Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Vamos (VAMO3) já deve se preocupar com maior concorrência em locação de caminhões e máquinas?

Companhia leva vantagem na largada da corrida por fatia de mercado, mas parceria entre Gerdau e Randon pode ser uma pedra no caminho

Foto: Shutterstock

A entrada de novos players na área de locação de caminhões, máquinas e equipamentos indica uma oportunidade no mercado diante de um setor ainda pouco penetrado.

Desde a greve dos caminhoneiros em 2018, a locação desses veículos vem ganhando espaço no mercado. Além disso, a mudança cultural após pandemia e transformações tecnológicas serviram como combustível para impulsionar o setor.

Vamos (VAMO3), empresa líder em aluguéis de caminhões, também atuante no segmento de máquinas e equipamentos, viu a receita crescer 317% entre 2017 a 2021. Isto representa uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 33%.

De janeiro a junho deste ano, a empresa já havia registrado receita líquida de R$ 2,1 bilhões, avanço de 81% em comparação com mesmo período de 2021. Este valor representa 76% da receita total obtida pela companhia em todo o ano de 2021.

Gustavo Couto, CEO da companhia, disse, em entrevista ao Infomoney, que cerca de 25% dos caminhões em uso nos Estados Unidos e na Europa, a depender do país, são alugados, enquanto no Brasil essa parcela é de apenas 1%.  

De acordo com levantamento feito pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), com dados do Cadastro Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) registrados nos últimos quatro anos, houve um aumento expressivo entre 2018 e 2021 no setor, principalmente no segmento de veículos para meio de transporte.

Diante de um mercado altamente fragmentado e de baixa penetração, não só no segmento de caminhões, mas também no de máquinas e equipamentos, gigantes nacionais e multinacionais resolveram entrar no jogo do mercado brasileiro.

Novas entrantes

Randon (RAPT4) e a Gerdau (GGBR3), fecharam, em setembro, uma parceria para criar uma empresa de serviços de locação de caminhões e semirreboques, a NewCo.

A nova empresa deve começar a operar com um investimento de R$ 250 milhões. O valor será bancado igualmente pelas duas sócias. Mais adiante, a empresa pretende adicionar ao portfólio máquinas e equipamentos para construção civil e agronegócio.

Leia Mais:
Joint-venture entre Randon (RAPT4) e Gerdau (GGBR4) mira oceano azul no Brasil

A entrada em um novo setor permite que tanto a Randon quanto a Gerdau reduzam riscos da ciclicidade das principais operações, além de o segmento de locação permitir margens mais robustas. Ou seja, as duas empresas devem ver impulso na rentabilidade.

Em julho, outra empresa que entrou no jogo foi a Mills (MILS3) que já atua no ramo com serviços de locação de plataformas elevatórias e escoramentos para construção civil.

Neste ano, a companhia passou a participar do segmento da chamada linha amarela –  relativa a máquinas para construção civil, como retroescavadeiras e tratores, entre outros – por meio da aquisição da Triengel. O investimento geral esperado no segmento gira em torno de R$ 360 milhõe, incluindo os R$ 133,7 milhões referentes à compra da empresa.

Esse movimento amplia o leque de produtos oferecidos pela empresa, o que deve refletir em maiores receitas e menores risco operacionais devido à diversificação do portfólio.

Fora das empresas listadas na bolsa, a Ouro Verde, controlada pelo fundo de investimento canadense Brookfield, começou, no início deste mês, a oferecer os serviços de locação de caminhões, máquinas e equipamentos no Brasil por meio da incorporação da locadora Unidas.

A Vamos domina o mercado de locação de caminhões no Brasil, com 80% do market share, mas o segmento ainda é pouco desenvolvido no país. Isso favorece a competição – já que novas empresas têm espaço para iniciar operação – e permite que essas entrantes possam se consolidar em um mercado ainda pouco explorado.

Quem sai na frente?

O início da atuação da Vamos em serviços de locação de caminhões ocorreu em 1990. Ou seja, a empresa possui operações estruturadas e bastante conhecimento do segmento, enquanto as outras ainda estão iniciando a jornada.

Isso leva a companhia a largar na frente das demais devido à variedade de produtos e soluções que concede uma escala de negócios bem a frente das novas entrantes. Algo que seria desafiador para as outras empresas alcançarem, pelo menos no curto prazo.

Além disso, a companhia já que é o principal player do setor de caminhões e conta com aproximadamente de 33,9 mil ativos, sendo 27,2 mil caminhões e 6,7 mil máquinas e equipamentos.

Enquanto o valor investido na NewCo, de R$ 250 milhões, mais um possível investimento de R$ 833 milhões futuramente, possibilitaria a aquisição de 2,9 mil caminhões e reboques, o que não chegaria a equivaler nem 10% da frota total da Vamos, segundo cálculos do Bradesco BBI.

A NewCo ainda deve enfrentar dificuldades operacionais no curto prazo, porque esse é um segmento novo para a Randon e a Gerdau. A companhia precisará estruturar a operação e entender como funciona o mercado, e isso pode levar um tempo.

Já a Mills pode levar certa vantagem por não entrar na briga de locação de caminhões e focar o segmento de linha amarela. A competitividade nesta área é mais equilibrada, já que o segmento é mais fragmentado, sem uma empresa dominante no mercado. A companhia oferece também serviços de locação de plataformas elevatórias e de formas e escoramentos.

Além disso, a Mills já tem experiência na área de serviços de locação para o setor de construção civil, além de possuir contratos já existentes que devem facilitar a oferta dos novos produtos.

Esses contratos podem servir para a companhia captar clientes sem a necessidade de investimentos em propaganda e marketing, o que reduz o custo de captação de clientes e, consequentemente, amplia a rentabilidade.

Além disso, a empresa já apresenta uma receita diversificada por setor e amplia ainda mais o portfólio de produtos, o que deve ser benéfico para reduzir a dependência da demanda de produtos específicos.

Nasce uma gigante?

A Newco, por outro lado, tem o suporte de conhecimento pelo lado da Randon, que já atua na área de reboques e semirreboques, e o suporte financeiro por parte da Gerdau, uma gigante da bolsa de valores.

Por ser um segmento pouco desenvolvido, há necessidade de mais investimentos com pesquisas, tecnologias para expansão e aquisições de novos equipamentos para atender a demanda.

Isso porque este é um setor altamente intensivo de capital, ou seja, o segmento demanda investimentos mais robustos, já que o caminhão oferecido para locação tem um preço médio elevado.

Portanto, empresas de maior valor de mercado tem acesso à créditos com valores mais altos e juros mais atrativos. Isto, portanto, permitiria uma expansão mais rápida e maior facilidade para consolidação no segmento.

Além disso, o fato de a Gerdau e a Randon serem fortes geradoras de caixa, favorece a expansão dos negócios por meio de aquisições, uma vez que o mercado é fragmentado com players de pequeno e médio porte.

O segmento, pouco desenvolvido, necessita de mais investimentos, portanto, os players precisam captar maior volume de recursos para acompanhar a demanda e o crescimento do setor.

Diante disso, players de menor porte podem apresentar dificuldades para honrar dívidas, porque o acesso ao crédito é mais limitado e os juros são mais altos devido ao risco se comparado às grandes corporações.

Nestes casos, as empresas com maiores VM (valor de mercado) e potencial de geração de caixa poderiam se beneficiar de duas principais situações.

A aquisição de empresas menores com preços mais atrativos ou de empresas com alto potencial de crescimento e melhores retornos no longo prazo é possibilidade vantajosa para as companhias mais bem estruturadas expandirem os negócios e se consolidarem cada vez mais no mercado.

Em abril, por exemplo, a Vamos anunciou a aquisição da Truckvan, empresa de implementos rodoviários, por R$ 84 milhões, reforçando sua posição de destaque no segmento de caminhões, máquinas e equipamentos.

No caso da NewCo o crescimento depende dos resultados da sinergia e amadurecimento da empresa, que ainda está em fase inicial, e do quanto as controladoras, Gerdau e Randon, estarão dispostas a investir no novo segmento.

Ainda é cedo para falar, mas a Vamos pode estar prestes a enfrentar um grande concorrente no futuro.

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.