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Petróleo: UBS vê Brent a US$ 125 em junho; como isso impacta as empresas brasileiras?

Banco analisa os cenários para petroleiras, distribuidoras de combustíveis e empresas agro

Foto: Shutterstock

Diante do cenário de interrupção na exportação de petróleo da Rússia, a equipe de analistas do banco de investimentos suíço UBS revisou, em relatório distribuído na última sexta-feira (4), suas projeções para o preço do barril do petróleo tipo Brent. A estimativa para junho, que antes era de US$ 95, passou para US$ 125.

Para setembro, o banco espera US$ 115 por barril, de US$ 95 anteriormente, enquanto para dezembro deste ano e março de 2023 a projeção foi para US$ 105, de US$ 100.

Ainda que o Ocidente não tenha imposto sanções formais sobre a produção e a exportação de petróleo da Rússia, os analistas notam que compradores vêm aplicando “auto sanções” diante do medo de sanções futuras ou por questões de reputação.

Como a capacidade de estoque do país é limitado, a expectativa do UBS é que a interrupção de exportação cause, eventualmente, interrupções de produção.

Antes da guerra, relembra o banco, a Rússia exportava 4,7 milhões de barris por dia (mbpd) de petróleo e 2,8 mbpd de derivados. Segundo estimativas da Energy Intelligence citadas no relatório, cerca de 1,5 mbpd de petróleo e 1 mbpd de derivados são impactados.

Assim, diante da limitação de capacidade de produção disponível ao redor do mundo, a expectativa dos analistas é que os preços sigam subindo. Outra possibilidade apontada pelo UBS é o crescimento da produção de óleo de shale pelos Estados Unidos a partir do segundo semestre, para suprir parte da demanda.

O banco aponta ainda que mesmo um possível acordo nuclear entre o Irã e as principais potências energéticas do mundo não seria capaz de reduzir os preços de maneira durável, ainda que possa trazer certa volatilidade no curto prazo.

Diante desse cenário, veja o que esperar para as empresas brasileiras ligadas à commodity, de acordo com o banco de investimentos UBS-BB, joint venture entre o banco suíço e o Banco do Brasil, em relatório distribuído nesta segunda-feira (7):

Petrobras (PETR4)

Mesmo depois da escalada da commodity nos últimos meses, a expectativa do UBS-BB é que a estatal não realize um reajuste imediato nos preços dos combustíveis, que seguem significativamente abaixo dos níveis de paridade de importação. A estimativa do banco é que a gasolina esteja cerca de 25% abaixo do nível de paridade e o diesel, 20%.

A demora nos reajustes, segundo os analistas, deve-se à incerteza sobre os preços do petróleo no mercado internacional e aos debates sobre redução de preços de combustíveis no governo brasileiro. Nesse cenário, o UBS-BB prevê que, ainda que não sejam esperadas perdas, a Petrobras pode deixar de ganhar com esse movimento. No entanto, ressaltam os analistas, a manutenção dos preços em patamares baixos deve ser menos negativa do que um potencial retorno após um aumento.

De qualquer maneira, a visão do banco sobre a Petrobras permanece positiva, com recomendação de compra. O UBS-BB espera um dividend yield entre 15% e 20% para este ano, que pode acabar sendo ainda mais alto, uma vez que os preços do petróleo tipo Brent estão significativamente acima do que era esperado.

Outras petroleiras da Bolsa

O impacto da alta nos preços do Brent sobre as empresas de petróleo varia entre as petroleiras da Bolsa, segundo os analistas, mas a expectativa geral é que os preços mais altos da commodity não se traduzam em retornos mais fortes aos acionistas, uma vez que, para as companhias menores, o excesso de caixa deve ser direcionado a investimentos.

O banco tem uma visão positiva sobre a Enauta (ENAT3), mas aponta que o potencial de valorização das ações no curto prazo deve ser limitado pelos problemas operacionais do campo de Atlanta, que limitaram a produção.

Quando o campo retomar sua produção total, o que a Enauta espera que ocorra em meados deste ano, a produção deverá ser de cerca de 20 kboed, de modo que a alta dos preços tem potencial limitado de favorecer as ações da companhia. A classificação do UBS-BB para as ações é neutra.

Para a 3R Petroleum (RRRP3), os benefícios dos preços mais altos devem ocorrer em um horizonte mais longo de tempo, uma vez que seu portfólio ainda está em fase de consolidação. Os analistas recomendam compra para o papel.

A PetroRecôncavo (RECV3), por outro lado, deve ganhar mais no curto prazo do que no longo prazo, pois, em uma perspectiva de patrimônio líquido, é a companhia que tem fluxo de caixa mais significativo no curto prazo, na visão do banco, o que faz com que seja uma das que mais deve se beneficiar dos preços mais altos do Brent. Isso, por sua vez, pode se traduzir em dividendos mais fortes, segundo o UBS-BB, que recomenda compra da ação.

Por fim, ainda que os analistas acreditem que o preço do petróleo deva ajudar a PetroRio (PRIO3), o maior potencial de upside para as ações vem da aquisição dos campos de Albacoara. Considerando que a empresa é uma das que tem o maior nível de produção e que praticamente todo o volume vendido é de petróleo – ou seja, diretamente ligado ao Brent, “vemos a companhia como a que mais deve se beneficiar do cenário atual de Brent acima de US$ 100 por barril, devido ao seus níveis atuais de produção e fluxo de caixa”, diz o relatório.

No entanto, o banco acredita que as ações da companhia podem já precificar esse efeito. O grande fator capaz de gerar a alta dos papéis no curto prazo, então, é a aquisição dos campos de Albacoara. A indicação do UBS-BB é de compra da ação.

Tanto para a Petrobras quanto para as petroleiras de menor porte, os maiores riscos apontados pelos analistas se referem ao preço da commodity e aos preços da gasolina e do diesel nas refinarias; riscos de exploração associados ao negócio; resultados de perfuração piores do que o esperado; e aumento na aversão ao risco.

Distribuidoras de combustíveis

O cenário para as distribuidoras de combustíveis é incerto, uma vez que elas devem esperar a decisão da Petrobras. Caso a petroleira mantenha a estratégia de novembro e dezembro, quando segurou os preços dos combustíveis abaixo dos níveis de paridade, mas permitiu que as distribuidoras importassem, a expectativa é de mais um trimestre de margens fortes com aumento de preços para o consumidor final.

Outra possibilidade seria a própria Petrobras importar os combustíveis e os oferecer para o mercado, o que também pode ser favorável às distribuidoras, mas em menor medida, segundo o banco.

Em termos setoriais, os analistas relembram a exposição destas empresas à economia doméstica, que deve ter atividade fraca em 2022 – cenário que já era esperado mesmo antes da crise geopolítica no leste europeu.

No caso da Cosan (CSAN3), o UBS-BB enxerga riscos para o desenvolvimento dos negócios da Compass em face do aumento dos preços do gás natural liquefeito, além das questões setoriais de distribuição de combustíveis.

A Vibra (VBBR3), por sua vez, é a mais exposta a operações de distribuição de combustíveis – e, ao mesmo tempo em que deve refletir a tendência de margens fortes do setor, a desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) pode afetar seu crescimento.

O cenário macroeconômico também é uma pedra no sapato da Ultrapar (UGPA3), que, na visão dos analistas, já estava atrás de seus pares na distribuição de combustíveis. A volatilidade de 2022 deve, então, impactar a trajetória de recuperação da companhia. Ainda, a empresa pode ter sua demanda particularmente impactada pela alta nos preços do gás de cozinha, e suas margens podem ser pressionadas enquanto a empresa tenta repassar seus preços para o consumidor final.

Os principais riscos para a performance das ações de distribuidoras são um crescimento menor de volumes devido à desaceleração da economia, um ritmo mais lento de mudanças regulatórias, e outros ventos contrários do negócio, como açúcar e etanol.

Açúcar e etanol

Enquanto o mercado ainda espera pelas decisões de política de precificação da Petrobras, os preços do açúcar e do etanol têm ficado para trás. Um risco para as empresas do setor, segundo o UBS-BB, é uma possível redução nos mandatos de biocombustível ao redor do mundo diante do aumento nos preços dos combustíveis.

Por outro lado, se os preços do Brent de fato seguirem elevados, a expectativa é que o açúcar e o etanol sigam a mesma tendência no médio prazo.

Petroquímicas

No setor, os preços mais altos de energia podem elevar os custos de produção e, consequentemente, pressionar os spreads. Os maiores riscos para o segmento, na visão do banco, são de fato uma queda nos spreads globais, um menor crescimento de volume e a volatilidade cambial.

Para a Braskem (BRKM5), particularmente, a exposição da companhia ao nafta deve reduzir sua competitividade em relação a players focados em gás natural.

Grãos

A expectativa do banco é que os preços de grãos continuem sua trajetória de alta, principalmente para milho e soja, dada a relevância da Ucrânia e da Rússia no comércio global destas commodities e na oferta de fertilizantes.

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