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Novo investidor tem perfil diferente e quer ter ações mesmo com juros altos

Público mais jovem, plataformas digitais e maior conhecimento sobre diversificação ajudam a levar mais pessoas físicas a B3

Foto: Divulgação

Os juros de volta aos dois dígitos vão desacelerar a entrada de pessoas físicas para a Bolsa brasileira, mas nem a taxa Selic perto dos 11% ao ano será suficiente para estancar esse movimento. Investidores mais jovens, o acesso mais amplo à educação financeira e a redução no volume de aportes fazem com que as ações continuem no leque de opções de quem tem dinheiro para aplicar.

A B3 registrava 4,2 milhões de pessoas físicas investindo em renda variável, um crescimento de 56% em 2021. Até 2018, esse número não chegava a 700 mil. Foi a redução dos juros que provocou a migração de pessoas da renda fixa para o mercado acionário.

Essa realidade mudou. A taxa Selic está atualmente em 10,75% ao ano. A última vez que esteve em dois dígitos foi em julho de 2017. E vai subir mais. O relatório Focus do Banco Central (BC) mostra uma Selic a 12,25% ao ano ao final de 2022.

Os juros mais elevados vão fazer com que o investidor, em sua grande parte, priorize a renda fixa em 2022. Ainda assim, a expectativa é que a Bolsa atraia mais pessoas físicas neste ano, embora não vá repetir o crescimento de 56% registrado no ano passado.

Mas por que ainda tem investidor que vai correr o risco do mercado acionário mesmo com um juro tão elevado?

“Há uma mudança geracional em curso. O investidor mais jovem entra na Bolsa não só devido à taxa de juros, mas também para aprender e diversificar. Na nossa leitura, esse movimento vai crescer”, diz Felipe Paiva, diretor de relacionamento com os clientes da B3 (B3SA3).

Mudança geracional

Do total de investidores da Bolsa, metade tem entre 25 e 39 anos. Ao considerar o público também das faixas etárias mais baixa (0 a 18 anos e 19 a 24 anos), a participação sobe para 62%. Em 2013, eles representavam 36%. E a maior parte desses investidores está no segmento de ações (a renda variável também conta com investidores em BDRs, ETFs e FIIs).

Na avaliação do executivo, esse investidor tem maior propensão à diversificação. Para isso, acaba fazendo aportes menores, o que também foi facilitado pelas plataformas digitais de investimentos.

Esse perfil do investidor mais jovem também mudou os aportes feito no mercado de ações, que estão cada vez menores. O valor médio inicial está em R$ 44. No início de 2020, era de R$ 1,6 mil e, em 2013, era em torno de R$ 3 mil.

“O investidor antes achava que tinha que ter um valor maior. Espera receber o décimo terceiro para fazer um aporte único”, conta

Paiva conta que as plataformas mobile estimularam investimentos menores e, por outro lado, aportes mais constantes.

Para Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, a taxa Selic em dois dígitos é um fator para desacelerar a entrada de pessoas físicas na Bolsa, mas não é esperada uma queda nesse público.

“A B3 chegou a 5 milhões de contas de pessoas físicas mesmo no meio de um ciclo de alta dos juros. E esse ciclo já está mais perto do final”, diz.

A razão para a continuidade de novas pessoas físicas na Bolsa, mesmo com os juros mais elevados, está ligada também ao papel da educação financeira, que sempre destaca a importância da diversificação. E na era das redes sociais, os influenciadores também contribuíram para que o investimento em ações ficasse mais popular.

Crespi recomenda ao investidor que vai entrar agora em Bolsa que primeiro busque os nomes mais conhecidos, de empresas sólidas, como as do setor bancário e as de empresas de commodities.

Após se acostumar com a volatilidade desse mercado, o segundo passo é buscar as chamadas “small caps”.

Outro fator que justifica a expectativa de novos investidores pessoas físicas na Bolsa é que, embora o cenário econômico ainda esteja desafiador (uma guerra em curso, expectativa de aumento de juros nos Estados Unidos e eleições no Brasil no segundo semestre), há ainda muito dinheiro “empoçado” rendendo pouco.

A caderneta de poupança tem mais de R$ 1 trilhão em depósitos. Especialistas em investimentos entendem que uma boa parcela desses recursos é de pessoas de menor renda, que usam mais o tradicional investimento para emergência ou mesmo como “caixa”.

No entanto, há uma parcela relevante de poupadores que o mercado deseja transformar em investidores.

A maior parte dos recursos da poupança está em contas com mais de R$ 5 mil (93%), mas a parcela de cadernetas com mais de R$ 20 mil também é substancial, de 79%, ou o equivalente a cerca de R$ 790 bilhões. São 10,3 milhões de poupadores com recursos em uma aplicação considerada de baixo rendimento (atualmente, 6,17% ao ano, mais a variação da TR, que atualmente está zerada), segundo dados do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).

“Imagina 40% desses poupadores investindo em ações? O potencial de crescimento é muito grande”, diz Paiva, da B3.

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