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Via (VIIA3) e outras três empresas lideram taxas de aluguel por mais de um ano; entenda o porquê

Cenário macroeconômico conturbado e dificuldades operacionais mantêm mercado pessimista com ações da Gol, Via, Telefônica e Qualicorp

Foto: Shutterstock/whiteMocca

No início de 2022, parte dos investidores estava pessimista com o desempenho do mercado de ações brasileiro e, em 2023, a situação não parece ser muito diferente.

Um cenário político incerto, um risco fiscal elevado e a expectativa de manutenção dos juros na casa dos dois dígitos estão entre os fatores que sustentam um viés mais cauteloso do mercado financeiro para este ano.

Nem tudo, contudo, está perdido. O investidor que decide apostar na queda de preços de ações, principalmente as mais sensíveis às variações macroeconômicas, como de varejo, e as de alto endividamento pode se sair bem.

De acordo com dados compilados pelo TradeMap, companhias como Gol (GOLL4), Via (VIIA3), Telefônica (VIVT3) e Qualicorp (QUAL3) detinham as maiores taxas de aluguel no universo do Ibovespa no fim de 2021, e seguem na liderança em 2023. Esses papéis renderam bons frutos para quem previu sua queda, com um recuo das quatro ações ao longo de 2022, com destaque para Qualicorp (-65%).

Das quatro companhias que marcam presença tanto no ranking do fim de 2021 quanto no do início de 2023, a Gol é a única cuja taxa de aluguel foi reduzida, mas o percentual de ações alugadas da companhia aérea em relação ao total em circulação (free float) cresceu, de 2,8% para 3,9%.

O setor de varejo de eletrodomésticos se destaca nos dados de aluguel de 2023, com as gigantes Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3). A Americanas só não está nesta lista, pois sua ação foi excluída do Ibovespa em meio à crise contábil.

Santander lidera ranking de 2023

Santander (SANB11) assumiu o posto da primeira colocação deste ano, com taxa de aluguel de 26,3%, após sua rentabilidade e seu lucro ficarem abaixo das expectativas do mercado nos últimos resultados trimestrais.

O ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido), indicador que mede a rentabilidade do banco, por exemplo, despencou de 15,3%, do terceiro trimestre, para 8,3%, ao fim de dezembro.

Além disso, o caso Americanas pode alimentar um pessimismo com o banco, que é um dos maiores credores da varejista, com cerca de R$ 3,5 bilhões em dívidas a receber.

Aposta contra Gol, Via, Telefônica e Qualicorp

O quarteto que se repete ano a ano na lista das maiores taxas de aluguel encara diferentes desafios para ver o sol brilhar em 2023.

Gol

A companhia aérea depende que diferentes variáveis, como câmbio, juros e custo do combustível, entrem na linha para que os resultados sejam positivos.

A situação financeira atual da companhia não é lá das melhores. A Gol apresenta uma alavancagem, representada pela dívida líquida sobre o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), acumulada nos últimos 12 meses de 12,9 vezes.

Isso quer dizer que o risco de a companhia não honrar dívidas é maior que o de concorrentes como a Azul, com alavancagem financeira de 5,7 vezes.

Para se ter uma ideia, o Ebitda gerado pela Gol entre outubro de 2021 e setembro de 2022 não seria suficiente para a aérea arcar nem com as despesas com juros do período.

No entanto, uma desvalorização do dólar beneficiaria a companhia tanto com aumento na demanda por viagens internacionais quanto com menor custo, dado que mais da metade dos custos são dolarizados, segundo a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas).

Telefônica

A Telefônica, dona da Vivo, é a única companhia considerada defensiva entre as quatro que se repetem nas listas de maiores taxas de aluguéis.

Ações defensivas são mais resilientes em momentos de crise, portanto, os preços são menos voláteis, o que implica um maior risco para quem aposta contra o papel, uma vez que o retorno pode não ser dos maiores.

No entanto, por trás do pessimismo do mercado podem estar os juros elevados e a maior inflação dos custos, em comparação com os reajustes nos preços dos produtos. Um aumento agressivo nos preços dos serviços oferecidos pela operadora poderia gerar menor demanda e, consequentemente, prejudicar as receitas no ano.

Via

Além dos problemas macro que afetam o varejo de eletrodoméstico como um todo, a Via, dona das Casas Bahia, tem problemas operacionais preocupantes.

Um deles é o baixo valor de caixa de R$ 3,9 bilhões, inferior ao de pares como Magalu e Mercado Livre, de R$ 9 bilhões e R$ 22,5 bilhões, respectivamente.

Um caixa robusto é essencial para operações de varejo que demandam alto investimento em capital de giro. Diante de crises econômicas, é importante uma empresa ter um caixa confortável, para enfrentar as adversidades do período.

Além disso, para ganhar espaço no mercado, é essencial realizar investimentos em expansão em lojas próprias ou aquisições de terceiros. E, para isso, é necessário desembolsar caixa, o que poderia demandar uma oferta subsequente de ações (follow-on) ou a capação de dívidas com terceiros.

Vale ressaltar que a Via realizou um follow on em junho de 2020 e captou cerca de R$ 4,5 bilhões. No entanto, a ação foi precificada a R$ 15 e, no fechamento desta quinta-feira (09), estava cotada a R$ 2,11. Portanto, se voltasse a utilizar essa estratégia, a captação de recursos seria bem inferior à de 2020.

Qualicorp

A Qualicorp, que oferece planos de saúde, tem enfrentado dificuldades desde o fim de 2020, quando houve o arrefecimento da pandemia.

Naquele período, as taxas de sinistralidade se elevaram expressivamente, aumentando os custos da companhia. A sinistralidade é a relação entre a quantidade de procedimentos feitos pelos beneficiários (sinistros) e o valor pago por eles à operadora (prêmio).

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Apesar de ter elevado os preços dos planos de saúde para responder à alta sinistralidade, a companhia tem perdido beneficiários e rentabilidade.

A companhia viu 400,3 mil beneficiários do segmento Médico-Hospitalar cancelarem os planos de janeiro até setembro de 2022, ou 33,9% do total de beneficiários que iniciaram o ano passado em seu portfólio. O movimento ocorre porque preços mais altos levam ao cancelamento de assinaturas. Outro motivo para a saída desses beneficiários está na apertada competitividade do setor.

Esses são alguns dos principais desafios da companhia para 2023, que busca formas de captar beneficiários em maior proporção que as saídas.

Aluguel de ações: o que está em jogo?

O aluguel de ações é a etapa inicial da venda a descoberto. Nesse tipo de operação, o objetivo é lucrar com a queda no preço dos papéis. Numa venda a descoberto, o investidor aluga as ações de outra pessoa, vende os ativos no mercado e depois recompra as ações na Bolsa para devolvê-las.

A taxa de aluguel das ações é um dos custos envolvidos nessa operação e, quando ela aumenta, a lucratividade do investidor que vende a descoberto diminui.

Nesse tipo de operação o risco do investidor é o preço subir, em vez de cair. Nesse caso, seria necessário recomprar o papel para devolver ao doador a um valor que pode ser exponencialmente acima do preço de compra da ação, resultando em perdas incalculáveis.

Essa estratégia demanda um elevado nível de conhecimento e experiência dos investidores, devido ao alto risco envolvido na operação.

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