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Ações da Embraer disparam 280% em um ano; ainda vale a pena comprar?

Parcerias com os famosos modelos de “carros voadores elétricos” estão entre os motivos da alta expressiva, segundo analistas

Foto: Embraer/Divulgação

Se alguém afirmasse, por volta de outubro de 2020, que as ações da Embraer teriam um salto exponencial em um ano, seria difícil ter tamanha convicção, diante da proporção da crise econômica causada pela pandemia de Covid-19, especialmente sobre o setor aéreo.

Contrariando, contudo, até as expectativas mais otimistas, os ativos da fabricante de aeronaves têm chamado a atenção dos investidores nos últimos meses. De setembro de 2020 até o dia 4 de outubro de 2021, os papéis acumulam ganhos da ordem de 280% na B3 e lideram as maiores altas do período entre as ações do Ibovespa, índice que, por sua vez, avança cerca de 20% no intervalo.

O fato de as ações da Embraer serem negociadas com desconto à época e uma série de parcerias comerciais que têm sido firmadas, ao lado da melhora do balanço trimestre a trimestre estão por trás da recuperação da companhia na Bolsa.

E 2020 não foi um ano fácil. Além da pandemia, o cancelamento de uma parceria com a Boeing após acordo firmado em 2018 levou as ações da Embraer a apresentarem queda de 55% no ano.

Em abril de 2020, a gigante americana desistiu de criar uma joint venture com a brasileira. De acordo com a Boeing, a Embraer não havia cumprido algumas obrigações contratuais previstas para continuar com o negócio.

EMBRAER X BOEING EM 2020

comparacao EMBR3 e BA 2
Fonte: TradeMap

A partir do segundo semestre de 2020, a evolução do programa de vacinação pelo mundo e a consequente expectativa de recuperação do setor aéreo contribuíram para a recuperação da Bolsa, tanto no Brasil quanto no exterior.

As próprias ações da Boeing (NYSE: BA) começaram a recuperar parte das perdas causadas pela pandemia. Em um ano, os papéis sobem quase 40%, para cerca de US$ 220, ainda que perto da metade do valor pré-pandemia, de US$ 430.

Mateus Messias, analista da Inside, assinala que a recuperação gradual da atividade econômica é um dos motivos por trás do bom desempenho da Embraer na Bolsa, uma vez que cerca de 60% dos voos no mundo são regionais, com aviões entre 70 e 100 lugares – e a brasileira é, atualmente, líder neste segmento.

O ramo comercial da empresa ainda passou por uma grande mudança após sindicatos de pilotos dos Estados Unidos definirem, no fim de 2019, que voos locais só poderiam ocorrer com uma quantidade limitada de assentos, aponta o analista Pedro Menezes, da Occam Brasil. De um lado, as companhias aéreas queriam aumentar a produtividade dos pilotos e, de outro, os sindicatos queriam exigir mais por isso. Na prática, pilotos de voos regionais utilizavam aeronaves maiores e exigiam remunerações condizentes com o porte do avião.

Segundo Menezes, como só a Embraer se enquadra no escopo definido por sindicatos americanos, a companhia começou a receber muitas encomendas de aeronaves do modelo E175 a partir do início da retomada da economia, por volta do último trimestre de 2020. E os pedidos continuam em alta: entre abril e junho deste ano, o segmento comercial da fabricante registrou um salto anual de 261%.

“A Embraer é uma das poucas empresas que está dentro das leis dos Estados Unidos. Outras empresas, como a Bombardier, fabricavam modelos semelhantes, mas, desde que a Airbus comprou a companhia, ela fez algumas modificações no modelo, que virou A220, saindo do escopo”, ressalta o analista da Occam.

Acompanhe os ativos em tempo real pelo TradeMap

Além disso, Menezes destaca que a Embraer postergou estrategicamente o lançamento da nova linha do modelo E175, o E175-E2, justamente por não se enquadrar nas normas definidas por sindicatos dos pilotos americanos. O analista acredita que a empresa espera que os EUA revejam a chamada “cláusula de escopo” da aviação regional, que determina o número de assentos e o porte da aeronave.

“Carro voador” elétrico

eVTOL divulgacao
eVTOL (Imagem: Eve)

Na avaliação de Renato Hallgren, analista do BB Investimentos, o fator determinante para a subida das ações recai sobre as parcerias que a Embraer fechou por meio de sua subsidiária Eve Urban Air Mobility, criada em outubro do ano passado pela EmbraerX, seu braço de inovação.

De janeiro até agora, a Eve assinou 14 parcerias para o desenvolvimento de mobilidade aérea urbana (UAM, na sigla em inglês). Ela é responsável pela criação do eVTOL, que significa aeronave elétrica de pouso e decolagem vertical, conhecida popularmente como “carro voador elétrico”.

Com uma aparência um tanto futurística – semelhante aos veículos dos Jetsons –, os eVTOLs são muito mais sustentáveis do que um helicóptero, por exemplo, uma vez que são movidos a eletricidade, além de serem mais silenciosos.

“Como é elétrico, o modelo poderá ter um custo mais barato. Geralmente, o mais custoso de manter uma aeronave é o preço do combustível”, diz Sandra Peres, analista do TradeMap.

A Embraer já assinou contrato com companhias estrangeiras para fornecer o carro voador, como a britânica Britow e a francesa Helipass. As entregas estão previstas para 2026 – o que, na visão de Hallgren, pode ser um indício de que a ação da Embraer tem espaço para subir ainda mais, uma vez que grande parte de seus investidores é estrangeira e com perfil de longo prazo.

De acordo com o analista do BB, se o mercado já está otimista com o veículo agora, quando ele for lançado de fato, a companhia poderá ganhar mais destaque na Bolsa.

Ainda em relação aos “carros voadores”, Messias, da Inside, ressalta que a Embraer não foca apenas no desenvolvimento do eVTOL, mas também na viabilização operacional, tanto na parte de regulação com os governos quanto na prática em relação a como funciona o gerenciamento de um tráfego aéreo urbano.

“A Embraer é pioneira neste aspecto e isso pode ser um driver de crescimento para os próximos anos”, diz.

Outras empresas brasileiras também apostam no sucesso do “veículo voador”, como a Gol e a Azul, que já fizeram suas encomendas para companhias europeias.

Retrospectiva x Perspectiva

Assim como praticamente todas as empresas negociadas na B3, as ações da Embraer despencaram com o início da pandemia. Afinal, com as fronteiras fechadas, os aviões permaneceram no chão por um longo tempo.

No dia 29 de outubro de 2020, os papéis da fabricante chegaram ao menor nível desde 2009, cotados a R$ 5,77. Já a partir de novembro, as ações começaram a ensaiar recuperação e hoje já ultrapassam os valores pré-pandêmicos, como mostra o gráfico a seguir:

EMBRAER NA CRISE

EMBR3 1
Fonte: TradeMap

E não foram só as ações que apresentaram melhora nesse meio tempo. Há quase dois anos, a Embraer reportava prejuízo líquido trimestre após trimestre, com uma mudança apenas neste ano. De abril a junho, a empresa teve um resultado positivo da ordem de R$ 445 milhões.

 

Receita (R$)

Ebitda (R$)

Lucro Líquido (R$)

2T21

5,92 bi

922,3 mi

444,8 mi

1T21

4,45 bi

-21,36 mi

-491,1 mi

4T20

10,99 bi

522,7 mi

-18,79 mi

3T20

4,09 bi

-109,5 mi

-640,1 mi

2T20

2,86 bi

-1,48 bi

-1,67 bi

1T21

1,69 bi

250,56 mi

-1,27 bi

4T19

4,13 bi

-265,6 mi

-865,3 mi

3T19

2,53 bi

147 mi

-306,7 mi

2T19

2,29 bi

-101,2 mi

33,86 mi

Fonte: TradeMap

A fabricante atribuiu o resultado do segundo trimestre à melhora da receita líquida, que foi impulsionada pelo crescimento em todos os segmentos da companhia – aviação comercial (+261%), aviação executiva (+74%), defesas e segurança (+97%) e serviços e suporte (52%).

“Se pegarmos os últimos quatro trimestres, a Embraer teve que contabilizar mais de US$ 1 bilhão com despesas da combinação de negócios. Após a reorganização, sem os custos extras, ela ainda apresenta um lucro muito pequeno para o seu porte”, afirma o analista do BB Investimentos.

Ainda no segundo trimestre de 2021, o resultado operacional da Embraer medido pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) registrou a marca de R$ 922,3 milhões, contra saldo negativo de mais de R$ 1 bilhão um ano antes.

Entre abril e junho, a companhia entregou 14 aeronaves comerciais e 20 jatos executivos, ante quatro aviões comerciais e 13 executivos no mesmo intervalo do ano passado.

“O backlog [encomendas firmes de aeronaves] da Embraer voltou ao nível pré-pandemia, o que dá uma segurança [aos investidores] para o faturamento dos próximos trimestres”, destaca Hallgren.

Mesmo com a relação entre preço e valor patrimonial por ação (P/VPA) da companhia no patamar de 1,24 vez – o que pode ser um sinal de que o papel da companhia é negociado com ágio na Bolsa –, a analista do TradeMap ressalta que o indicador está diretamente associado à subida expressiva dos preços das ações e que, por isso, não pode ser visto isoladamente.

Nas nuvens

Apesar de não ser possível prever se as ações da Embraer podem subir ainda mais em 2021 ou em 2022, Hallgren aponta que, como os investidores predominantes da fabricante são estrangeiros e possuem conhecimento sobre a capacidade tecnológica da empresa, os papéis têm fundamentos para continuar a trajetória de alta, até por não terem atingido a máxima histórica, de R$ 29,87, de dezembro de 2015.

Em setembro deste ano, o BB Investimentos passou a recomendar a compra dos ativos da companhia brasileira. O analista da casa está, contudo, atento aos próximos passos de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Um aumento de juros no país pode desencadear uma correção das bolsas, com reflexo especialmente sobre os papéis de companhias como a Embraer, já que boa parte dos seus acionistas é estrangeira.

A Occam, por sua vez, tem as ações da fabricante na carteira e está otimista com a brasileira, uma vez que a companhia se mostrou resiliente nos últimos meses, como aponta Menezes.

Já a casa de análise Inside tem recomendação de manutenção dos papéis. De cinco recomendações para as ações da Embraer compiladas pela Refinitiv, três são de compra e dois de manutenção. O preço-alvo mediano é de R$ 22,35 por ativo, abaixo do último preço de fechamento, de R$ 24,05.

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