Será que o aumento na taxa básica, a Selic, que ontem foi elevada a 12,75% ao ano, continua no segundo semestre? Na visão do mercado, essa chance aumentou após a sinalização do Banco Central de que fará um ajuste adicional nos juros em junho, sem se comprometer com o fim do ciclo de aperto.
Na manhã desta quinta-feira (5), os contratos de juros futuros amanheceram em alta. A taxa do contrato para junho de 2022 subia 6 pontos-base, para 12,65%. A taxa para junho de 2023 era negociada a 13,15%, alta de 22 pontos-base na comparação com o fechamento de ontem, segundo dados da plataforma TradeMap. Por volta das 11h, os contratos com vencimento em julho de 2025 eram negociados a 12,09%, alta de 19 pontos-base na mesma comparação.
Após considerar por semanas a possibilidade de parar de subir juros na reunião desta quarta, o Banco Central reconheceu pressões inflacionárias maiores do que o esperado e sinalizou no comunicado da decisão — a Selic subiu 1 ponto, a 12,75% ao ano— que a alta de juros continua, em menor grau, na próxima reunião, em junho.
O colegiado não fez nenhuma menção ao possível fim do ciclo. De março do ano passado para cá, a taxa básica subiu 10,75 pontos, o maior choque de juros de um ciclo de aperto monetário desde 1999, quando, em meio à crise cambial, o BC elevou a taxa em 20 pontos percentuais em uma só reunião.
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Apesar de a decisão não ter surpreendido quase ninguém — a maior parte dos analistas acreditava em um aumento dessa magnitude –, o Copom colocou de lado a ideia de que a inflação pode caminhar para a meta em 2023 sem um ajuste adicional de juros em junho.
Na ata da reunião anterior do colegiado, em março, e em declarações posteriores do presidente do BC, Roberto Campos Neto, o comitê havia indicado que acreditava em uma inflação dentro da meta no ano que vem — para isso, adotou um cenário alternativo, em que o barril do petróleo não passará muito dos US$ 100 o barril em 2023.
Esse cenário foi duramente criticado pelo mercado, e após a inflação voltar a ganhar força, o BC decidiu reavaliari suas projeções. No comunicado de ontem, indicou nova alta menor no mês que vem e preferiu não indicar que o ciclo terminará por aí.
Alta da Selic pode se estender para o 2º semestre
Em relatório divulgado após o Copom, Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central e sócio da consultoria Schwartsman & Associados, afirmou que uma nova alta de 0,50 ponto percentual na Selic na reunião de junho ainda seria menor que o necessário para entregar a inflação na meta em 2023.
“[Um aumento de 0,50 ponto] ainda parece menos que o necessário para a atingir a meta no ano que vem, já que entregaria a inflação levemente acima do alvo (3,4%, versus 3,25%), e portanto acreditamos que haverá outro passo final em agosto, o que levaria a Selic a 13,75% ao ano”, apontou. “Isso ainda não está precificado, então pode haver algum ajuste nas taxas de juros futuros nos próximos dias”.
O economista Alberto Ramos, chefe de pesquisa para o Goldman Sachs na América Latina, não exclui a chance de uma nova alta em agosto. “Estamos pendendo para uma nova alta de 0,50 ponto na reunião de junho, a uma Selic terminal de 13,25%”, afirmou em relatório. “Não excluímos uma alta de 0,75 ponto em junho, e ou outro aumento no encontro de agosto”.
Incerteza elevada
De qualquer forma, a avaliação de economistas é que o cenário se mantém altamente incerto, o que foi apontado pelo próprio colegiado no comunicado. Isso pode levar a ajustes de rumo nas próximas semanas e meses.
“O Copom alerta que a incerteza elevada em torno do pano de fundo macroeconômico atual, o estágio avançado do ciclo de política monetária e o impacto das altas recentes requerem cautela adicional em suas ações”, frisou Ramos, do Goldman.
Na avalição do C6 Bank, o mais provável é que o Banco Central realize uma última alta de 0,50 ponto em junho, encerrando o ciclo em 13,25%. “Mas o Copom deixou em aberto a possibilidade de manter a taxa Selic em 12,75%”, observou a equipe econômica do banco em relatório.
Já para o Bank of America, o mais provável é que o colegiado leve a Selic a 13,25% no mês que vem. “Estamos que a Selic se mantenha nesse patamar até o final do ano. Para 2023, nossa projeção para a taxa de juros é de 10,50% no final do ano”.