Quer fugir da Petrobras (PETR4)? Saiba o que esperar das concorrentes 3R Petroleum (RRRP3) e PetroRio (PRIO3)

Cenário eleitoral de 2022 gera incertezas quanto ao futuro da estatal, o que pode abrir espaço para outras petroleiras entrarem na carteira dos investidores

Foto: Shutterstock

Ter a ação da Petrobras na carteira é estar disposto a viver emoções quase diárias. Acorda-se num dia e o presidente da empresa foi demitido pelo governo. Acorda-se no outro e aquele reajuste de preços — necessário para acompanhar o mercado internacional — é barrado por Brasília. Sem falar nas eleições, que estão batendo na porta.

Nas últimas semanas, o vaivém político em torno da companhia foi tão intenso que até limitou os ganhos que a ação da estatal poderia ter com a valorização do petróleo, que já estava em alta desde o início do ano e disparou após o início da guerra entre Ucrânia e Rússia.

Quem não tem nada com isso são 3R Petroleum e PetroRio, duas das principais empresas de petróleo do setor privado do país, que têm conseguido se beneficiar do avanço do preço da commodity.

Desde o início do conflito, o preço do barril de petróleo tipo Brent supera os US$ 100, chegando a bater US$ 139 no começo de março, enquanto a média de preço no ano passado foi de US$ 71. Desde o primeiro pregão do ano, a ação da 3R acumula valorização de 29,25% e a da PetroRio, de 16,12%. Já a Petrobras, após oscilações durante as indefinições sobre o comando da empresa, teve avanço de 17,02%.

O investidor que está em busca de dias mais tranquilos em 2022, sem ter de ler tanto o noticiário político para entender o futuro da empresa na qual investe, pode preferir aportar seu dinheiro em uma das duas empresas privadas.

Não seriam más escolhas, pelo menos segundo os analistas que as acompanham. De acordo com levantamento feito pela Refinitiv e disponível na plataforma do TradeMap, todos os analistas do mercado recomendam a compra de 3R ou PetroRio. Mas há alguma que seja melhor?

Segundo analistas ouvidos pela Agência TradeMap, a 3R é a que apresenta mais potencial de valorização. Para João Abdouni, analista da INV, a petroleira possui uma perspectiva de crescimento interessante e vê espaço para as ações subirem, enquanto a PetroRio já está “bem precificada”.

Vale o mesmo para Matheus Spiess, analista da Empiricus,  que considera que a PetroRio está “cara”, enquanto vê a concorrente com bons olhos.

Tanto Spiess quanto Abdouni levam em consideração um múltiplo chamado EV/Ebitda, que basicamente se resume a um indicador que divide o valor de mercado da empresa (pelo critério de enterprise value, que inclui as dívidas da companhia) pelo Ebitda (o lucro antes dos juros, impostos, amortização e depreciação).

Assim, é possível saber em quantos anos a companhia consegue “se pagar”. Quanto menor o tempo, mais barata a empresa é. Nesse conceito, o EV/Ebitda da 3R é de 2,2 vezes, enquanto o da PetroRio é de 4,6 vezes. Com os números projetados para 2022, o múltiplo da primeira ficaria em 3,41 vezes, enquanto o da segunda em 4,64 vezes.

Recomendações para a 3R Petroleum

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

“Nós gostamos bastante de 3R pois estamos estamos construtivos com o setor de commodities pois ainda entendemos que existe um espaço para crescer. Mesmo antes da guerra, já estávamos otimistas por conta do gap entre oferta e demanda esperada para esse ano”, afirma Spiess.

Na visão dele, o mercado já estava animado com investimentos ligados a commodities desde o início do ano, em razão do aumento da demanda em um momento de recuperação econômica ocasionada pelo arrefecimento da pandemia. Dessa forma, o conflito no Leste Europeu só acentuou esses ganhos já esperados.

Recomendações para PetroRio

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

“Se o petróleo não cair muito, e continuar nessa faixa dos US$ 100, essas empresas continuarão rentáveis e interessantes. Principalmente as menores, como 3R”, afirma Abdouni, da INV. 

Em 2021, a 3R alcançou um lucro líquido de R$ 16 milhões, e reverteu prejuízo de R$ 276,5 milhões em 2020. Já a PetroRio fechou o ano passado com lucro líquido de R$ 1,329 bilhão, crescimento de 152% em relação ao número alcançado em 2020.

A XP Investimentos também está animada com a 3R Petroleum. Tanto é que, no dia 5 de abril, iniciou sua cobertura na empresa com uma recomendação de compra para os investidores.

No relatório, a corretora cita que a 3R tem um grande potencial após a aquisição de diversos campos vendidos pela Petrobras, tornando-se a “maior player júnior do Brasil”. Desde o início de 2021, a 3R adquiriu quatro participações em campos da estatal, além de uma participação em um campo da Galp e da Duna Energia.

O BTG Pactual é outra instituição otimista com as ações de 3R e PetroRio. Em relatório publicado no dia 9 de março, o banco disse que a PetroRio é “uma das melhores opções em nossa cobertura para aproveitar o momento do preço do petróleo, alinhando o crescimento da produção e as oportunidades inorgânicas”.

Eles avaliam que desde dezembro a PetroRio acumula bons níveis de crescimento na produção, reforçando sua tendência de alta para o ano e melhor eficiência operacional. “Vemos assim finalmente a empresa operar no que acreditamos ser um nível de produção mais normalizado”, afirma o BTG.

A 3R, contudo, é a principal escolha do BTG para o setor em 2022. O banco vislumbra uma “recompensa de risco atraente para surfar o momento do preço do petróleo”, conforme escreveram os analistas.

Além disso, destacam que os polos adquiridos pela 3R no ano passado podem impulsionar os resultados da empresa neste ano, como já podem ser vistos nas prévias operacionais. No começo do ano, a 3R adquiriu o Polo Potiguar da Petrobras, local que produz por dia cerca de 23 mil barris de óleo e 96 mil metros cúbicos de gás natural.

Em fevereiro, por exemplo, a companhia registrou uma produção média diária total de 9.176 barris de óleo equivalente por dia (boed). O número é 67% maior que o anotado no mesmo mês de 2021, quando a empresa obteve uma média de 5.466 boed.

Para Viviane Vieira, operadora de renda variável da B.Side Investimentos, o risco político relacionado à Petrobras joga a favor das companhias privadas não só por causa das recorrentes trocas de comando na estatal, mas também por possíveis interferências nos preços dos combustíveis, que podem comprometer a operação da empresa.

“Esse é um ponto negativo para a empresa que nós já vemos há bastante tempo, e é algo que não acontece com 3R e PetroRio, que operam com o preço internacional, sem esses riscos”, afirma Vieira.

Petrobras: boa demais para ignorar

Por mais que a Petrobras apresente um risco relacionado a incertezas eleitorais, não significa que seja um ativo para jogar fora. Muito pelo contrário. No quarto trimestre de 2021, por exemplo, a Petrobras pagou cerca de R$ 37,3 bilhões em dividendos, o equivalente a R$ 2,86 por ação.

“Ainda que a questão eleitoral esteja ‘embolada’, se a Petrobras continuar sendo gerida da forma como é agora, deve continuar pagando dividendos muito altos. Com isso, vale a pena correr o risco”, diz Abdouni, da INV.

Em um relatório publicado na semana passada pelo Goldman Sachs, os analistas da instituição estimam que a estatal pode pagar até US$ 10 bilhões em dividendos adicionais para seus acionistas. O valor de fato deve ser anunciado junto com os resultados do primeiro trimestre.

Segundo o banco, o aumento do preço do petróleo do tipo Brent (que serve como referência no mercado internacional) é um fator que pode impulsionar os números da estatal.

“Apesar do risco político, quando olhamos a ponta mais positiva, destaca-se um grande potencial operacional que a companhia tem e sempre teve. A Petrobras entrega uma execução muito boa e gera um ótimo retorno no pagamento de proventos e dividendos”, afirma o sócio e operador da mesa de renda variável da Venice Investimentos, Armstrong Hashimoto.

 

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