Ibovespa descola do exterior e perde 0,6%; GetNet dispara

Preocupações com o cenário fiscal e ritmo de final de ano prejudicam o índice

Foto: Divulgação

O Ibovespa acentuou as perdas e operava em queda de 0,62% por volta das 13h30 desta quarta-feira, dia 22, aos 104.845 pontos. O movimento brusco contrasta com as bolsas do exterior, que operam em território positivo, em ritmo de final de ano.

No penúltimo pregão antes da pausa para o Natal, o S&P 500 operava em alta de 0,68%, o Dow Jones subia 0,41%, e o Nasdaq ganhava 0,83%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 tinha alta de 0,66%, o DAX, da Alemanha, subia 0,61%, enquanto o FTSE 100, de Londres, avançava 0,29%, mesmo depois da divulgação final do PIB do Reino Unido do terceiro trimestre, que foi revisado de 1,3% para 1,1%.

Nos EUA, o PIB do terceiro trimestre cresceu 2,3%, acima das expectativas do mercado, mas muito abaixo da leitura do trimestre anterior, de 6,7%.

Na análise de Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, ainda que o número evidencie uma desaceleração, o movimento é natural. “É bom lembrar que os EUA começaram a vacinar antes, então eles tiveram um processo de reabertura antecipada em comparação ao Brasil, por exemplo, que espera os efeitos da reabertura para o segundo semestre. Então é natural ter uma contração agora”, explica.

Além da redução de liquidez natural para o período e dos indicadores econômicos, a incerteza relativa aos impactos da variante Ômicron do coronavírus seguem gerando cautela, além das dúvidas em torno do valor do pacote de infraestrutura do governo do presidente dos EUA, Joe Biden.

No Brasil, o Congresso aprovou, na noite de terça-feira, o Orçamento de 2022, que destina R$ 4,9 bilhões para o fundo eleitoral, R$ 16,5 bilhões para as emendas do relator e R$ 1,7 bilhão para o reajuste dos policiais federais.

A aprovação do projeto tem um impacto negativo no mercado. “Tem uma sensação de descaso com todo o problema fiscal que o Brasil tem passado nos últimos anos. O governo federal não aprovou durante esse ano praticamente nenhuma medida que fortalecesse a questão fiscal. Muito pelo contrário, arranjou uma forma de driblar o teto e gastar mais no ano que vem”, diz Cruz.

Além disso, a FGV divulgou seu Índice de Confiança do Consumidor (ICC) para dezembro, que ficou em 75,5 pontos, alta de 0,6 ponto em comparação ao mês anterior. Em relação a dezembro de 2020, o número representa queda de 3 pontos.

As maiores baixas do Ibovespa eram de Natura (NTCO3), Rede D’Or (RDOR3) e Hapvida (HAPV3), que perdiam 4,99%, 3,44% e 2,54%, respectivamente. Na ponta oposta, GetNet (GETT11), Banco Pan (BPAN4) e Banco Inter (BIDI11) lideravam as altas, com avanços de 13,37%, 7,52% e 4,18%.

A forte queda das ações de empresas de saúde reflete temores com o avanço da Ômicron. Pela manhã, a operadora Hapvida publicou um balanço em que afirma que notou um “aumento nos atendimentos de pacientes com sintomas típicos de viroses (como Influenza) em praticamente todas as regiões onde atuamos”.

Uma nova onda de internações é algo que preocupa os investidores de companhias de saúde porque causa superlotação nos hospitais e gera uma postergação dos procedimentos eletivos. Segundo a analista Giovana Scottini, sócia da Meraki Capital, em entrevista à Agência TradeMap, a queda das empresas é um reflexo do que tem acontecido no exterior, espelhando notícias de outros países.

Para ela, porém, trata-se de uma visão superficial, uma vez que já há estudos que indicam que, com a Ômicron, o risco de hospitalização é 80% menor em relação às outras variantes.

O gestor Luís Felipe Amaral, por sua vez, fundador da gestora Equitas, reconhece que a pandemia pode piorar de novo, mas demonstra pouca preocupação com o longo prazo. “Pode haver flutuações de curto prazo, uma nova onda de fechamento, uma nova postergação de procedimentos, mas é questão de tempo para que as coisas voltem à normalidade”, diz.

A disparada da GetNet segue o anúncio da aprovação do pagamento de juros sobre o capital próprio referente aos exercícios de 2016, 2019 e 2021, no valor bruto de R$ 298 milhões.

As empresas que operam em alta nessa quarta-feira, segundo Cruz, reagem, em sua maioria, a anúncios de pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio.

Destaques corporativos

A PetroRio (PRIO3) protocolou a declaração de comercialidade da descoberta de Wahoo e o plano de desenvolvimento em regime de operação exclusiva junto à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O papel tinha alta de 0,92%, a R$ 19,81.

Ainda entre as petroleiras, a 3R Petroleum (RRRP3) concluiu a aquisição de 50% do Campo de Sanhaçu por US$ 6 milhões. O campo possui 5,3 milhões de barris de óleo equivalente (boe) em reservas e sua produção média alcançou aproximadamente 954 boe nos nove primeiros meses deste ano. Na esteira da notícia, a ação era negociada em alta de 0,75%, a R$ 31,07.

Em outra frente, Superintendência Geral do Cade aprovou sem restrições a joint venture entre a Cosan (CSAN3) e a Porto Serviços e Comércio, cujo objetivo será o aluguel e a terceirização de frotas e veículos. Negociado a R$ 21,19, o papel da Cosan tinha baixa de 0,7%.

Em outra notícia relativa a transportes, a agência de classificação de risco S&P Global Ratings elevou sua perspectiva de crédito corporativo da Simpar (SIMH3) de estável para positiva devido ao aumento de escala e à manutenção de uma abordagem prudente em relação à alavancagem. A ação caía 2,51%, a R$ 11,66.

O dia foi especialmente agitado para o setor de energia elétrica. A AES Brasil (AESB3) e a Unipar Carbocloro (UNIP6) fecharam um acordo para criar uma joint venture focada em energia eólica, que terá capacidade de produção de 91 megawatts de energia. Com isso, a AES Brasil elevou sua previsão de investimentos para o período até 2026 em R$ 359 milhões, para R$ 3,86 bilhões.

A R$ 10,91, o papel da AES Brasil operava em baixa de 0,27%, enquanto o da Unipar perdia 2,91%, a R$ 93.

O governo de Minas Gerais concedeu à Isa CTEPP (TRPL4) licenças ambientais prévias para a instalação de três novas subestações, duas linhas de transmissão e 303 torres no no Triângulo Mineiro. A ação tinha alta de 0,17%, a R$ 24,34.

Os controladores da Alliar (AALR3) fecharam um contrato para a venda de até 62.399.842 ações para o fundo de investimento do empresário Nelson Tanure, pelo valor de R$ 20,50 por ação. A operação pode atingir R$ 1,27 bilhão. Depois da notícia, o papel despencava 10,4%, a R$ 16,03.

O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou novos valores para contratos de concessão para capitalização da Eletrobras (ELET3). O valor adicionado pelos novos contratos de concessão foi fixado em R$ 67 bilhões, e a empresa pagará R$ 25,3 bilhões à União por outorgas de usinas. A ação subia 0,33%, a R$ 33,05.

A Engie (EGIE3) concluiu a aquisição da Assu Sol Geração de Energia SPE por até R$ 41 milhões, e suas ações caíam 0,31%, a R$ 38,55, enquanto a Equatorial (EQTL3) assinou contrato de concessão da Companhia de Saneamento do Amapá (CEA) e pagou outorga de R$ 930 milhões. Os papéis tinham recuo de 0,61%, a R$ 22,76.

A Neonergia (NEOE3) confirmou a venda de toda a capacidade disponível da Termopernambuco no leilão de reserva de capacidade, garantindo a receita fixa de R$ 207 milhões por ano até 2041. A ação perdia 1,44%, a R$ 17,13.

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