No 5º mês seguido de baixa, Ibovespa cai 0,87% nesta terça após fala de Powell e fica perto de perder os 100 mil pontos

Bolsas americanas também fecharam o pregão no vermelho, com preocupação sobre redução da liquidez no mercado

O último pregão de novembro foi de prejuízo para os investidores de ações tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Em meio a preocupações com a liquidez nos mercados, as bolsas fecharam em baixa e o Ibovespa chegou a ficar bem perto de perder os 100 mil pontos.

O principal índice da Bolsa brasileira encerrou os negócios com queda de 0,87%, aos 101.915 pontos, acumulando perda de 1,53% em novembro, o quinto mês negativo. No ano, o Ibovespa cai 14,4%.

Em Wall Street, o índice Dow Jones caiu 1,86% nesta terça, o S&P 500 recuou 1,90% e o Nasdaq, 1,55%.

A aversão a risco tomou conta dos mercados depois de o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, defender que os estímulos à economia sejam encerrados mais cedo do que se previa. O índice chegou a bater 100.074 pontos na minima do dia — e não fecha abaixo dos 100 mil pontos desde 4 de novembro do ano passado.

Powell disse que as injeções de dinheiro feitas pelo banco central americano no sistema financeiro podem acabar “talvez alguns meses mais cedo” diante da força da economia e da inflação elevada no país. Ele afirmou que essa hipótese será discutida pelo comitê de política monetária nos dias 14 e 15 de dezembro.

Depois das declarações, investidores passaram a apostar com mais convicção no aumento de juros nos Estados Unidos a partir de junho do ano que vem – a probabilidade saiu de 58,6%, ontem, para 72,8%, após a fala de Powell. Eles também passaram a ver uma chance mais alta de elevação das taxas a partir de maio de 2022, de 44,6%, ante 34,3% ontem, segundo dados compilados pelo CME Group.

Há anos o banco central americano mantém os juros do país perto de zero e injeta recursos no sistema financeiro para garantir crédito barato aos consumidores e empresas. As medidas reduziram as taxas de retorno de investimentos de renda fixa no país, e levou muitos investidores a migrarem para aplicações mais arriscadas e rentáveis – como ações, commodities e ativos de países emergentes.

A reversão desta política poderia inverter também este fluxo de investimentos, o que explica o efeito negativo da declaração de Powell tanto sobre as ações nos Estados Unidos quanto por aqui.

No Brasil, o mercado acompanha ainda a decisão de política monetária na próxima semana. Apesar da mudança de tom do Fed, sinalizando que pode acelerar a retirada dos estímulos e antecipar a alta de juros, o movimento não deve mudar o plano de voo do Banco Central, na avaliação de gestores.

Ômicron

O mercado mundial já havia começado o pregão de mau humor por causa do ressurgimento das preocupações com a nova variante do coronavírus, a Ômicron.

O executivo-chefe da Moderna, Stephane Bancel, disse ao jornal Financial Times que pode levar meses até haver vacinas suficientes para a população contra a nova cepa. A Moderna é uma das empresas que fabricam estes imunizantes.

Ontem, as bolsas ao redor do mundo haviam subido justamente depois de a Moderna e outras companhias sugerirem que as vacinas atuais poderiam ser modificadas com facilidade para conter a Ômicron.

A Regeneron, fabricante de um tratamento contra a Covid-19 aprovado para uso emergencial nos Estados Unidos, também disse que a eficácia de seu produto pode ser menor contra a nova variante.

O receio dos investidores é de que a variante contorne a proteção das vacinas, seja mais transmissível e cause casos graves da covid-19. Neste cenário, a preocupação é de que governos fiquem mais inclinados a restringir a circulação de pessoas, com efeito negativo sobre a economia.

A própria Organização Mundial da Saúde, porém, ressalta que ainda há muitas dúvidas em relação à Ômicron e que é preciso mais tempo para avaliar a situação.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou na tarde desta terça que serão enviadas para análise laboratorial as amostras de dois brasileiros que, em análise preliminar, apresentaram resultado positivo para a variante Ômicron.

PEC dos Precatórios

A queda da Bolsa hoje poderia ter sido maior se não fosse a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado.

O texto ainda precisa passar pelo crivo do plenário do Senado e torna o Auxílio Brasil permanente, ao mesmo tempo em que retira a obrigatoriedade de se apontar uma fonte de financiamento do programa.

Há dias analistas apontam que uma definição sobre o assunto ajudaria a dar clareza sobre o cenário fiscal e poderia abrir espaço para a alta nas ações. Hoje, porém, o comentário de Powell ficou no centro das atenções.

Destaques do dia

Entre os destaques do dia, fora do Ibovespa, as ações da Ânima (ANIM3) dispararamquase 27% depois de a empresa fechar acordo para vender 25% da Inspirali, subsidiária voltada à formação de médicos, para a DNA Capital por R$ 1 bilhão.

Já o papel da Arezzo (ARZZ3) caiu 1,53% depois de anunciar a compra da marca Carol Bassi por R$ 180 milhões. O valor pode chegar a R$ 220 milhões se a marca atingir metas financeiras negociadas com a Arezzo até 2025.

Dentro do índice, as ações ligadas ao setor de tecnologia foram particularmente atingidas pelas declarações de Powell e pela perspectiva de juros mais altos mais cedo. Locaweb (LWSA3) caiu 10,09% e teve a maior perda do dia, seguida por Méliuz (CASH3), com baixa de 9,12%. Entenda nesta matéria o que pressiona o setor.

Agenda de quarta-feira

Amanhã, investidores ficarão atentos a dados sobre a atividade industrial da zona do euro e do Brasil e aos números de criação de emprego pelo setor privado dos Estados Unidos.

Serão ainda divulgadas infrmações sobre a atividade industrial do país, primeiro com dados da IHS Markit, depois com números do ISM.

Às 15h, serão publicados ainda dados da balança comercial do Brasil em novembro e, às 16h, sai o Livro Bege, relatório do banco central americano sobre as condições da economia.

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