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Se Lula ganhar, será bom para a Bolsa em um primeiro momento, diz Stuhlberger

O petista, porém, terá a difícil missão de conciliar aumento de gastos com equilíbrio fiscal, acredita o gestor

Foto: Shutterstock

O sócio e gestor da Verde Asset, Luis Stuhlberger, acredita que uma eventual vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai ser boa para a Bolsa em um primeiro momento, mas depois o ex-presidente vai ter que lidar com a difícil missão de conciliar o aumento de gastos com equilíbrio fiscal.

“Acredito que ele [Lula] não será radical em um primeiro momento, mas depois vai ser difícil”, disse Stuhlberger durante o Congresso MKBR22, promovido por B3 e Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

O gestor afirma que as empresas brasileiras negociam com desconto na Bolsa em relação a seus pares estrangeiros e que, dado o cenário pior para outros emergentes como a Rússia e China, o Brasil tem capacidade de atrair investimentos estrangeiros se houver um aceno moderado do governo do PT e uma melhora nas questões ambientais e das relações internacionais.

Mas para atrair o investidor estrangeiro, o Brasil terá que passar por uma simplificação tributária, ele defende.

O gestor da Verde vê espaço para um avanço da reforma tributária em um primeiro momento de um governo petista, mas acredita que ele  terá que enfrentar algumas resistências como ao aumento da tributação do setor de serviços e do que ele chama de “vacas sagradas”, áreas que contam com muita resistência para aumentar a tributação, como na zona franca de Manaus ou no agronegócio.

“Eu acredito piamente que ela [reforma tributária] vai ser feita ano que vem caso o Lula ganhe a eleição”, diz Stuhlberger.

Mas o gestor vê o risco de o governo do PT retomar investimentos públicos que, segundo ele, foram mal feitos em governos petistas passados, como a ampliação do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil).

“A prioridade do PT é refazer o Fies, mas a necessidade do Brasil é melhorar o ensino básico, fundamental e médio”, diz Stuhlberger.

Para Pedro Parente, cofundador e sócio da eB Capital e ex-presidente da Petrobras e BRF, o Brasil vive oportunidade única, podendo ser o país emergente de escolha dos investimentos internacionais dado o cenário mais complicado para investimentos na China.

“Vejo que se houver competência do governo que entrar, temos oportunidade de recuperar a atratividade como país emergente de escolha dos investidores internacionais”, diz Parente, que já teve passagens pelo governo.

Parente vê uma grande oportunidade de crescimento para o agronegócio brasileiro no médio e longo prazo com o aumento da demanda por alimentos diante do crescimento da população mundial e da urbanização.

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Para ele, o temor do setor de uma eventual vitória de Lula e preferência pelo atual presidente Jair Bolsonaro (PL) é por uma preocupação com uma volta da instabilidade no campo, com invasões de propriedades produtivas, diz Parente.

Parente vê grande potencial de investimentos no Brasil, especialmente na área de ESG (com foco em questões ambientais, sociais e de governança). A eB Capital está captando novo fundo de private equity junto com o Santander para investir em empresas com foco ESG , voltadas para o crescimento sustentável que envolve áreas como reciclagem de plástico e na sáude.

Redução da taxa de juros para um dígito não será tarefa fácil

Diante da perspectiva de aumento de gastos, a queda da taxa básica de juros para o patamar de um dígito, após a interrupção do atual ciclo de alta de juros, não será uma tarefa fácil, afirma Stuhlberger.

Para Stuhlberger, a queda da inflação recente foi provocada pela diminuição de impostos, especialmente sobre os preços de energia, e isso vai gerar mais problemas mais tarde.

Segundo o gestor, há um déficit fiscal contratado para 2023 de 1,5% a 2% do PIB, e o financiamento disso, sem a regra do teto de gastos (que limita o aumento das despesas do governo à inflação do ano anterior), passa pelo aumento de impostos.

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“Vamos manter o Auxílio em R$ 600, o que deve elevar os gastos a cerca de 37% do PIB, mas a arrecadação fiscal deve ficar entre 35% e 35,3% do PIB, mais baixa que a média dos últimos anos”, diz Stuhlberger.

Segundo o gestor, essa necessidade de aumento de gasto social se deve ao fato do país não crescer. “Não temos saída para o Brasil melhorar a não ser torcer para o PIB crescer”, diz Stuhlberger.

A diferença do Brasil para outros países latino-americanos, afirma Stuhlberger, é que o Congresso brasileiro é de centro e impede um avanço de governos de extrema esquerda. Por ouro lado, há um aumento da demanda por gastos públicos.

“A gente acaba tendo tolerância com essas barbaridades porque é melhor tolerar isso do que ter esquerda latino-americana no poder como aconteceu na Argentina”, diz Stuhlberger.

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O gestor da Verde vê um aumento da pressão para ampliação de gastos com a máquina pública em caso de vitória de Lula.

“O gasto com funcionalismo [funcionários públicos] no governo Bolsonaro é o menor em 20 anos e não houve grande aumento do salário-mínimo e haverá pressão para recomposição disso”, diz.

Mas ele não acredita em uma irresponsabilidade fiscal mesmo em um governo Lula.

“[Entre] ele [Lula] ser uma esquerda raivosa ou ele querer passar para história como um estadista, acredito na segunda opção”, disse Stuhlberger.

Contudo, ele vê um dilema para um eventual governo Lula entre equilibrar um aumento da pressão da esquerda, que acredita que o Estado tem que ser o indutor do crescimento, e lidar com um Congresso com mais poder. “O poder de Arthur Lira [presidente do Congresso] é o maior que já se teve na história do Brasil e ele não vai querer perder isso”, diz Stuhlberger.

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