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Inflação e desemprego elevados fazem consumidor recorrer a crédito mais caro

BC muda forma de cálculo do endividamento do brasileiro

Maeli Prado

Maeli Prado

A inflação e o desemprego em patamares ainda elevado e o aumento da taxa de juros estão se refletindo na concessão de crédito do país, em especial para as pessoas físicas. Os consumidores estão buscando cada vez mais créditos emergenciais, que são aqueles adquiridos facilmente, como o cheque especial e o cartão.

Dados do Banco Central mostram que as concessões de crédito em novembro somaram R$ 445 bilhões, uma alta de 4,5% na comparação com o mês anterior e de 16,2% em 12 meses.

No entanto, quando se olha no detalhe, é possível verificar que as concessões ficaram concentradas nas linhas de fácil acesso, em detrimento daquelas que servem para a construção de um patrimônio, como o crédito imobiliário.

O consignado, um dos créditos mais baratos entre as linhas disponíveis para pessoas físicas, registra uma queda nas concessões de 6,4% no mês e estável em 12 meses. No caso do crédito imobiliário com taxas de mercado, o recuo mensal é de 7,2%. A queda mostra uma reversão na comparação com os meses anteriores, quando essa linha apresentou avanços significativos.

De acordo com a economista Isabela Tavares, da consultoria Tendências, os novos empréstimos para pessoas físicas vêm mostrando retração nos últimos meses, com exceção do chamado crédito emergencial. Ou seja, as modalidades com taxas maiores, como cheque especial (129,6% ao ano), cartão de crédito rotativo (346% ao ano) e o parcelado (167,5% ao ano).

Essa mudança no tipo de linha que é demandada pelo consumidor ocorre em um momento de alta dos juros. A taxa Selic está em 9,25% ao ano e deve atingir dois dígitos em 2022. A elevação da taxa básica se reflete em todas as linhas de crédito. Além do dinheiro mais caro, os brasileiros também lidam com a inflação (o IPCA nos 12 meses encerrados em novembro está em 10,74%) e desemprego elevado (12,9 milhões de desempregados).

Maior uso das linhas caras

Essas linhas, embora caras, mostraram expansão nas concessões em novembro. No cheque especial, o total foi de R$ 34,2 bilhões, uma alta de 11,5% na comparação com outubro e de 8,1% em 12 meses. Já o crédito concedido pelo rotativo do cartão de crédito, que é quando o consumidor paga só uma parte da fatura e deixa o restante para o mês seguinte, chegou a R$ 23,452 bilhões, 8,7% de aumento no mês e de 15,6% em 12 meses.

Dados do BC mostram que, somadas, essas categorias, incluindo o parcelado no cartão, representaram no mês passado 32% do total dos novos empréstimos, o maior patamar desde maio de 2020, no primeiro momento da pandemia de coronavírus.

“É um crédito pior, com taxas de juros elevadas, como cheque especial, o rotativo e inclusive o parcelado, que também não fica para trás nos juros altos”, aponta Tavares, da Tendências.

“Isso reflete a própria situação da economia, com o mercado de trabalho lento e pressão inflacionária, que acabam fazendo com que as famílias precisem desses empréstimos de emergência.”

Na avaliação da economista, esse é um alerta para a chance de os calotes subirem mais para a frente. “A inadimplência ainda está bem controlada, mas essa alta no crédito emergencial acende uma luz vermelha para os próximos meses”, pondera.

Quando se olha para todo o sistema financeiro, a inadimplência ainda está controlada. Os atrasos acima de 90 dias representam 2,3% da carteira de crédito total do país, estável na comparação com outubro e alta de apenas 0,1 ponto percentual na comparação com novembro de 2020.

Mas, em algumas linhas de crédito, já é possível ver a piora da qualidade de pagamentos. Nos parcelamentos de cartão, a inadimplência entre as pessoas físicas está em 6%, crescimento de 0,3 ponto percentual em relação a outubro e de 0,5 ponto em 12 meses.

No cheque especial, a inadimplência é de 10,1%, um aumento de 0,4 ponto percentual no mês Por outro lado, houve queda de 2,6 pontos em 12 meses.

O BC também mostra um aumento dos atrasos no financiamento de veículos. A taxa de inadimplência dessa modalidade é de 3,7%, número que indica uma alta de 0,2 ponto percentual na comparação com o mês anterior e de 0,7 ponto em relação a novembro de 2020.

Recorde de endividamento

O cenário macroeconômico faz com que os consumidores recorram mais ao crédito fácil para quitar necessidades do dia a dia, como fazer parcelamento das compras do mês no supermercado. Isso tem efeito sobre o nível de endividamento.

No entanto, o BC promoveu nesse mês uma mudança na série que calcula o endividamento, que é o quanto da renda de uma família está comprometida com dívidas. Segundo a autarquia, passou a ser adotado o conceito de Renda Nacional Disponível Bruta das Famílias (RNDBF), que substitui a Massa Salarial Ampliada Disponível (MSAD).

A RNDBF considera a renda extra recebida pelos consumidores, como o saque emergencial do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), em 2019, e o auxílio emergencial, pago em 2020 e 2021.

Na nova série, o endividamento das famílias em setembro (último dado disponível) chegou a 49,4%, uma alta de 0,7 ponto percentual em relação a agosto e 8,1 pontos percentuais em comparação a agosto de 2020. Esse indicador significa que, da renda bruta das famílias recebida em 12 meses, uma fatia de 49,4% foi destinada ao pagamento de dívidas, o que é recorde dentro dessa nova metodologia. Na série anterior, o endividamento estava em 59,9% em agosto, que também foi um patamar inédito.

 

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