olho nesta sexta? Em novas informações sobre o Auxílio Brasil e em pistas de como serão investidos os R$ 94,9 bilhões que poderão ser gastos além do teto. Como lembrou o diretor da IFI (Instituição Fiscal Independente), Felipe Salto, o novo programa social do governo, que substituirá o Bolsa Família, custará R$ 47 bilhões. “Para onde vai o resto?”, questionou o especialista em contas públicas no Twitter.

Além disso, a divulgação de nomes para substituir Funchal e a equipe no Tesouro será acompanhada de perto pelos investidores. Segundo o jornal Valor, Esteves Colnago, atual assessor especial de Guedes, é cotado para o cargo. 

De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, as empresas listadas em Bolsa já perderam R$ 284 bilhões em valor de mercado em três dias de crise fiscal.

Por que essa discussão mexe tanto com o mercado? Em um cenário em que o governo demonstra cada vez menos preocupação com a responsabilidade fiscal, os investidores da nossa dívida pública pedem juros cada vez mais elevados para investir nos títulos, o que tende a retrair o consumo e refrear a atividade econômica.

A tendência é alta de juros, câmbio mais e mais desvalorizado, pressão sobre a inflação e menos emprego no futuro, o que afeta o mercado como um todo, com destaque para empresas ligadas ao consumo. 

Algum aspecto pode trazer otimismo ao mercado hoje? Sim. A incorporadora chinesa Evergrande cumpriu o pagamento dos juros de um bônus na véspera do vencimento, e evitou a falência. Isso pode trazer otimismo ao mercado, porque o temor é que um colapso da empresa impacte a economia chinesa e a global. 

As bolsas europeias reagiram com otimismo à informação, e a cotação do minério de ferro subia pela manhã.

Que outros dados serão acompanhados pelos investidores? Às 9h30, destaque para a nota do setor externo do Banco Central, que detalha como ficaram as transações do Brasil com o exterior em setembro. Além disso, às 10h45, os Estados Unidos informam a prévia deste mês do seu Índice de Gerente de Compras (PMI) de indústria e serviços.

Às 11h, discurso da representante do Fed de São Francisco, Mary Daly, deve dar pistas de como o banco central dos EUA está vendo a inflação e os últimos dados de atividade econômica.

 

 

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