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Por que as big techs podem ser um caminho para investir em tecnologia sem sofrer com os juros

Empresas como Google, Amazon, Facebook e Apple, por exemplo, despontam como alternativas interessantes no cenário de aperto monetário

Foto: Shutterstock

O investidor que optou por entrar em papéis ligados à tecnologia aqui no Brasil — de 2021 para cá — tem tomado um balde de água fria. Desde o pico atingido pelas ações no ano passado, as desvalorizações acumuladas até o momento vão de quase 20% a mais de 90%, causadas principalmente pelo aumento da taxa básica de juros, a Selic.

De março do ano passado até hoje, o Banco Central (BC) elevou os juros de 2%  ao ano para 12,75%. Trata-se de um movimento que atrapalha as empresas de tecnologia porque, em geral, são negócios mais arriscados, que ainda precisam se provar lucrativos. Se a Selic sobe, o que pressupõe um ambiente de mais risco, os investidores preferem passar longe desses ativos e dar prioridade às ações de empresas de segmentos mais rentáveis.

No entanto, não quer dizer que é preciso fugir do setor de tecnologia para investir em companhias consolidadas. O investidor pode chegar a esse meio do caminho ao aplicar seu dinheiro nas chamadas big techs — termo que se refere às grandes empresas globais de tecnologia, como Google, Facebook e Apple, por exemplo.

Para o analista Pedro Albuquerque, da Inter Invest, a Apple, por exemplo, já não pode mais ser considerada uma “empresa de crescimento”, como são chamadas, no mercado financeiro, as companhias que ainda precisam crescer para chegar a um patamar de consolidação e, portanto, surgem como boas opções de investimento para investidores dispostos a tomar mais risco, ou seja, “pagar para ver.”

“Já é uma empresa que fatura bilhões de dólares por semana vendendo celulares. Além disso, possui um fluxo de caixa mais seguro que muita empresa de commodities, por exemplo. É uma tech que já é muito segura”, avalia.

No primeiro trimestre deste ano, o balanço mais recente, a empresa registrou US$ 59,5 bilhões de lucro líquido, um crescimento de 14% ante o resultado de um ano antes.

O analista Lucas Ribeiro, da Kínitro Capital, que aumentou a exposição às big techs nos últimos anos, diz que é favorável a manter essa postura em um cenário em que os juros devem seguir em alta.

“Vejo essas empresas de crescimento para investir em um segundo momento. Num primeiro momento, prefiro empresas com mais resiliência e com mais poder de mercado. O ambiente ainda é incerto e muito volátil”, avalia.

E vale ressaltar que o avanço dos juros não se dá no Brasil. Nos Estados Unidos, o movimento de aperto monetário começou em março, com um aumento de 0,25 ponto percentual aplicado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), o primeiro desde 2018. Atualmente, a taxa está em 1% e, ao que tudo indica, continuará a subir.

Apesar do avanço dos juros nos EUA, o que poderia tornar um cenário menos favorável inclusive para as big techs, Albuquerque, da Inter Invest, acredita que essas empresas seguirão no radar dos investidores ao redor do mundo.

De acordo com dados do volume negociado na semana passada na Apex, uma plataforma norte-americana que opera nos Estados Unidos e é hospedada no app do Inter, dos 15 ativos com mais negócios, sete são relativos a tecnologia.

Dentre eles, o analista destaca os papéis da Tesla e do ETF QQQ, que agrupa as 100 maiores ações da Nasdaq, a bolsa americana focada no setor. “Se o investidor quiser diversificação e investir em tecnologia, o ideal é entrar em algum fundo ou ETF de fora do Brasil”, completa.

E no Brasil?

Se os juros estão apenas começando a escalar nos EUA, algumas sinalizações de membros do BC brasileiro têm indicado que essas altas estão perto de terminar por aqui. Em maio, o diretor de política monetária do Banco Central, Bruno Serra, defendeu uma suavização do ciclo de aperto monetário.

Além disso, a inflação, principal motivador da alta dos juros, tem dado sinais de arrefecimento por aqui. Nesta quinta-feira (9), o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de maio anotou uma subida de 0,47%, abaixo das expectativas do mercado, de 0,60%.

Contudo, Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos, ressalta que os movimentos de política monetária demoram “normalmente uns seis meses” para fazer efeito. “O aumento dos juros de agora vai ter um efeito só depois. Com isso, a inflação tende a arrefecer mais no final de 2022 e no início de 2023″, avalia. 

Outro problema, segundo Mastromonico, é que as empresas de tecnologia no Brasil são muito dependentes do varejo, setor que também sofre com inflação e juros altos, e cita o caso da Locaweb (LWSA3). “Com o varejo também enfrentando problemas, ela tende a ter dificuldades também. O principal business dela não está indo bem, e ela tende a acompanhar”, comenta.

Contudo, se há espaço para a inflação e os juros arrefecerem no final do ano, as ações de empresas de tecnologia na Bolsa brasileira podem ser uma opção. Veja o quanto as techs brasileiras que fizeram IPO desde 2019 caíram na Bolsa do maior preço em 2021 até agora:

Empresa Ticker Preço mais alto da ação em 2021 Preço atual  (fechamento do dia 8/06/22) Desvalorização
Mobly MBLY3 R$ 26,40 R$ 3,15 -88,07%
LWC Networks LVTC3 R$ 26 R$ 8,59 -66,96%
Multilaser MLAS3 R$ 12,98 R$ 4,61 -64,48%
Bemobi BMOB3 R$ 26 R$ 13,53 -47,96%
Neogrid NGRD3 R$ 11,70 R$ 2,12 -81,88%
IntelBras INTB3 R$ 32,41 R$ 26 -19,78%
Locaweb LWSA3 R$ 25,79 R$ 7,01 -72,82%
GetNinjas NINJ3 R$ 27,05 R$ 3,69 -86,36%
Dotz DOTZ3 R$ 17,15 R$ 4,09 -76,15%
Enjoei ENJU3 R$ 20,90 R$ 1,69 -91,91%
ClearSale CLSA3 R$ 29,69 R$ 4,48 -84,91%
Infracomm IFCM3 R$ 23,30 R$ 3,96 -83,00%
Meliuz CASH3 R$ 12,33 R$ 1,62 -86,86%

“Acho que empresas tech tendem a ser uma opção atrativa porque estão bem descontadas, mas é sempre bom avaliar o múltiplo, as dívidas e a taxa dessas dívidas”, destaca Mastromonico, da B.Side. 

Albuquerque, do Inter Invest, mesmo recomendando alocação em papéis de empresas de tecnologia já consagradas e de fora do Brasil, considera que investir em techs de cresicmento pode ser uma alternativa para diversificar a carteira do investidor. 

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