Bolsas da Europa sobem – e a renúncia de Boris Johnson tem pouco a ver com a alta

Atenção do mercado está mais voltada a preços de commodities, que estão diminuindo

Foto: Alexandros Michailidis / Shutterstock.com

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou nesta quinta-feira (7) que deixará o cargo após um mandato marcado por escândalos e depois de eventos recentes que mostraram o pouco apoio que ele possuía dentro do próprio governo.

A renúncia era esperada há dias, e foi antecedida pela saída de vários outros membros do governo dos cargos ocupados até então.

Johnson, que assumiu como primeiro-ministro britânico há pouco menos de três anos, teve um mandato permeado por polêmicas. As mais conhecidas foram a participação do político em festas durante a pandemia de Covid-19, o que violava as regras de isolamento social impostas pelo próprio governo.

No final do ano passado, Johnson também foi amplamente criticado por agir para evitar a suspensão de um de seus colegas de parlamento, Owen Paterson – acusado na época de beneficiar empresas em troca de pagamentos.

O que fez a opinião pública britânica – e o partido de Johnson, o Conservador – perderem a paciência, no entanto, foi um acontecimento recente. Chris Pincher, um dos líderes do partido no parlamento, foi acusado de assediar dois homens numa festa ocorrida no final do mês passado.

O incidente trouxe à tona uma série de outras acusações contra Pincher, que havia sido indicado por Johnson para ocupar uma posição de destaque no parlamento. O primeiro-ministro disse inicialmente que desconhecia as acusações contra Pincher quando o indicou, mas uma reportagem da BBC mostrou que ele sabia de uma queixa formal contra o político.

Johnson admitiu que mentiu na sequência, mas o estrago estava feito – cerca de 50 membros do governo renunciaram depois disso, deixando claro que ele havia perdido apoio partidário.

O índice FTSE-100, da bolsa de Londres, havia começado o pregão em alta. Na abertura, subia cerca de 1%. Meia hora depois, quando o primeiro-ministro informou que deixaria o cargo, a alta se intensificou, mas não muito.

Isso porque, além da renúncia de Johnson, o que os investidores estão comemorando é outra coisa.

Demais bolsas da Europa também sobem

Desde quarta-feira (6), o clima dos mercados financeiros da Europa é positivo, e isso tem pouco a ver com os desdobramentos políticos de um único país da região.

Por volta de 10h45, o índice Euro Stoxx 50, que inclui as principais empresas da zona do euro, subia 1,47%, enquanto o Dax 30, da bolsa da Alemanha, avançava 1,63%.

O que está realmente movendo os negócios é a perspectiva de que há um conjunto de fatores trabalhando para conter a inflação e, com isso, o movimento de alta de juros que vem sendo considerado o vilão dos mercados acionários nos últimos meses.

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“Algumas commodities, como o trigo, agora estão operando em níveis vistos antes da invasão da Ucrânia, e os investidores torcem para que a inflação diminua até o final do ano”, disse Axel Rudolph, analista de mercados da IG Markets em Londres.

Os investidores estão se apegando mais a este movimento de preços das commodities que às sinalizações feitas pelos bancos centrais há algumas semanas.

Ontem e hoje, foram publicadas respectivamente as atas das reuniões de política monetária dos bancos centrais dos Estados Unidos e da Europa. Os encontros aconteceram em junho, e os documentos mostraram que, naquela época, as autoridades estavam muito comprometidas a aumentar os juros para conter a inflação.

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O banco ING, no entanto, afirmou em relatório divulgado hoje que ler as atas agora equivale a analisar uma partida de futebol de três semanas atrás e tentar extrair qualquer informação daquele jogo para tirar conclusões sobre as próximas partidas.

“A natureza deste tipo de análise é que ela é ultrapassada por definição, já que acontecimentos podem mudar a forma de um time de futebol (e as visões dos bancos centrais)”, afirmou o banco.

E ainda que nos Estados Unidos o banco central possa realmente ser mais agressivo que o da Europa no combate à inflação e no aumento de juros – como tem sido o caso até agora -, os europeus podem acabar se beneficiando deste cenário, segundo o Rabobank.

“Se o Federal Reserve [banco central americano] esganar a economia dos EUA, isso sem dúvida terá um impacto global. Portanto, pode enfraquecer a demanda agregada global o suficiente para diminuir a dor da ferroada da inflação”, disse o banco em um relatório, ressaltando, entretanto, que isso pode significar desvalorização do euro.

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