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Pós-Covid, investidor busca ações pagadoras de dividendos, mas ainda fica com “micos”

Levantamento mostra ações mais presentes nas carteiras dos usuários do TradeMap antes da Covid e hoje

Foto: Shutterstock

Em pouco mais de dois anos, o investidor pessoa física aumentou a concentração em ações pagadoras de dividendos, mas mostrou dificuldade em se desfazer de alguns “micos do coração”. É isso que mostram os dados dos usuários do TradeMap.

O levantamento considera as 15 ações mais presentes nas carteiras dos usuários da plataforma, independentemente da quantidade, em 20 de fevereiro de 2020 – véspera das perdas generalizadas nos mercados em razão da pandemia de Covid-19 – e em abril de 2022.

Apenas quatro empresas deixaram a lista. São elas: Grandene (GRND3), Banco Inter (BIDI4), Ambev (ABEV3) e Sinquai (SQIA3). Elas foram substituídas por Sanepar (SAPR4), Vale (VALE3), BB Seguridade (BBSE3) e Banco do Brasil (BBAS3).

Houve também mudanças relevantes de posição. A Magalu (MGLU3) saiu da oitava posição e foi para a segunda. Já a Oi (OIBR3) passou da quinta colocação para décima terceira posição em abril de 2022.

A Agência TradeMap ouviu especialistas para tentar entender esse comportamento e os potenciais equívocos que os investidores cometeram na composição das carteiras.

Danielle Lopes, analista da Nord Research, destaca que as ações mais presentes na carteira dos usuários são aquelas “da moda”, em um período de crescimento do número de pessoas físicas na B3.

“Via Varejo, Magalu e Inter eram papéis comentados entre pessoas físicas em 2020, período em que a Bolsa acelerou em número de investidores pessoas físicas”, diz.

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Itaúsa (ITSA4), Magalu (MGLU3), Weg (WEGE3): veja as ações favoritas de jovens investidores na B3

Em 2020, a B3 ganhou 1,3 milhão de novos CPFs, terminando aquele ano com 2,7 milhões. Atualmente, está com 4,3 milhões de pessoas físicas.

Consumo em baixa

Em relação aos papéis que deixaram a lista das 15 ações mais presentes nas carteiras dos usuários, a analista lembra que duas são ligadas ao setor de consumo (ABEV3 e GRND3) e outras duas mais dependentes de investimentos em tecnologia (BIDI4 e SQIA3).

“Esses são os setores que são os primeiros a sofrer em momentos de juros elevados, que desestimulam consumo e investimentos”, diz.

No início da pandemia de Covid-19, a taxa Selic estava em 4,25% ao ano. Chegou a 2% ao ano em agosto de 2020, voltando a subir em março de 2021. Atualmente, está em 12,75% ao ano.

Enquanto esses papéis perderam espaço, ações que pagam mais dividendos ganharam destaque na carteira atual.

Em 2020, sete papéis tinham essa característica; atualmente, são 11. Itaúsa, nas duas versões, se manteve na liderança.

“As commodities estão em alta no mercado internacional e as ações da Vale e Petro são beneficiadas nesse cenário. Já a Sanepar voltou a pagar dividendo. O investidor sinaliza estar ficando mais conservador”, avalia.

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Micos do coração

Os analistas, no entanto, alertam para sinais de dificuldade do investidor em sair de alguns papéis que não estão com boas perspectivas, mas que foram os “queridinhos” lá atrás.

Michael Viriato, estrategista da assessoria de investimentos Casa do Investidor, vê que a carteira atual do usuário do TradeMap está bem dividida em termos de setores. No entanto, destaca papéis que já perderam muito valor, mas que seguem com forte presença, como o caso de Via (VIIA3), Oi (OIBR3) e Magazine Luiza (MGLU3).

“É um comportamento normal do investidor pessoa física. Ele fica esperando a recuperação do papel”, diz.

Saber a hora de sair

Para Viriato, o erro está em não avaliar o motivo pelo qual está comprando uma ação. No caso das varejistas, o estrategista cita que os investidores deveriam ter levado em conta o cenário de crescimento e desenvolvimento do comércio eletrônico. Esse cenário mudou com a alta dos juros e, por isso, esses papéis passaram a perder valor.

“O investidor não entendeu por que comprou aquela ação e, quando cai, não sabe o que fazer. Às vezes é uma compra sem estratégia”, diz Viriato.

Ele alerta que, em momentos de expectativa de mudança de cenário macroeconômico, o ideal é que o investidor reavalie as ações do portfólio. “Eventualmente a ação é de um negócio cíclico. O investidor precisa aprender a hora de entrar e sair de uma ação.”

Para Flavio Conde, analista da Levante Investimentos, a pessoa física que começou a entrar na Bolsa em 2019 está em uma terceira fase agora.

A primeira foi a fase antes da pandemia, em que as ações subiam de forma generalizada. A segunda foi o período da pandemia, em especial no início, quando ações de diversos setores sofreram destruição de valor. A terceira fase que é a que o investidor lida com cenário de juros mais elevados e inflação.

“Poucas ações voltaram para o nível do início de 2020. E estamos em um cenário que está mais favorável para empresas de commodities e bancos, que se beneficiam dos juros elevados”, avalia.

Das 15 ações que mais estão presentes nas carteiras, apenas cinco acumulam ganhos desde o pré-Covid. A que mais subiu foi a Vale (VALE3), com alta de 102,9% no período. Já os papéis da Taesa (TAEE11) subiram 58,4% e os da Petrobras (PETR4), 36,2%. Ainda tiveram desempenho positivo no período a Weg (WEGE3), com alta de 26,7%, e a Engie do Brasil (ENBR3), com 15,9%.

Para Conde, as ações de varejo estão presente em diversas carteiras não pela expectativa positiva em relação a esses papéis, mas porque foram herdadas de períodos anteriores.

“São ações que subiram muito e os investidores não venderam. Agora, esses papéis estão em queda e os investidores não vendem”, diz.

Esse caso é similar ao da Oi (OIBR3), em que o investidor comprou achando que a ação poderia se recuperar por já ter caído muito e com as chances de recuperar o valor nesses papéis ainda menores.

“É um ano difícil, de volatilidade. Além dos juros em alta, ainda há o processo de aumento de juros nos Estados Unidos e as eleições no Brasil.”

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