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Ibovespa deve terminar 2022 melhor do que agora, mas jornada deve ser turbulenta

Especialistas divergem sobre as projeções para o Ibovespa ao final de 2022, mas a maioria vê índice acima de 100 mil pontos

Foto: Shutterstock

O primeiro semestre da Bolsa brasileira foi marcado por altos e baixos, mas terminou em tom negativo, com o Ibovespa, principal índice acionário da B3, caindo 6%. A segunda metade de 2022 também deve ser turbulenta, mas a expectativa é de que o Ibovespa chegue ao final de dezembro melhor do que está agora.

O Ibovespa começou o ano em uma toada positiva, tirando parte do atraso registrado em 2021, quando acumulou queda de quase 12%.

O aumento do preço de commodities como o petróleo e o minério de ferro foi o fator que ajudou o índice a se recuperar. Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3), por exemplo, foram especialmente beneficiadas por este movimento. Juntas elas representam quase um quarto da carteira do Ibovespa.

Além disso, também jogou a favor do Brasil a expectativa de uma reabertura mais ampla da economia em relação a outros países que ainda enfrentavam dificuldades na contenção da pandemia de Covid-19, segundo Victor Penna, head do Banco do Brasil Banco de Investimentos.

“Tivemos três meses muito positivos para a Bolsa devido a toda essa perspectiva em relação à reabertura da atividade, enquanto os EUA e a Europa ainda eram ameaçados pela variante Ômicron”, relembra.

Um terceiro elemento que favoreceu o Ibovespa foi a percepção de que a Bolsa estava “barata” em relação a seus pares de outros países, diz Ricardo Peretti, estrategista da Santander Corretora. Isso contribuiu para uma forte entrada de capital estrangeiro no mercado de ações brasileiro, mas este fluxo começou a mudar com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

“Em um primeiro momento o Brasil saiu como um dos beneficiários, por causa do aumento dos preços das commodities. Além disso, houve saída de recursos da Rússia para outros emergentes. Essa lua de mel do Brasil com o restante do mundo durou até mais ou menos o final de março”, explica Peretti.

A partir daí, a situação azedou. Em abril e maio, a percepção de risco fiscal aumentou, aponta o estrategista do Santander. Os investidores começaram a se preocupar com os sinais de que o governo abriria os cofres públicos para conter a escalada no preço dos combustíveis, em vez de usar os recursos para diminuir a dívida pública.

O cenário lá fora também piorou conforme os bancos centrais – em particular o dos Estados Unidos – começaram a elevar as taxas de juros para combater a inflação.

“Isso começou a machucar todas as bolsas, e a nossa vai a reboque. Um mundo em que os juros dos EUA estão altos é um mundo em que ativos de risco sofrem, e emergentes sofrem ainda mais”, diz Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original.

Com os juros maiores, os investidores começaram a cogitar a possibilidade de recessão econômica no exterior, o que azedou de vez o cenário – e isso, para Penna, é o que tem afetado mais a Bolsa recentemente.

“Tem um pouco mais de desconfiança fiscal, mas acho que, se o cenário internacional estivesse melhor, a Bolsa brasileira estaria acima de 100 mil pontos”, argumenta.

Incertezas à frente

A situação não deve ter grandes mudanças em um curto espaço de tempo. “Acho que essa desconfiança do investidor em relação à economia dos EUA no ano que vem não vai melhorar tão cedo. O mercado deve ficar na defensiva, com uma chance razoável de o S&P 500 continuar recuando”, argumenta Ricardo Peretti.

A volatilidade da Bolsa também deve continuar alta nos próximos meses, segundo Penna, do BB-BI, com empresas de commodities, principalmente aquelas expostas à economia chinesa, podendo se dar bem, enquanto as companhias focadas na economia doméstica devem seguir pressionadas.

Os investidores também devem passar a dar mais atenção às eleições presidenciais. Na análise de Peretti, será apenas quando o cenário eleitoral entrar em foco que a Bolsa brasileira deixará de ser regida pelos mercados externos.

“Só iremos quebrar isso com a eleição, para o bem ou para o mal”, afirma, acrescentando que a disputa começará a influenciar o mercado provavelmente entre o final de julho e o começo de agosto, quando houver definição de quem serão os candidatos e suas equipes.

Na análise de Caruso, do Banco Original, a proximidade com as eleições não deve prejudicar a Bolsa, uma vez que os dois candidatos a presidente que lideram as pesquisas de intenção de votos – o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o atual presidente, Jair Bolsonaro – já são conhecidos do mercado.

“Os desafios são enormes, os dois candidatos ainda irão dizer qual regime fiscal iremos viver nos próximos anos. Mas o pior para o mercado é a incerteza”, diz o economista. “A eleição tende a ser um evento volátil per se, mas menos nesse caso, porque os dois candidatos já foram experimentados”, completa.

Passada a eleição, a expectativa de Peretti é que, independentemente do resultado, haverá uma redução nas incertezas. Além disso, diz o estrategista, é possível que o mercado americano já tenha precificado a existência de uma recessão, o que deve deixar o horizonte de investimentos mais claro.

Ibovespa deve terminar 2022 acima de 100 mil pontos

A Santander Corretora, que no início deste ano previu que o Ibovespa terminaria 2022 em 125 mil pontos, mantém inalterada sua projeção. “Algumas coisas mudaram, mas ainda achamos que é factível”, afirma Peretti, apontando que, enquanto o cenário para os juros piorou, as perspectivas de lucro das empresas, sobretudo as de commodities, melhoraram. “É como se uma coisa compensasse a outra”, completa.

Na análise de Penna, caso não haja nenhum evento fora do radar – como foi a guerra na Ucrânia no primeiro semestre -, e supondo que não haja recessão nos EUA, que a inflação comece a se acomodar e que os juros se estabilizem, pode haver espaço para as ações se recuperarem no final do ano. “Tem que ter um ambiente muito estável, que não vemos há meses, para a Bolsa andar”, diz o especialista.

Em sua projeção mais recente, revisada há dois meses, o BB-BI acredita que o Ibovespa irá terminar o ano de 2022 na casa de 132 mil pontos. A estimativa, porém, pode ser revisada para baixo a depender dos resultados do segundo trimestre e de premissas macroeconômicas, ressalta Penna.

A última projeção do banco Safra é parecida: de acordo com relatório de 20 de maio, o banco passou a esperar que o Ibovespa encerre 2022 a 133 mil pontos, contra os 144 mil estimados anteriormente, com base na expectativa de um cenário macroeconômico mais desafiador.

Em seu último relatório de projeção para o Ibovespa, distribuído em 26 de junho, a equipe de analistas do Itaú BBA revisou sua estimativa para o Ibovespa ao fim de 2022 para 110 mil pontos, de 115 mil, citando as condições macroeconômicas, refletidas em um aumento do custo de capital, como principal motivo.

“No entanto, as expectativas de lucro por ação para 2022/2023 subiram, principalmente devido aos preços mais altos das commodities, que são parcialmente ofuscados pela piora nas expectativas de lucro por ação para companhias domésticas”, escreveram os analistas.

Caruso, do Banco Original, também está do lado mais pessimista. O economista não possui projeção para a cotação do Ibovespa, mas acredita que existe possibilidade de redução nas projeções de lucro das companhias listadas. “Os analistas ainda acreditam em lucros estáveis à frente. Na minha cabeça isso é uma interrogação”, diz o economista.

Na visão de Caruso, porém, existe a possibilidade de as commodities, sobretudo o setor de petróleo e gás, salvarem parcialmente a Bolsa neste ano.

Além disso, o economista aponta que, como o Ibovespa já está muito descontado, pioras a partir deste ponto talvez sejam apenas marginais. “Talvez estejamos flertando com os piores momentos”, explica, citando ainda as projeções de PIB (Produto Interno Bruto), que vêm sendo revisadas para cima.

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