As operadoras de saúde Hapvida (HAPV3) e NotreDame Intermédica, que concluíram seu processo de fusão em fevereiro deste ano, tiveram seus resultados do quarto trimestre de 2021 impactados pelos altos índices de uso dos planos de saúde pelos beneficiários – algo conhecido no setor como sinistralidade – e por um aumento nos custos e despesas.
As sinergias esperadas da combinação de negócios, no entanto, devem começar a ajudar o desempenho da nova companhia já nos próximos trimestres, afirmou o time de gestão da empresa durante a teleconferência de resultados, na manhã desta quinta-feira (24).
No quarto trimestre de 2021, último período em que o resultado das duas companhias foi divulgado separadamente, a Hapvida registrou lucro líquido de R$ 200,2 milhões, crescimento de 112,4% em relação aos mesmos três meses do ano anterior, enquanto a Intermédica teve prejuízo de R$ 4,9 milhões, revertendo lucro de R$ 155,2 milhões.
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O Ebitda, por sua vez, recuou 8,8% para a Hapvida, alcançando R$ 394 milhões, e caiu 33,9% para a Intermédica, fechando o trimestre a R$ 260,3 milhões. As margens Ebitda das empresas no período foram de, respectivamente, 15,2% (compressão de 3,8 pontos percentuais) e 8,1% (-6,5 p.p.).
O desempenho do Ebitda, de acordo com a gestão, reflete a sinistralidade, que diminuiu, mas segue acima dos níveis normais por causa da terceira onda da pandemia de Covid-19 e refletindo os índices mais altos de empresas recém- adquiridas.
No caso da Hapvida, a sinistralidade aumentou 5,4 pontos percentuais no quarto trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, para 64,9%. Se considerada separadamente, a sinistralidade das empresas adquiridas ficou entre 78% e 87%, impactando o índice geral da companhia. Na Intermédica, a sinistralidade subiu 4,7 p.p para 76,1%.
Outro fator que pressionou o Ebitda e as margens das companhias foi um aumento nas despesas de vendas, gerais e administrativas.
Do lado da Hapvida, as despesas aumentaram principalmente em decorrência do aumento da sinistralidade, de um reconhecimento de comissões diferidas do Grupo São Francisco, de aumentos salariais e provisões para contingências.
Os custos da Intermédica, por sua vez, foram impactados por aquisições e despesas com vendas, além do aumento da sinistralidade, de aumentos salariais e de provisões para contingências.
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Sinergias começam a aparecer
Os próximos resultados da Hapvida devem vir melhores por causa das economias e das oportunidades de geração de receita que virão após a união da companhia com a Intermédica, disse o -presidente da empresa, Jorge Pinheiro Koren de Lima.
Ele espera que grande parte das chamadas sinergias virá da área comercial, com a criação de um novo produto de cobertura nacional.
Outro ponto que permitirá a redução de custos, segundo o também co-presidente Irlau Machado Filho, será a verticalização das operações, o que também favorece a competitividade e a qualidade de seus planos. Além disso, ao deixar de terceirizar serviços, a companhia adquire mais controle sobre os custos, segundo o executivo. “Quando o custo é feito dentro de casa ele pode ser 50% menor. Isso oferece competitividade adicional com preços mais razoáveis”, explica.
“As empresas continuam implementando seus planos para incrementar a verticalização, controles de tecnologia e atualização de redes para ter a melhor estrutura de custos possível. Isso vai nos permitir ser mais resilientes aos custos médicos, que impactaram o mercado no ano”, declara Lima.
Além disso, diz Machado, a empresa realizará um processo de adequação de produtos e preços das companhias adquiridas recentemente, o que pode ajudar a melhorar os resultados.
Como o mercado enxerga os resultados?
Os resultados da Hapvida e da Intermédica ficaram, de maneira geral, abaixo das expectativas do mercado.
“Tanto o HAPV quanto o GNDI publicaram resultados fracos no quarto trimestre, refletindo um crescimento orgânico fraco (com o faturamento ajudado pela consolidação de fusões e aquisições) e pressões de margem devido a níveis de sinistralidade ainda anormais”, diz a equipe de analistas do BTG Pactual Digital, em relatório publicado nesta quinta-feira.
Do lado negativo, os analistas de mercado destacam também a sinistralidade ainda elevada e um pior controle nas despesas de venda, gerais e administrativas, impactando a margem Ebitda. Outro ponto levantado pelo mercado é a redução no ticket médio, impactando a receita líquida.
Na ponta positiva, a equipe de analistas da Ativa Investimentos chama atenção para o aumento orgânico e inorgânico no número de beneficiários de planos de saúde e para a expansão da rede própria de atendimentos.
O que esperar para as ações?
Apesar dos resultados fracos, o mercado permanece, de uma maneira geral, otimista com a ação da Hapvida, considerando principalmente as potenciais sinergias da combinação de negócios entre as duas empresas.
Como pontos positivos, a Ativa destaca o modelo verticalizado, que reduz a sinistralidade; o histórico de aquisições de sucesso; e os potenciais ganhos de sinergias tanto de custo quanto de receita. A Genial Investimentos acrescenta que espera uma redução gradual nos índices de sinistralidade ao longo deste ano, além de um aumento no ticket médio devido ao repasse de preços.
Apesar de afirmar gostar da tese de investimento, os analistas da Ativa não veem potencial de valorização para as ações da Hapvida, e defendem a manutenção do ativo na carteira. O Goldman Sachs também classifica o papel como neutro.
A XP Investimentos, por sua vez, recomenda a compra da ação, assim como a Genial e o BTG. “Apesar dos resultados fracos do quarto trimestre, continuamos confiantes de que os ganhos de escala consideráveis (principalmente da fusão HAPV-GNDI) e a forte eficiência do modelo de negócios verticalmente integrado prevalecerão este ano”, dizem os analistas do banco.
A média dos preços-alvo destas instituições financeiras é de R$ 15,50, o que corresponde a alta de 29% em relação ao preço do fechamento da última quarta-feira (23), de R$ 11,98.
De uma maneira geral, o mercado parece concordar com esta análise. De acordo com dados da Refinitiv disponíveis na plataforma TradeMap, 11 das 12 instituições financeiras consultadas recomendam compra para a ação, enquanto a restante classifica o ativo como neutro. A mediana de preços-alvo é de R$ 16,85 – potencial de alta de 41%.
Por volta das 14h50 desta quinta-feira, a ação da Hapvida era negociada em queda de 3,24%, a R$ 64,83.