A Qualicorp (QUAL3), conhecida por oferecer planos de saúde por adesão coletiva, fechou o ano de 2021 com resultados pouco animadores, balanço divulgado na noite de terça-feira (29).
Embora a receita líquida tenha crescido 1,2% no quarto trimestre em relação a igual período do ano anterior, o lucro líquido teve recuo de 25,2% no mesmo tipo de comparação.
Não por acaso, a ação da Qualicorp teve a maior queda do dia entre as companhias que fazem do Ibovespa, com recuo de 5,99%.
Em teleconferência com analistas nesta quarta-feira (30), o CEO da companhia, Bruno Blatt, ressaltou que o negócio foi afetado principalmente pela conjuntura macroeconômica, com o aumento dos juros e poder de compra reduzido das famílias.
A piora da conjuntura macroeconômica se refletiu em perda de clientes, com um total de 624,3 mil cancelamentos em 2021, crescimento 75,8% em relação a 2020. No quarto trimestre, houve aumento de 94,9%.
O aumento dos cancelamentos ocorreu principalmente porque os planos passaram a pesar mais no bolso do consumidor. Além do reajuste de preços que tem ocorrido em 2021, os clientes estão sentindo o impacto dos reajustes que foram suspensos em 2020, por causa da pandemia, e estão sendo aplicados neste ano.
Não à toa, o principal motivo para os cancelamentos foi o atraso no pagamento por parte dos clientes. Segundo um estudo feito pela empresa, 90% dos clientes que saem vão para a saúde pública.
A empresa, contudo, destacou que o número de cancelamentos já está diminuindo no início deste ano, mas ponderou que ainda não se encontra em nível satisfatório. “A taxa de inadimplência está diminuindo, mas ainda é um vilão”, disse Elton Hugo Corluci, vice-presidente comercial da empresa.
Em um outro sinal de melhora, a empresa bateu recorde histórico de vendas, com 514 mil novas vidas adicionadas no portfólio de adesão médico-hospitalar em 2021, um crescimento de 56,4% em relação ao ano anterior.
Por outro lado, o investimento na aquisição de novos clientes tende a reduzir as margens. A margem Ebitda ajustada não passou ilesa pelo ano e sofreu redução de 2,8 pontos percentuais em relação a 2020.
Segundo Frederico Oldani, CFO da empresa, os gastos não recorrentes e a alta na inflação foram fatores que influenciaram a redução da margem Ebitda no ano.
Porém, na comparação dos últimos trimestres de cada ano, nota-se um aumento de 6,1 p.p., para 50%.
Outro ponto citado pela empresa na teleconferência foi aumento das despesas financeiras, fruto da atualização nos valores do contrato de opções de compra das empresas Plural e Uniconsult e da alta na taxa de juros, uma vez que 100% das dívidas da companhia estão atreladas ao CDI.
A dívida líquida da empresa cresceu 109% em 2021, em comparação ao ano posterior. O acréscimo nas dívidas resultou em uma alavancagem de 1,45x, 77,2% superior a 2020.
Para 2022, a empresa ainda tem de conviver com o fantasma dos juros, que aumentam o custo das dívidas e afetam o bolso do consumidor, favorecendo a inadimplência, o grande vilão a ser enfrentado no ano.
A Selic, que saiu de 2% ao ano para 11,75%, deve subir ainda mais. Segundo projeções do boletim Focus, do Banco Central (BC), a taxa básica de juros deve terminar o ano a 13%.
Por outro lado, a companhia deverá ter um alívio pelo lado da pandemia, que dá sinais de arrefecimento e deve gerar uma diminuição na sinistralidade para as seguradoras de saúde.
Por meio de dados compilados pela Refinitiv e retirados da plataforma TradeMap, a recomendação da maioria dos analistas é de manutenção do ativo na carteira. Dos 9 analistas representados na plataforma, cinco indicam manutenção, três recomendam compra e há apenas uma recomendação para venda.
Com a recomendação dos analistas, o preço-alvo mediano para o papel é de R$ 26,00, com valorização potencial de 61,99%.