Principais acontecimentos de 2024
O ano de 2024 foi marcado por grandes eventos macroeconômicos que moldaram as perspectivas para 2025. Desde a volatilidade nos mercados globais até mudanças políticas e impactos climáticos. O cenário econômico mundial apresentou desafios significativos. No Brasil, o recorde do dólar, a inflação persistente e uma política fiscal controversa, foram os principais destaques.
Cotação nominal recorde do dólar
O câmbio foi um dos protagonistas de 2024, com o dólar superando R$/US$ 6 pela primeira vez na história, atingindo R$/US$ 6,1991. Esse movimento trouxe desafios para ativos atrelados ao real, reduzindo sua rentabilidade. Por outro lado, empresas exportadoras e setores dolarizados se beneficiaram, com destaque positivo em um ano difícil para a bolsa de valores.
Pacote fiscal insuficiente
A política fiscal brasileira em 2024 foi marcada pelo anúncio de um pacote de medidas que acabou sendo insuficiente para conter o déficit público. Apesar da aprovação da maioria das propostas de ajuste fiscal, o corte de gastos, estimado em R$ 69,8 bilhões para 2025 e 2026, planejado ainda é considerado modesto diante da meta ambiciosa de zerar o déficit público a partir de 2025.
O mercado continua cético quanto à efetividade das medidas. Além disso, o governo ainda precisa aprovar o Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2025, que inclui estimativas de arrecadação consideradas incertas. Em resumo, o cenário fiscal de 2024 encerra-se com muitas incertezas, e a abordagem adotada pelo governo gerou desconfiança no mercado, agravando o quadro fiscal do país.
Alta dos juros e inflação acima da meta
O Comitê de Política Monetária (Copom) encerrou o ano elevando a taxa Selic para 12,25%, com perspectiva da taxa continuar subindo nas próximas reuniões. A inflação, medida pelo IPCA, acumulou 4,87% até novembro, superando o teto da meta de 3%. De acordo com o último boletim Focus, divulgado em 23 de dezembro, a projeção é que a Selic alcance 14,75% ao ano em 2025, enquanto o IPCA deve ficar em 4,84%.
Perspectivas econômicas globais
No cenário internacional, a vitória de Donald Trump nas eleições americanas trouxe mudanças significativas e incertezas para os mercados globais. Suas políticas protecionistas, como o aumento de tarifas de importação, principalmente sobre produtos chineses, e as promessas de apoio à adoção de criptomoedas como parte de sua estratégia econômica, impactaram diretamente diversos setores. Uma das consequências mais visíveis foi a valorização expressiva do Bitcoin, que superou a marca histórica de US$ 100 mil, impulsionado por expectativas de maior aceitação regulatória e integração no mercado financeiro americano. Além disso, a taxa de juros nos EUA foi reduzida para a faixa de 4,25% a 4,50% na última reunião do Fed, realizada em 18 de dezembro. Esse foi o terceiro corte seguido da taxa. Na reunião de novembro, o FOMC reduziu o referencial na mesma proporção, em 0,25 p.p., enquanto na reunião de setembro o corte foi de 0,50 ponto.
A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos já era precificada pelo mercado, mas aumentou as preocupações sobre os efeitos da agenda econômica conservadora e protecionista que o republicano deve carregar durante seu mandato. Entre as propostas de seu plano econômico, por exemplo, está a elevação de tarifas para produtos importados — incluindo uma guerra comercial com a China — e o corte de impostos no país, além do endurecimento das regras de imigração. Essas medidas são vistas como inflacionárias pelo mercado e podem — além de trazer impactos para a economia de outros países — obrigar o Fed a manter os juros elevados para conter um eventual aumento de preços. O presidente do Fed, Jerome Powell, disse que novos cortes nos juros dependem justamente de progressos na redução da inflação.
Em 12 de dezembro, o Banco Central Europeu (BCE) reduziu a taxa básica de juros da Zona do Euro de 3,25% para 3%, marcando o quarto corte consecutivo neste ano. O BCE avaliou que o processo de desinflação está bem encaminhado e decidiu pelo corte nos juros para estimular o crescimento econômico. No entanto, a recuperação econômica está mais lenta do que o esperado, levando o BCE a revisar para baixo as previsões para os próximos anos.
Na China, o crescimento econômico mostrou sinais de desaceleração, mesmo com os esforços do Banco Popular da China (PBoC) para estimular a economia por meio de cortes nas taxas de juros e medidas de liquidez. O setor imobiliário, crucial para o país, continua enfrentando desafios, com grandes incorporadoras lidando com dívidas elevadas e investidores externos demonstrando cautela diante do cenário.
Enquanto isso, a guerra na Ucrânia escalou em intensidade, elevando as tensões geopolíticas e gerando impactos econômicos e comerciais em todo o mundo. O aumento dos conflitos agravou a volatilidade nos mercados de energia e alimentos, ampliando as incertezas sobre a estabilidade global e mantendo os preços elevados nesses setores críticos. O impacto conjunto desses eventos reforça um ambiente de desafios econômicos para 2025, tanto em termos de crescimento quanto de estabilidade nos mercados internacionais.
Perspectivas para 2025
Para 2025, o cenário internacional será marcado pelo processo desinflacionário nos EUA e na Zona do Euro. Nos EUA, políticas protecionistas, cortes de impostos e redução da força de trabalho imigrante podem manter os juros elevados, enquanto medidas para reduzir gastos públicos e aumentar a produção de petróleo devem fortalecer o dólar. Na Zona do Euro, a atividade econômica segue fraca, com baixos PMIs e queda na confiança dos investidores, especialmente na Alemanha. Já a China continuará incentivando sua economia e investindo em autossuficiência de recursos.
No Brasil, o cenário será desafiador, com foco no problema fiscal e pressão inflacionária decorrente da atividade econômica aquecida e do desemprego baixo. O Banco Central deverá adotar políticas mais contracionistas, com a Selic podendo alcançar 14,75%, conforme o último boletim Focus divulgado em 23 de dezembro. Há riscos de dominância fiscal e perda de confiança dos investidores. Assim, o país enfrentará inflação elevada e juros em alta, enquanto incertezas globais, como políticas de Trump, podem gerar choques de oferta e pressionar ainda mais os preços.
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