Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Raia Drogasil (RADL3) mira na classe média para proteger mercado e crescer no digital

Com a estagnação econômica que se espera para o Brasil em 2022, agravada por uma inflação persistentemente alta e juros que não param de subir, pode parecer intuitivo imaginar que as empresas voltadas a um público de renda mais alta serão as menos afetadas. 

Afinal de contas, são os consumidores mais ricos aqueles que sofrem menos com o desemprego, possuem reservas financeiras mais robustas e, portanto, têm mais ferramentas para driblar a inflação e manter o poder de compra. 

A Raia Drogasil, porém, líder em farmácias no país e que conta com unidades voltadas para todos os tipos de públicos, tem apostado no caminho contrário. 

A cada balanço que a empresa divulga, tem aumentado a proporção de novas farmácias abertas para os consumidores de renda média ou baixa, enquanto cai, como consequência, o ritmo de abertura de lojas destinadas ao público de renda mais alta. 

Das 191 unidades abertas pela companhia em 2021, 88% foram classificadas como “híbridas” (para um público de renda média) ou “populares” (renda mais baixa), enquanto as outras 12% foram tidas como “nobres”, para o consumidor de renda mais alta. 

O avanço é impulsionado principalmente pelas farmácias híbridas, cuja fatia, no total de novas unidades, tem crescido sem parar desde 2018. Já as populares, embora tenham tido um salto significativo entre 2018 e 2019, têm mantido uma participação estável entre as aberturas desde 2020.

Para o especialista em varejo André Pimentel, sócio e diretor da Performa Partners, por menos intuitivo que possa parecer o movimento da Raia Drogasil, trata-se de uma estratégia que faz sentido. 

Segundo ele, ainda que o público de renda maior seja mais resiliente em um crise econômica, o baque chega para todos, o que pode fazer com que esses consumidores também busquem alternativas mais baratas em outras farmácias. 

“O que a Raia Drogasil está fazendo é indo atrás das pessoas que eram atendidas pelas lojas dela e perderam capacidade econômica, possivelmente migrando para outras marcas, ou buscando farmácias independentes ou redes menores, que acabam tendo preços mais competitivos”, afirma o especialista. 

Com a maior rede de farmácias do Brasil, que conta com 2.490 unidades, a Raia Drogasil tem 14,2% de participação de mercado. Entre as concorrentes com capital aberto, o principal nome é o da Pague Menos, com uma participação de 5,7%. A Panvel, focada no Sul do país, tem na região uma fatia de 11,3%.

Um dos riscos de apostar em farmácias com preços mais competitivos, como tem feito a Raia Drogasil, é uma possível perda de margem de lucro, ainda mais em um cenário de inflação acelerada. 

No quarto trimestre do ano passado, a margem da Raia Drogasil em relação ao Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) foi de 6,5%, uma queda de 0,8 ponto percentual em relação ao nível verificado em igual período do ano anterior. 

O lucro líquido da empresa, aliás, caiu 5,7% no quarto trimestre, para R$ 187,1 milhões, em comparação a igual período do ano anterior.

Para Pimentel, porém, os preços menores podem ser neutralizados por investimentos também menores em lojas mais simples. “A empresa pode colocar menos capital para abrir a loja e fazer um mix de produtos menos nobres, o que faz com que haja uma viabilidade econômica, sem perder cliente”, afirma o especialista. 

A própria empresa, aliás, espera sofrer menos com a inflação em 2022, pois acredita que os preços de medicamentos regulados, definidos pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), subirão mais que o IPCA e permitirão uma recomposição. 

Na teleconferência para comentar os resultados do quarto trimestre, o vice-presidente da Raia Drogasil, Eugenio De Zagottis, afirmou que esperava ainda uma pressão de transição nas margens ao longo do primeiro trimestre deste ano, mas que, a partir do segundo trimestre, a empresa voltaria a navegar em “margens normais”. 

A teleconferência, porém, ocorreu no dia 22 de fevereiro, antes do início da guerra entre Rússia e Ucrânia, que fez disparar o preço das commodities, em especial do petróleo, e elevou as expectativas para a inflação em 2022. 

No início de março, quando a guerra já havia começado, os analistas do Banco do Brasil retiraram a Raia Drogasil do time de empresas recomendadas, em razão da piora do cenário econômico, que embutia uma inflação mais alta e juros também maiores para 2022. 

Com isso, a Raia Drogasil passou a ser considerada “neutra” para o BB, com um preço-alvo de R$ 26,60, que ainda representa uma valorização de 19% em relação ao fechamento de quinta-feira (10). 

Foco no digital 

O esforço da Raia Drogasil para fazer a sua rede de lojas crescer entre os consumidores de renda média também está relacionado ao objetivo de expandir as vendas por canais digitais. 

Para ter uma maior capacidade de entrega dos produtos, a companhia tem buscado aumentar a sua capilaridade de pontos físicos pelo País. Quanto mais espalhada a empresa estiver, de forma mais rápida os produtos serão entregues ao consumidor. 

No entanto, ressalta a analista Karen Atsuta, da Genial Investimentos, a Raia Drogasil já tem uma rede consolidada de farmácias para os públicos das classes A e B. “Por isso, a expansão da rede está focada na classe média expandida, pois é onde há espaço para crescer”, diz a analista, que também tem recomendação neutra para a empresa, com preço-alvo de R$ 26,50.

Com as 191 lojas que abriu em 2021, a Raia Drogasil ampliou a sua presença no Brasil. Até 2020, a empresa estava fincada em 409 municípios. Agora, são 485. 

Mais importante do que isso, a empresa tem conseguido focar as aberturas fora do estado de São Paulo, onde a companhia nasceu. De todas as aberturas realizadas no ano passado, 80% se deram fora do estado e 95%, fora da capital paulista. 

A julgar pelos resultados do ano passado, o esforço para se digitalizar tem dado frutos. No quarto trimestre, as vendas por canais digitais, com o apoio das lojas físicas, cresceram para 9,2% do total, contra 6,4% em igual período do ano anterior. 

“O grande desafio será a execução dessa integração entre lojas e online, porque o cliente não pode esperar um ou dois dias para receber um remédio. É um produto que requer uma logística de imediato, de no máximo 2 horas”, ressalta Karen. 

Apesar dos riscos envolvidos, a Raia Drogasil é uma empresa que tem bom cartaz entre analistas. Das 13 recomendações compiladas pela Refinitiv e disponíveis na plataforma do TradeMap, seis indicam venda e seis assumem uma postura neutra. Apenas um analista sugere venda. 

A mediana das estimativas aponta para um preço-alvo de R$ 28, valorização potencial de 25,84%. Por volta das 16h10, a ação da companhia caía 1,30%, a R$ 22,07.

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.