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O quanto a “volta” do Fies pode ajudar empresas como Cogna (COGN3) e Ser (SEER3)?

Estimativa do banco Santander aponta que uma nova expansão do Fies já em 2023 pode adicionar R$ 4 bilhões em receita às educacionais listadas

Foto: Shutterstock/Miha Creative

Independentemente de quem tivesse vencido a eleição presidencial, o setor de educação iria enfrentar um cenário difícil em 2023, simplesmente porque o ambiente macroeconômico é desfavorável.

Os juros subiram vertiginosamente nos últimos dois anos, para 13,75% ao ano, e estão no maior nível desde 2017; a expectativa para o PIB é de um crescimento tímido em 2023, inferior a 1%; e a inflação, embora tenha desacelerado na reta final de 2022, ainda deve seguir acima da meta do BC (Banco Central) em 2023.

Tudo isso pesa na hora de o brasileiro decidir se vai ou não dedicar parte da sua renda para pagar a mensalidade de uma universidade privada ou se vai conseguir bancar os estudos do filho.

O que pode ajudar a aliviar parte desse cenário é uma promessa de campanha feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a “volta” do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil).

O Fies, para ser mais preciso, nunca chegou a acabar. O programa de financiamento estudantil criado nos anos 1990 foi turbinado nas gestões petistas passadas para ter condições mais flexíveis aos estudantes e, assim, estimular que mais jovens pudessem ter acesso ao ensino superior.

Após a saída do PT do governo, com o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, o programa deixou de ser uma prioridade e perdeu força, o que afetou negativamente as empresas privadas do setor de educação, que tinham uma receita relevante a partir do Fies e tiveram de se readequar ao novo cenário.

Com o retorno de Lula ao poder, a expectativa é que o Fies volte a ser turbinado, mas a equipe do petista ainda não divulgou detalhes sobre como ficará o programa, e se a turbinada esperada já valerá para 2023 ou não.

O analista Caio Moscardini, do Santander, que acompanha o setor de educação, resolveu fazer simulações para saber qual poderia ser o impacto de uma nova expansão do Fies para as empresas e quem seriam as mais beneficiadas.

Em relatório publicado nesta terça-feira (3), ele calcula que, em um cenário sem Fies em 2023, as empresas de educação com ação negociada em Bolsa (Cogna, Ser Educacional, Ânima, Yduqs e Cruzeiro do Sul) devem ter uma receita somada de R$ 51 bilhões no ano.

Com a expansão do Fies já neste ano, a receita total poderia subir para R$ 55 bilhões, um crescimento de 7% em relação ao cenário sem Fies.

O cálculo do Santander considera que o programa vai trabalhar com cerca de 350 mil contratos por ano e um valor médio mensal por aluno de R$ 1300, no qual os estudantes entrariam com o pagamento de apenas R$ 100 por mês. A cada R$ 1 bilhão a mais ou a menos no orçamento do Fies altera a expectativa de contratos em 70 mil para mais ou para menos, explica o analista.

O problema é que ainda há algumas incertezas no radar que podem mudar a conta. Não se sabe, por exemplo, se os juros vão continuar subindo no Brasil ou não. Mesmo que o Fies seja expandido, um aumento dos juros poderia frear potencial demanda para o financiamento estudantil.

Além disso, não se sabe quais serão as regras que o governo de Lula vai aplicar. O atual Fies, por exemplo, só vale para estudantes de cursos presenciais. Se essa regra for mantida, isso mexeria com as expectativas para os cursos de ensino a distância, que cresceram de forma significativa após a pandemia.

De qualquer forma, o analista do Santander acredita que os cursos presenciais devem ser os mais procurados por beneficiários do Fies. A receita para o negócio de cursos presenciais pode crescer 13% com o Fies em 2023, contra uma expectativa de aumento de 2% sem o Fies.

Isso também seria positivo para as empresas porque os cursos presenciais têm preços maiores que os cursos de EAD. “Evidências históricas sugerem que os alunos que fazem o financiamento do governo tendem a escolher cursos mais caros e mais longos, relacionados à saúde, direito e engenharia”, escreve o analista.

O banco acredita que uma expansão do Fies, com as contas que fez, pode dobrar o lucro por ação das empresas do setor. Isso significa que o programa poderia compensar o efeito negativo de um aumento médio de 1,5 p.p (ponto percentual) nas taxas de juros.

A empresa mais beneficiada nesse quesito seria a Ser Educacional, que teria um lucro por ação 130% maior do que a estimativa do Santander para o cenário sem Fies.

A Cogna seria a segunda mais impulsionada, com um impacto positivo de 100%. Na sequência, aparecem Ânima, Yduqs e Cruzeiro do Sul, com efeitos positivos de 60%, 25% e 22%, respectivamente.

Leia mais:
Cogna (COGN3) e Yduqs (YDUQ3): Com Lula eleito, é hora de apostar nas ações?

O cenário-base do Santander para 2023, que por enquanto não inclui a expansão do Fies, considera que a Cogna e a Ânima devem ter prejuízos de R$ 273 milhões e R$ 18 milhões no ano, respectivamente.

Já a Yduqs, a Ser e o Cruzeiro do Sul devem ter lucro líquido de R$ 51 milhões, R$ 21 milhões e R$ 102 milhões, respectivamente.

A ação preferida do Santander para o setor no cenário-base é a Yduqs, por ter uma exposição maior a cursos de maior valor agregado, um portfólio mais resiliente para cursos presenciais (como engenharia, medicina e direito) e um grande negócio no segmento premium, que inclui a marca Ibmec, escolas médicas e uma das melhores plataformas de EAD do mercado.

O Santander recomenda a compra do papel. Apesar disso, a estimativa de preço-alvo do para a Yduqs em 2023 caiu de R$ 31 para R$ 25, ainda assim uma valorização de 161% em relação à cotação atual.

Por volta das 13h30, a ação da Yduqs (YDUQ3) caía 3,37%, a R$ 9,47.

Para a Ser, a empresa que mais seria impulsionada pelo Fies, a recomendação também é de compra. No cenário sem Fies, o Santander tem estimativa de preço-alvo de R$ 7, valorização potencial de 64%.

No horário acima, a ação da Ser (SEER3) recuava 2,52%, a R$ 4,25.

Para a Cogna, a maior do setor, o banco tem uma visão neutra para a ação. A estimativa de preço-alvo é de R$ 2,50. Nesta terça, a ação tinha queda de 1,95%, a R$ 2,01.

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