Por que Amazon (AMZO34) e Microsoft (MSFT34) podem resistir bem à recessão nos EUA

As duas companhias estão entre os nomes que analistas apostam como mais resilientes para enfrentar a piora econômica nos EUA

Foto: Shutterstock/rafastockbr

A provável recessão que os Estados Unidos enfrentarão em 2023 está cada vez mais no radar do mercado.

Tanto os dados de inflação, com preços em alta, quanto os de mercado de trabalho, que segue aquecido, indicam que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) terá de elevar mais os juros, sendo uma barreira mais dura para o crescimento da economia americana.

Em um cenário como esse, contudo, nem tudo é perdido. Analistas ouvidos pela Agência TradeMap destacaram algumas ações de empresas que podem ser mais resilientes nesse período, mesmo com uma contração econômica.

Para o analista de BDRs da Santander Corretora, Guilherme Bellizzi Motta, três empresas ligadas ao setor de tecnologia devem enfrentar o período de recessão sem muitos problemas: Microsoft (MSFT34), Amazon (AMZO34) e Visa (VISA34)

Tanto no caso da primeira quanto no da segunda, o fator determinante para um bom desempenho frente à recessão é o serviço de armazenamento na nuvem (cloud). A Microsoft tem a Azure, e a Amazon, a AWS (Amazon Web Services).

Motta ressalta que esse modelo é muito visado pela infraestrutura de tecnologia da informação (TI) das empresas. “Serviços do tipo cloud vêm permitindo que empresas de diversos tamanhos se abstenham de construir uma infraestrutura de TI”, avalia. 

Ele projeta que o gasto anual das empresas com TI salte dos atuais 2,9% do PIB global para 5,5% em 10 anos. E os gastos com serviços na nuvem podem subir 40%, acredita o analista.

Especificamente no caso da Microsoft, o analista do Santander vê que a empresa também é beneficiada por ter outras áreas de atuação já consolidadas no mercado: produtividade, com o Office, e a rede social Linkedin; computadores pessoais, com venda de licenças do Windows; games, com o Xbox; e mecanismos de pesquisa, com o Bing, segundo maior buscador do mundo, atrás do Google.

“A Microsoft já está presente no cotidiano da maioria esmagadora das empresas do mundo. A companhia faz esse cross sell de forma efetiva”, ele diz. No primeiro semestre de 2022, a empresa acumulou um lucro líquido de US$ 72,73 bilhões, uma alta de 18,7% em comparação com o mesmo período do ano passado. 

Além disso, no segundo trimestre deste ano a receita total da companhia avançou 12,3%, passando de US$ 46,15 bilhões no segundo trimestre de 2021 para US$ 51,86 bilhões no mesmo período de 2022. A receita da Azure, que integra os serviços de nuvem da empresa, somou US$ 20,9 bilhões, uma alta de 20,3% em relação ao ano anterior.

Se por um lado a performance operacional da empresa vai muito bem, as ações amargam um 2022 negativo. De janeiro pra cá, os papéis da empresa já recuaram mais de 30%. Esse recuo pode significar, contudo, uma oportunidade de entrada nos papéis.

O BTG Pactual também é uma instituição que gosta da Microsoft. Na carteira recomendada de BDRs da empresa para o mês de outubro, os analistas liderados por Bruno Lima afirmam que o novo ciclo de crescimento da empresa é muito focado na computação na nuvem e aplicações em inteligência artificial.

Além disso, consideram a empresa boa para acionistas em relação à distribuição de lucros. “Nos anos fiscais de 2020 e 2021, a Microsoft gastou US$ 43 bilhões recomprando suas ações no mercado, e distribuiu US$ 32 bilhões em dividendos”, avalia o BTG.

No caso da Amazon, a receita do AWS saltou 33% no segundo trimestre em comparação a igual período do ano passado, atingindo US$ 19,7 bilhões. E a empresa também tem a seu favor o fato de ser líder do e-commerce mundial.

“Os investimentos da empresa saltaram 300%, comparados com 2019. A Amazon é vista como sinônimo de qualidade, além de ter 40% do mercado americano”, comenta o analista da Santander Corretora.

A receita total da Amazon atingiu a cifra de US$ 121,23 bilhões entre abril e junho deste ano, um avanço de 7% em relação ao mesmo período de 2021. A receita proveniente da AWS representa 16,25% do total.

Assim como a Microsoft, a Amazon tem amargado uma queda das ações, de 37,51% desde janeiro. Mas Motta também vê uma oportunidade de entrada para os investidores.

Ele ressaltou que o EV/Ebitda, um indicador usado pelo mercado para medir se uma ação está sendo negociada com desconto ou não, indica um preço atrativo.

O EV (enterprise value, ou valor da firma, em português), que representa a soma do valor de mercado e das dívidas menos o caixa da empresa, equivale a 24 vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização)  de um ano da companhia. O valor está abaixo da média dos últimos dez anos, de 33 vezes. Quanto menor o resultado, mais descontada está a ação.

Por fim, a Visa tem uma “tese mais simples” na visão do analista do Santander. Ele vê a empresa de infraestrutura de pagamentos se beneficiando de pressões inflacionárias, já que as taxas de cartão aumentam proporcionalmente aos preços. Para ele, a companhia é beneficiada por uma demanda reprimida de viagens internacionais, que estão voltando a taxas pré-pandemia.

A Visa teve um lucro líquido de US$ 3,41 bilhões no terceiro trimestre fiscal, um crescimento de 32,17% ante os US$ 2,58 bilhões do mesmo período em 2021. A receita saltou 19% e atingiu US$ 7,3 bilhões.

Setor de saúde também traz oportunidades

A carteira de BDRs do BTG Pactual possui duas empresas de saúde, que, dentro da composição da lista, somam 25% do peso, sendo o setor mais exposto da carteira. As empresas são a Johnson & Johnson (JNJB34) e a Thermo Fischer (TMOS34).

A primeira atua na pesquisa e desenvolvimento, fabricação e venda de uma ampla gama de produtos na área de saúde. “A empresa vende produtos para cuidados com a pele e cabelos, produtos farmacêuticos, equipamentos de diagnóstico e equipamentos cirúrgicos em escala global”, comenta o BTG.

O banco aposta na empresa por vislumbrar uma sólida geração de caixa para 2022, além de se apoiar no histórico de 60 anos consecutivos de aumento no pagamento de dividendos aos acionistas. “A ampla gama de produtos da Johnson & Johnson oferece proteção contra a inflação”, comentam os analistas liderados por Bruno Lima.

Já a Thermo Fischer atua com produtos e serviços de laboratórios e biofarmacêuticos, sendo a líder global nos seus principais mercados de atuação e com operações em mais de 50 países.

O estrategista-chefe da corretora Avenue, William Castro Alves, também aposta em nomes mais essenciais à população americana, ou seja, aquelas empresas que têm produtos e serviços que não dependem de um ciclo econômico, como o setor de saúde. “A pessoa até corta Netflix, deixa de trocar o carro, mas não vai deixar de pagar um plano de saúde”, afirma.

O estrategista-chefe comenta que as empresas Johnson & Johnson, Eli Lilly e United Health podem ter desempenhos resilientes frente à crise.

Além delas, Alves vê boas oportunidades em empresas de energia, saneamento e consumo, como Walmart, PepsiCo, Nextera Energy e Duke Energy.

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