A Bolsa brasileira sobe nesta quinta-feira (4) ancorada na alta de empresas ligadas ao varejo. Perto das 13h25, o investidor que olha a movimentação do Ibovespa, em alta de 1,60%, aos 105.421 pontos, vai notar uma subida intensa de Magazine Luiza (MGLU3), Méliuz (CASH3), Natura (NTCO3), Via (VIIA3), CVC (CVCB3) e Grupo Soma (SOMA3).
O avanço dessas ações ocorre porque, embora o Banco Central (BC) tenha anunciado na quarta-feira (3) mais uma elevação da Selic, de 0,5 ponto percentual, para 13,75% ao ano — o que em tese é negativo para essas companhias, por reduzir o crédito e consequentemente o consumo -, a autoridade monetária sinalizou, em comunicado que acompanha a decisão, que o ciclo de aperto monetário agora tende a ser menos intenso e está perto do fim.
Entre as empresas que fazem parte do Ibovespa, a maior alta do dia era de Magazine Luiza, que subia 14%. Na sequência, MRV (MRVE3) ganhava 12,13% e a Méliuz, uma plataforma de cashback que tem um pé no varejo e outro na tecnologia, com valorização de 12,39%.
Outras ações ligadas ao consumo também disparam: Natura avançava 10,05%, Via subia 8,78%, CVC tinha alta de 7,96% e Grupo Soma apresentava valorização de 6,72%.
“Essa sinalização da alta de juros se arrefecendo é bem positivo de um modo geral para o setor varejista e para as outras empresas de maior sensibilidade aos juros”, afirma a analista Angelica Marufuji, sócia da gestora Meraki Capital, à Agência TradeMap.
Com a elevação para 13,75% ao ano, a Selic chegou ao seu maior patamar desde janeiro de 2017. No mercado, há até quem considere que o ciclo de aperto monetário já acabou. É o caso de Caio Megale, economista-chefe da XP. Em relatório ao mercado, ele disse que, que embora exista um “risco” de uma alta final da taxa em setembro, o cenário mais provável é que a Selic se mantenha inalterada em 13,75% até meados de 2023.
“Não acreditamos que esse patamar seja suficiente para trazer o IPCA para a meta no próximo ano, mas certamente ajudará a aumentar a probabilidade de um IPCA dentro da meta em 2024”, destacou Megale.
O avanço das ações ligadas ao consumo, porém, pode não estar ligado somente ao cenário de juros. O analista Wagner Varejão, sócio da Valor Investimentos, lembra que os papéis estão “extremamente baratos” e que boa parte do mercado já esperava o que foi sinalizado pelo BC. “Em algum momento essas ações ‘têm que andar”, diz.
Além disso, há uma reação de queda na curva de juros mais longa, que também pode ajudar esses papéis. De acordo com dados da plataforma do TradeMap, os contratos futuros de juros para 2023, 2025 e 2028 recuavam 25 e 16 pontos-base, respectivamente.

Baixas do pregão
Na ponta negativa, BRF (BRFS3) recuava 2%, JBS (JBSS3) caía 1,51%, Marfrig (MRFG3) perdia 1,36% e Braskem (BRKM5) apontava em 1,07% para baixo.
Mais cedo, a petroquímica comunicou ao mercado que seus resultados nos próximos trimestres serão prejudicados pela decisão do governo de baixar as tarifas de importação aplicadas a alguns produtos vendidos pela companhia.
O governo federal reduziu as alíquotas de três produtos vendidos pela Braskem no Brasil, sob o argumento de que há problemas no mercado brasileiro para a obtenção destes produtos. As alíquotas menores valerão a partir de sexta-feira (5) por um período de um ano. A avaliação da Braskem é de que isso “impactará negativamente os resultados”.
Cenário internacional
No exterior, os mercados globais operam em direções distintas nesta quinta-feira. Nos Estados Unidos, o movimento é negativo e na Europa, positivo.
Os mercados continuam a monitorar o stress geopolítico envolvendo Estados Unidos e China, que começou na terça-feira (2) com a visita da presidente da Câmara americana, Nancy Pelosi, a Taiwan.
Nos EUA, o setor de serviços medido pelo ISM (Instituto de Gestão de Fornecimento) mostrou um crescimento em julho, anotando 56,7 pontos ante 55,3 do mês anterior. Esse fato pode sugerir que uma recessão por lá pode não estar tão próxima quanto o esperado.
Enquanto isso, em Wall Street, o Dow Jones caía 0,16%, o S&P 500 perdia 0,10% e o índice Nasdaq recuava 0,13%.
Na Europa, os investidores repercutem a decisão de política monetária do Banco da Inglaterra, que aumentou a taxa básica de juros para 0,5% no país.
Perto do fechamento, o movimento das bolsas era positivo. O Euro Stoxx 50 subia 0,05%, o DAX 30 ganhava 0,45% e o FTSE 100, do Reino Unido, operava estável.