PagSeguro (PAGS34) vê impacto negativo da Copa do Mundo no 4º trimestre e ação despenca em NY

A ação da PagSeguro desaba nesta quarta-feira (23) após a empresa ter publicado na noite de terça-feira (22) os resultados para o terceiro trimestre.

Por volta de meio-dia, o papel negociado em Nova York, onde a empresa é listada, caía 17%, a US$ 9,97, enquanto o BDR emitido no Brasil recuava 13,38%, a R$ 10,75.

A companhia até registrou aumento do lucro líquido no período, de 18% em relação a igual intervalo anterior, para R$ 380 milhões, mas não trouxe perspectivas favoráveis para o quarto e último trimestre do ano.

Em primeiro lugar, porque a própria projeção da empresa indica que o lucro líquido deve cair ou ficar estagnado nos últimos três meses de 2022, em comparação ao intervalo de julho a setembro. A expectativa é de ganhos entre R$ 350 milhões e R$ 380 milhões.

O segundo motivo é que a PagSeguro decidiu não apresentar uma projeção para o volume de pagamentos processados pelos clientes da empresa (ou TPV, na sigla em inglês) no quarto trimestre, diferentemente do que costuma fazer, alegando um cenário de incertezas.

O analista Mario Pierry, do Bank of America, notou a ausência de previsão e aproveitou a teleconferência com a direção da empresa para questionar o CEO da PagSeguro, Ricardo Dutra.

Dutra respondeu que, embora os últimos meses de ano sejam marcados pelo aumento do consumo, impulsionado pelo 13º salário, pelas datas festivas e pela Black Friday, há um alto nível de endividamento entre as pessoas após os estragos econômicos causados pela pandemia.

“Este ano está meio estranho, porque não sabemos como vai ser o uso desse adicional de salário”, disse o executivo, que acrescentou que também há uma menor oferta de crédito por parte dos bancos aos consumidores.

Dutra ressaltou ainda que pode haver algum impacto a partir das paralisações que foram feitas por caminhoneiros logo após o resultado do segundo turno da eleição, por dois a cinco dias, a depender da região do país. “Isso também cria um pouco de confusão”, afirmou.

Por último, o CEO citou a Copa do Mundo, cujo efeito no consumo ainda é pouco claro, porque é a primeira vez que a competição ocorre no fim do ano. Dutra, porém, estima que o efeito pode ser negativo para a PagSeguro em algo entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões para o volume de pagamentos, sem detalhar os motivos.

“Será uma situação única com esta Copa do Mundo no quarto trimestre”, disse. No quatro trimestre do ano passado, a PagSeguro teve um volume de pagamentos de R$ 147,1 bilhões, alta de 76,4% ante igual período de 2020.

A PagSeguro, vale lembrar, é uma empresa de pagamentos focada em pequenos empreendedores e pequenos estabelecimentos comerciais. A Copa do Mundo, por sua vez, costuma beneficiar mais as grandes varejistas, com venda de aparelhos de televisão e camisas de futebol.

Em relação à estimativa de lucro para o quarto trimestre, Dutra lembrou que os últimos meses do ano são marcados por um maior uso do cartão de débito, em detrimento do cartão de crédito, o que gera menos ganhos para a PagSeguro, uma vez que a comissão cobrada em transações de débito é menor. “Embora o quarto trimestre deste ano esteja melhor do que o do ano passado, geralmente há uma queda entre o terceiro e o quarto trimestre”, ressaltou.

Apesar dos sinais pouco favoráveis, o analista do Bank of America manteve a recomendação de compra para a ação da PagSeguro, com preço-alvo de US$ 20, uma valorização potencial de 66% em relação ao fechamento de terça-feira (22).