O Bradesco (BBDC4), segundo grande banco a publicar resultados para o terceiro trimestre, apresentou um lucro líquido recorrente que frustrou as expectativas de todos os analistas consultados pela Agência TradeMap.
Segundo balanço publicado na noite desta terça-feira (8), a instituição financeira teve resultado líquido positivo de R$ 5,2 bilhões, queda de 22,8% em relação a igual período do ano passado e 19% abaixo da mais pessimista das estimativas do mercado, feita pelos analistas do Itaú BBA, que previam ganhos de R$ 6,4 bilhões.
Todas as demais instituições consultadas (XP, BTG Pactual, Goldman Sachs, Bank of America e Santander) previam lucros ainda maiores, que iam de R$ 6,7 bilhões, no caso de XP e BTG, a R$ 7,1 bilhões, nas contas do BofA.
Com a piora do lucro, a rentabilidade do banco também caiu. No terceiro trimestre, o retorno anualizado sobre o patrimônio líquido médio (ROAE) recuou para 13% no terceiro trimestre, de 18,6% em igual período de 2021, um desempenho também frustrante. Os analistas do Goldman Sachs, da XP e do BofA, por exemplo, esperavam manutenção do retorno no patamar de 18%.
Inadimplência
O resultado do banco foi marcado por uma nova piora da taxa de inadimplência, que mede a proporção de empréstimos que estão com atrasos superiores a 90 dias em relação à carteira total de crédito.
O Bradesco, que já tinha a maior taxa de inadimplência entre os grandes bancos, viu o índice subir para 3,9%, de 3,5% no trimestre passado e contra 2,6% no terceiro trimestre do ano passado. Os analistas do Goldman Sachs esperavam uma elevação menor, para 3,8%. Os da XP previam uma taxa de 3,6%.
No mercado, contudo, a expectativa de analistas é que o setor bancário comece a mostrar uma estabilização nas taxas de inadimplência, algo que foi observado no balanço do Santander, que apresentou um leve aumento de 2,9% para 3%. O aumento maior que o esperado no Bradesco, portanto, deve ser visto como um ponto de atenção.
“A inadimplência cresceu no segmento massificado, para pessoas físicas e micro e pequenas empresas”, afirmou o presidente do banco, Octavio de Lazari, em nota enviada à imprensa logo após a divulgação do balanço.
Segundo Lazari, o cenário econômico, a inflação e os juros elevados, afetaram a capacidade de pagamento dos clientes. Ele observa, porém, que o comportamento da inadimplência já apresenta sinais de melhora.
“Todos os ajustes que efetuamos em 2022 nos permite projetar que a inadimplência deve se estabilizar e depois melhorar no decorrer de 2023”, disse o executivo.
Em relação à rentabilidade, Lazari disse ter convicção na capacidade operacional do banco de entregar um nível melhor. “Vamos perseguir essa meta e continuar os ajustes necessários para retomar a trajetória de rentabilidade”.
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Com o aumento da inadimplência, o banco também gastou mais com as chamadas provisões para devedores duvidosos (PDDs), como são chamados os recursos guardados pela instituição para cobrir eventuais calotes. Embora esse dinheiro não seja um gasto de fato, uma vez que se trata de uma reserva, acaba entrando como despesa no balanço e afetando o resultado da companhia.
No terceiro trimestre, foram R$ 7,2 bilhões em despesas com provisões, mais que o dobro (+116,4%) que o volume anotado em igual período do ano passado.
Diante disso, o Bradesco informou que elevou suas projeções para provisões em 2022. Até então, a instituição projetava provisões de R$ 17 bilhões a R$ 21 bilhões ao longo de todo ano. Agora, espera algo entre R$ 25,5 bilhões a R$ 27,5 bilhões. No acumulado do ano até o terceiro trimestre, já foram realizados R$ 17,4 bilhões.
Margens
A margem financeira do banco – que basicamente consiste em quanto a instituição ganha com juros em operações de crédito – subiu menos do que se esperava. O avanço foi de 3,7% em um ano, para R$ 16,2 bilhões no terceiro trimestre. Analistas da XP, por exemplo, projetavam expansão de 9%.
O crescimento só não foi maior por causa da chamada margem com o mercado – que representa os ganhos do banco nas operações de crédito com outras instituições financeiras. O indicador ficou negativo em R$ 1,2 bilhão, revertendo o saldo positivo de igual período do ano passado, de R$ 1,6 bilhão.
No setor bancário, as margens com o mercado têm piorado por causa do rápido aumento da Selic ao longo dos últimos dois anos. Como os bancos captam recursos de outros bancos, o avanço dos juros torna essa captação mais cara, ao mesmo tempo em que não consegue repassar esse aumento para o cliente final na mesma velocidade.
As receitas do Bradesco com prestação de serviços também não deram um impulso para o resultado do banco. No terceiro trimestre, o indicador teve uma leve alta de 1,1% em relação a igual período do ano passado, ao somar R$ 8,8 bilhões.
A carteira de crédito da instituição, por sua vez, terminou o terceiro trimestre com R$ 878,6 bilhões, 13,6% a mais do que tinha há um ano, com um avanço maior para o cliente pessoa física, que teve alta de 16,4%, do que para a pessoa jurídica, com expansão de 5,1%.