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Virada de chave: Bancões e fintechs chegam ao universo dos criptoativos

Demanda de clientes e disseminação de novas tecnologias levam instituições a oferecerem opções no mercado digital

Foto: Shutterstock

A despeito do clima pouco favorável para opções de risco em 2022, grandes nomes do mercado financeiro se lançaram no universo de ativos digitais nos últimos meses, com projetos que vão desde a negociação direta de criptomoedas até soluções de investimentos pautados na tecnologia de blockchain.

A adesão aos criptoativos promovida por bancos mais tradicionais, como BTG Pactual, Itaú e Santander, além da fintech Nubank e da XP Inc., mostra uma virada de chave na mentalidade do “mercado tradicional” para uma área de investimento que até pouco tempo atrás ainda era vista com grande desconfiança.

Segundo executivos e gestores, o que está por trás da mudança de perspectiva é o crescente interesse dos clientes no mercado de criptoativos, que pela falta de opções das grandes instituições, acabam entrando nesse mercado por meio de outras plataformas.

E o movimento é embasado por números: 86% dos brasileiros gostariam que funções em criptomoedas fossem oferecidas pelas suas instituições financeiras, segundo pesquisa da rede de cartões Mastercard divulgada no mês passado.

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Foi justamente o aumento da demanda que levou a XP de volta à seara dos criptoativos com a Xtage, plataforma que permite a compra e venda de criptomoedas pelos clientes – a companhia já havia se lançado no ramo com a Xdex, que operou entre 2018 e 2020.

Lançada em julho, a operação já conta com 30 mil clientes selecionados, número que pode chegar a 1 milhão até o fim de agosto, quando o serviço deve ser liberado para toda base de clientes elegíveis, ou seja, os que afirmaram que estão mais dispostos a se expor em investimentos de risco.

Segundo Lucas Rabechini, diretor de produtos financeiros da XP, pesquisas internas mostraram que 88% dos clientes que operam criptomoedas por outras plataformas afirmaram que gostariam de fazer as transações através da fintech.

“Vem muito da necessidade do cliente, somado ao que nós achamos da disrupção que essa tecnologia atrai”, afirma.

No mesmo caminho, o Nubank lançou no mês passado a sua própria plataforma exchange. Em menos de um mês de operação, o Nubank Cripto já soma mais de 1 milhão de usuários, surpreendendo as previsões mais otimistas do banco digital.

Thomaz Fortes, líder de cripto do Nubank, ressaltou que a forte adesão indica haver uma grande demanda a ser preenchida pela instituição. 

“Queremos ajudar pessoas que já consideram as criptomoedas como uma oportunidade financeira, mas que enfrentam dificuldades e complexidade para avançar nesta jornada”, diz. 

Bancões também entram na onda

Com uma proposta diferente, o Itaú estreou em julho a área de Digital Assets, focada na tokenização de investimentos. Em uma definição simplificada, um token representa um ativo do mundo real.

Os investimentos em risco sacado, uma forma de renda fixa privada onde se negocia contratos de recebíveis, integram o primeiro passo do projeto, que pode ser expandido para outras áreas, como opções do agronegócio e do mercado imobiliário.

No momento, o programa está restrito a 20 funcionários do banco. Segundo Vanessa Fernandes, global head da Itaú Digital Assets, a expectativa é expandir o projeto para outra parcela de clientes até o fim do ano. A exposição de toda a base de correntistas está prevista apenas para depois de 2023.

Assim como os projetos de exchanges das fintechs, o papel da nova área também responde a uma demanda reprimida dos investidores. “Queremos atender o cliente que está saindo da estrutura do banco e buscando em outros mercados”, afirma a executiva.

O BTG Pactual é outro exemplo de uma instituição mais enraizada no mercado tradicional que lançou um modelo de exchange com a plataforma Mynt.

Sem revelar o número de usuários cadastrados, André Portilho, head de Digital Assets do BTG Pactual, diz que o novo empreendimento busca olhar com mais atenção os investidores de criptoativos.

“A experiência do usuário no mundo cripto ainda é muito deficiente e a Mynt veio para mudar esse cenário”, diz.

Quem também está de olho no aumento de interesses dos usuários por ativos criptos é o Santander. Segundo o CEO do banco, Mario Leão, já estão sendo gestadas iniciativas para liberar a transação de criptos para os correntistas. A mudança também passa pela exigência dos clientes para que o banco ofereça as opções.

“A gente reconhece que é um mercado que veio para ficar, e não é uma reação necessariamente a concorrentes se posicionando, é simplesmente uma visão de que o nosso cliente tem demanda por esse tipo de ativo, então a gente tem que encontrar a forma mais correta e mais educativa de fazê-lo”, disse o executivo, no final de julho, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.

Disseminação da tecnologia

Além da demanda dos clientes, a evolução da tecnologia de blockchain também se tornou um atrativo extra para a entrada das instituições no mercado cripto.

Destacando o potencial de transparência do sistema, Fernandes afirma que a tecnologia está em um processo mais maduro. “A tecnologia está robusta o suficiente e permite gerar novos produtos. Precisamos tomar muito cuidado e ver quais são as vantagens”, afirma.

A XP vê o momento de disseminação da tecnologia como uma nova janela de oportunidades. “As pessoas começam a entender mais como funciona, o propósito. E os players enxergam isso com opções de ETFs, fundos, contratos futuros e vários outros ativos vinculados as criptos”, ressalta Rabechini.

Educação dos investidores é fundamental

A oferta dos novos produtos vem acompanhada de iniciativas que eduquem o investidor, principalmente os menos experientes, no universo dos ativos digitais, tradicionalmente marcado pela alta volatilidade que pode oferecer ganhos e perdas expressivas em intervalos breves.

Segundo Rabechini, essas instruções passam desde a importância da diversificação dos investimentos até o tamanho recomendado para novos aportes.

A primeira coisa é uma preocupação em termos educacionais do cliente. Ele confiou o patrimônio para gente”, destaca. 

A instrução dos clientes também está no radar do Nubank, que disponibiliza em suas plataformas uma série de conteúdos voltados aos investidores iniciantes.

“Sabemos que a compra de criptoativos não deve e nem pode ser o primeiro passo nessa jornada, mas queremos ajudar os clientes que enxerguem cripto como uma alternativa”, afirma Fortes.

As restrições de conhecimento do universo criptografado foi um dos gargalos que o Itaú percebeu com o novo projeto. Segundo Fernandes, além da montagem de infraestrutura, a nova área de Digital Asset conversa com outros setores do banco para buscar trazer esse entendimento aos clientes.

“É mais fácil para o cliente que já investe em criptos ou em áreas de tecnologia. Mas o que queremos é chegar em outras pessoas para que elas também consigam comprar os tokens e enxergar o benefício deste tipo de investimento”, afirma.

Foco no longo prazo

O ingresso das instituições no universo cripto coincide com um momento de baixa do mercado, que no primeiro trimestre chegou a perder mais da metade da sua capitalização em meio à fuga dos investidores de ativos de risco.

Apesar de reconhecer o período delicado – que em julho já esboçou recuperação – gestores e executivos ressaltam que o foco está no longo prazo, e que as variações vistas nos últimos meses são parte inerente do mercado de ativos digitais.

“A volatilidade do mercado de ativos é comum em diferentes esferas, e isso se aplica às criptomoedas também”, afirma Fortes, do Nubank. “Queremos direcionar as expectativas de forma realista em relação ao comportamento volátil das criptomoedas”.

Com raciocínio semelhante, Rabechini, da XP, cita o crescimento do mercado de DeFi (finanças descentralizadas) nos últimos meses, a despeito da crise que o setor de criptoativos atravessava.

Para ele, os indicadores macro do mercado são sinais positivos de consolidação no futuro. “Entendemos que vai ter oscilações no curto prazo, mas isso não muda a nossa estratégia de oferecer alternativas aos clientes no longo prazo”, diz.

O Itaú mantém estudos internos para o lançamento de serviço de exchange aos correntistas, mas ainda sem data definida. O primeiro passo de tokenização dos ativos deve criar toda a infraestrutura necessária para a evolução do projeto de oferecer moedas digitas.

“Há demanda para isso, independente de a gente acreditar ou não. Depende de nós oferecermos esse serviço de uma forma segura”, diz Fernandes.

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