O investimento de R$ 1,57 bilhão que a Klabin (KLBN11) fará para a construção de uma nova unidade de produção de papelão ondulado, anunciado pela companhia na noite de quarta-feira (20), levantou preocupações de parte do mercado, que considera o valor alto demais.
Em resposta, a ação estava entre as maiores perdas do Ibovespa por volta das 12h30 desta quinta-feira (21), sendo negociada em baixa de 3,04%, a R$ 18,49.
“De acordo com nossos cálculos iniciais, o projeto não parece atrativo do ponto de vista financeiro”, afirmam Daniel Sasson, Marcelo Furlan Palhares, Edgard Pinto de Souza e Barbara Soares, analistas do Itaú BBA, em relatório distribuído na manhã de hoje.
“Esperamos reação negativa do mercado e aguardamos mais informações sobre a decisão de investimento”, disse a XP Investimentos, em relatório desta quinta assinado pelo analista Andre Vidal.
A nova planta, que recebe o nome de Projeto Figueira, terá capacidade de produção de 240 mil toneladas de papelão ondulado ao ano e deve entrar em operação no segundo trimestre de 2024. A companhia informou que irá descontinuar unidades de produção menos eficientes, de modo que o ganho líquido de capacidade da companhia será de 100 mil toneladas de papelão ondulado ao ano.
Considerando os números fornecidos pela empresa, o BBA calcula que o investimento por tonelada será de R$ 6,5 mil – valor acima da média do setor. Como exemplo, o banco destaca a aquisição dos ativos de papelão ondulado da IP pela Klabin em 2020, por R$ 1,1 mil por tonelada.
Nessa frente, a XP, que também comparou as duas transações, afirma reconhecer que a comparação não é completamente justa, uma vez que o investimento de R$ 1,1 mil por tonelada nos ativos da IP ficou abaixo da média do setor; as usinas da IP estavam depreciadas, enquanto o Projeto Figueira é uma usina totalmente nova; e a inflação de custos entre 2020 e 2022 significa gastos maiores de construção.
Os analistas do BBA calculam ainda que o projeto deve gerar entre R$ 500 milhões e R$ 600 milhões em receita ao ano, o que, considerando uma margem Ebitda de cerca de 25% e um múltiplo EV/Ebitda (relação entre o valor da firma e o lucro operacional) de 8 vezes, considerado razoável, o valor do projeto seria de R$ 1 bilhão a R$ 1,2 bilhão – inferior aos R$ 1,57 bilhão investidos.
Para além dos cálculos do BBA, o próprio posicionamento do conselho de administração da Klabin evidencia as preocupações sobre alocação de capital e o retorno financeiro do projeto, segundo a XP.
“No geral, o tom dos comentários de alguns conselheiros foi negativo, questionando não apenas o projeto em si, mas outras questões como alocação de capital e mecanismos de incentivo para a diretora”, diz a corretora, após analisar a ata da reunião.
Agora, a XP afirma aguardar mais detalhes sobre o projeto, além de mais informações sobre a decisão de investimento e o valor a ser gasto.
Mercado dividido
Apesar das preocupações de analistas da do BBA e da XP, há quem recebeu o anúncio com bons olhos.
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“Acreditamos que, por sua escala e know-how, a Klabin dispõe de vantagens competitivas para obter uma boa rentabilidade neste projeto, cuja execução comprova a confiança da empresa no que faz e sua condição financeira diferenciada, que a permite pensar em projetos robustos de expansão mesmo com os desafios inerentes a dinâmica atual de mercado”, afirmam analistas da Ativa Investimentos, em comentários ao mercado.
Para Felipe Ruppenthal e Rodrigo Diniz, da Eleven, os projetos de crescimento que a Klabin vem apresentando ao longo dos últimos anos fazem da companhia “um case de crescimento em um mercado com boas perspectivas onde a companhia possui bons diferenciais competitivos, se consolidando como líder do setor.”
Apesar do anúncio controverso, os analistas do BBA, da XP e da Eleven mantiveram suas recomendações de compra para a ação da Klabin, com preços-alvo de R$ 29, R$ 31,20 e R$ 34, respectivamente.