A União Europeia (UE) cumpriu com o previsto e definiu um limite de preço para a importação do petróleo russo por via marítima. Só que o teto de US$ 60 por barril – confirmado na segunda-feira (5) e que entrou em vigor hoje -, pode ser ineficaz na tentativa de punir a Rússia por invadir a Ucrânia e dificilmente impedirá os preços da commodity de avançarem nos próximos meses.
Segundo analistas, na prática, a imposição de um limite ao preço do petróleo russo pode favorecer à Rússia, em vez de reduzir a procura pelo petróleo produzido no país.
Quase uma semana atrás, o valor do petróleo de Urais, o principal produto do mercado russo, bateu US$ 52 o barril, nível inferior ao do teto imposto pela UE, segundo mostrou a Bloomberg, citando dados da agência Argus Mídia, especializada em commodities.
Isso porque o mercado já estava se preparando para o limite de preços. Nesta terça-feira (6), o barril de petróleo Urais opera em torno de US$ 61.
Ainda assim, o valor é bem mais baixo que o do petróleo tipo Brent, que serve como referência para o mercado internacional e hoje operava perto de US$ 79 o barril.
Essa diferença de preços pode acabar aumentando a demanda pelo petróleo da Rússia, já que a vasta maioria dos países – entre eles a China – segue sem adotar restrições ao produto. “É uma vantagem dada à Rússia. (…) não é a medida mais inteligente”, afirma Ariane Benedito, economista independente especializada em mercado de capitais.
Soma-se a isso a previsão de melhora da economia chinesa, que cria chances de aquecimento de toda a cadeia global e pode resultar num aumento da demanda por petróleo.
“À medida que olhamos mais à frente, para o petróleo se sustentar muito abaixo de US$ 55 por barril, provavelmente seria necessária uma recessão mais severa do que muitos analistas antecipam, afirma Joe Nikruto, estrategista sênior de mercado da americana Zaner Financial Service.
O cenário leva analistas a acreditarem no avanço dos preços do petróleo em 2023.
A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) estima que o preço do barril de petróleo tipo Brent deve superar US$ 100 em 2023. A possibilidade de limitação da oferta pela entidade também favoreceria a elevação dos preços mundialmente.
Em decisão tomada na segunda-feira (5), a Opep decidiu manter a produção de petróleo nos níveis atuais, mas ressaltou que pode mudar de opinião a depender das condições de mercado. Ou seja: se os preços caírem demais, há chance de novos cortes na produção.
Veja também:
Fitch reduz previsão para preços do gás natural, mas ainda espera petróleo a US$ 85 em 2023
Retaliação russa
O valor-limite para o petróleo da Rússia será seguido não só pela União Europeia, mas por todos os integrantes do G-7. Além de França, Alemanha, Itália e Reino Unido, o grupo também inclui Estados Unidos, Canadá, Japão e Itália.
Mas os países que ratificarem a decisão poderão sofrer retaliação da Rússia e ter que buscar petróleo em outros mercados, a valores mais altos. Após o teto ser aplicado, a Rússia afirmou que irá priorizar a exportação para países que paguem o preço definido pelo mercado, como a China.
Conflito sobre teto
A criação do valor-teto para o petróleo russo enfrentou posições conflitantes. “O desafio que vemos hoje é que as nações da UE estão em desacordo sobre o preço máximo, ou o preço que as nações do G7 iriam pagar pelo petróleo bruto russo”, destacou Nikruto, dias antes da decisão da União Europeia.
Antes de baterem o martelo, os países europeus estudavam um teto de preços maior para o petróleo russo, de US$ 65 a US$ 70 por barril.
O estrategista da Zaner Financial Services ressalta que a maioria do países preferia o valor US$ 65 por barril, enquanto a Polônia, por exemplo, estava pressionando por um teto próximo a US$ 30.
Para Lucas Brunetti, trader de commodities da gestora Garde Asset Management, “por enquanto, dado que o petróleo caiu de preço, esse teto praticamente vai ser uma restrição não atuante (à Rússia)”. “Hoje a estrutura de mercado gira em torno de US$ 85 o barril, no Brent, menos US$ 20 a US$ 30 de prêmio negativo no petróleo russo (…) não iria diferenciar (tanto o valor)”, afirma.
⇨ Acompanhe as notícias de mais de 30 sites jornalísticos de graça! Inscreva-se no TradeMap!
Produção russa
Segundo Nikruto, da Zaner, mesmo com uma definição do preço-limite, uma interrupção nas exportações russas de petróleo parece ser inevitável.
Já Benedito desconsidera, em um primeiro momento, uma redução da produção por Moscou, mesmo com a queda de margem no caso de venda para países dentro de um limite estabelecido. Se vier a ocorrer, não seria abruptamente, diz, porque a Rússia precisa da commodity para a manutenção da estrutura utilizada na guerra da Ucrânia.
Além disso, a exportação para outros mercados, com os quais o país já comercializa, como China, Índia e países do Oriente Médio, prosseguiria, e a Rússia se manteria como um player ativo. O fluxo mundial não mudaria, afirma Brunetti.
Volatilidade mantida
Ainda que a previsão do mercado seja de aumento dos preços do petróleo em relação aos níveis atuais, esse caminho deve ser turbulento.
Benedito ressalta que as medidas tomadas pela União Europeia e a incerteza e as prováveis definições em relação à produção pela Opep no ano que vem devem levar a uma maior volatilidade de preço.
Já Brunetti, da Garde, diz que a cotação deve permanecer volátil em 2023, mas não além do que foi visto neste ano. Segundo ele, o que tem dado esse caráter aos preços do petróleo ainda é o efeito da pandemia da Covid-19 nas economias globais.
O ano de 2022 foi marcado por forte pressão de preços na commodity. Há mais de um mês, a cotação está em patamar inferior a US$ 100. E, já alguns dias, permanece abaixo dos US$ 90. No entanto, em março o barril chegou a quase US$ 140 por causa dos receios de que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia reduziria a oferta de petróleo.