Com expectativa de maiores gastos do governo, Ibovespa vira e fecha em queda de 0,89%, aos 102.122 pontos

Ações do Inter e de empresas de varejo lideraram as quedas do índice

Gustavo Nicoletta

Gustavo Nicoletta

Foto: Freepik

A questão fiscal voltou a pesar sobre o mercado acionário brasileiro na abertura desta semana. O Ibovespa, que chegou a subir mais de 1% na máxima do dia, fechou com baixa de 0,89% nesta segunda-feira, 22, aos 102.122 pontos, descolado do desempenho positivo observado nas bolsas do exterior.

Em Wall Street, o Dow Jones subiu 0,04%, aos 35.619,25 pontos; o S&P 500 teve baixa de 0,32%, a 4.682,94 pontos; e o índice de tecnologia Nasdaq recuou 1,26%, aos 15.854,76 pontos.

Entre os destaques do dia, o secretário especial do Tesouro e Orçamento, Esteves Colnago, disse em sessão do Senado que, como a inflação está mais alta do que o esperado, o espaço que se abriria no orçamento caso o Congresso aprovasse a PEC dos Precatórios aumentaria de R$ 91,6 bilhões, previstos no mês passado, para R$ 106,1 bilhões.

Isto porque, na PEC, há um dispositivo que altera a forma de correção do teto de gastos – a regra que limita o crescimento das despesas públicas à inflação.

Na regra atual, o teto é corrigido pela inflação acumulada nos 12 meses até junho, e na versão proposta ele seria ajustado pela inflação acumulada em 12 meses até dezembro. Isso significa que, quanto mais alta for a inflação este ano, maior será o espaço fiscal aberto em 2022.

“Os mercados hoje ensaiaram alguma recuperação na abertura em função do movimento recente – a Bolsa caiu bastante na semana passada –, mas, na verdade, tem um ambiente negativo. O ambiente fiscal está muito pesado e atrapalhando a dinâmica”, disse Flávio Serrano, economista-chefe da Greenbay Investimentos.

Segundo ele, a avaliação dos investidores é que o governo federal está inclinado a aumentar os gastos e que isso independe de qual será o formato final do teto de gastos após as discussões que estão em andamento no Congresso.

“Ninguém mais espera que saia alguma coisa boa”, afirmou Serrano, para quem a visão explica as sucessivas revisões para baixo na previsão de crescimento da economia e as projeções mais elevadas para a inflação em 2022.

A Greenbay espera estabilidade do Produto Interno Bruto (PIB) para o ano que vem, com possibilidade de retração.

Quedas duras no Ibovespa

O Banco Inter (BIDI11) liderou as quedas do índice hoje, pressionado pela contaminação do setor de tecnologia no mercado internacional após resultados de empresas da China e dos EUA, além da expectativa de juros mais altos no Brasil, que encarecem a captação de recursos para o crescimento.

Nem mesmo o anúncio do lançamento de seu homebroker internacional, que permitirá que seus clientes tenham acesso aos ambientes de compra e venda de ações das bolsas americanas Nasdaq e Nyse, foi capaz de segurar a derrocada dos ativos na sessão.

As units da instituição financeira recuaram 14,11%, a R$ 35,05, seguidas pelas ações preferenciais (BIDI4), com baixa de 12,65%, a R$ 11,68. Os papéis da Locaweb seguiram o movimento, com retração de 9,24%, a R$ 13,66.

O setor de varejo caiu em bloco na sessão, impactado pelos mesmos motivos do setor de tecnologia, uma vez que, com maior inflação e juros altos, o poder de compra da população é prejudicado.

Magazine Luiza (MGLU3) recuou 4,64%, a R$ 8,84, seguido por Americanas (AMER3), com baixa de 6,58%, a R$ 31,36, Lojas Renner (LREN3), que contraiu 3,53%, a R$ 31,18, e Via (VIIA3), com baixa de 0,18%, a R$ 5,71.

Quem se salvou no Ibovespa?

As ações de mineradoras e siderúrgicas foram as poucas que conseguiram fechar o dia no campo positivo, dado o avanço nos preços do minério de ferro na China por conta de medidas do governo para estimular a economia e de expectativas de um apoio maior ao setor imobiliário já em crise.

Os papéis da Vale (VALE3), maior posição da carteira teórica do Ibovespa, dispararam 5,56%, a R$ 67,58, acompanhados por CSN Mineração (CMIN3), com avanço de 0,68%, a R$ 5,97; CSN (CSNA3), com valorização de 1,92%, a R$ 21,80; e Usiminas (USIM5), com expansão de 2,94%, a R$ 12,61.

As petroleiras também tiveram ganhos nesta sessão, em meio à alta nos preços dos contratos futuros de petróleo e pelo anúncio das datas de pagamento de proventos bilionários da Petrobras.

As ações ordinárias da Petrobras (PETR3) avançaram 0,92%, a R$ 27,44, seguidas pelos ativos preferenciais (PETR4), com alta de 1%. PetroRio (PRIO3) ainda teve ganhos de 0,33%, a R$ 21,53, e 3R Petroleum (RRRP3) avançou 0,41%, a R$ 29,12.

Outra empresa que teve destaque no Ibovespa foi a TIM Brasil (TIMS3), que subiu 1,71%, a R$ 13,71, após o fundo KKR fazer uma oferta à dona da companhia, a Telecom Italia, para adquirir a empresa por cerca de US$ 12,2 bilhões e fechar seu capital.

O que vem pela frente?

Investidores deverão manter no radar a divulgação de diversos indicadores nos Estados Unidos. Nesta quarta-feira, 24, sairá a segunda prévia do PIB do terceiro trimestre, além do número atualizado de pedidos de auxílio-desemprego até 19 de novembro e os estoques atualizados de petróleo bruto do país.

Além disso, será publicada a ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), que aconteceu no início do mês e que pode dar mais pistas sobre decisões da autoridade monetária americana.

Por aqui, o mercado ainda segue atento à divulgação dos dados de inflação da primeira quinzena de novembro, medidos pelo IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que deverá acontecer nesta quinta-feira, e às definições a respeito da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Precatórios.

Com os números da inflação, o mercado poderá ajustar suas apostas para a reunião de dezembro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que definirá o ritmo de aumento dos juros no país.

É importante lembrar que a taxa básica de juros, a Selic, vem sofrendo aumentos além das projeções, na tentativa de conter a elevação desenfreada dos preços na economia.

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