Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Desemprego cai mais que o previsto com estímulos do governo, mas melhora pode durar pouco

A queda do desemprego no trimestre encerrado em junho foi maior que a esperada pelo mercado e dá sinais de que a economia brasileira está em ritmo de recuperação, mesmo que movida por medidas pontuais e artificiais.

O otimismo, porém, perde força diante de um cenário de juros em alta, acima de 13% ao ano por um período incerto, e de inflação acima da meta neste ano e em 2023.

A taxa de desemprego doméstica retraiu para 9,3% no segundo trimestre de 2022, o menor patamar para o período desde 2015, segundo dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na manhã desta sexta-feira (29). Estimativas colhidas pelo Refinitiv apontavam que a expectativa do mercado era de uma taxa de 9,4%.

O resultado positivo vem em linha ao apresentado pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) nesta quinta-feira (28), que mostraram a criação de 277 mil vagas com carteira assinada em junho.

Para Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, os números do IBGE mostram o aquecimento da economia após o período de forte retração gerada pela pandemia da Covid-19.

O movimento é puxado pelas medidas lançadas pelo governo federal, principalmente a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Benefícios, que entre outras ações, aumenta o Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 e distribui renda para taxistas e caminhoneiros.

O efeito dessas medidas ao longo dos próximos meses e grandes eventos no segundo semestre, como eleições e Copa do Mundo, além de datas importantes para o comércio, devem manter o desemprego em queda até o fim do ano.

⇨ Acompanhe as notícias de mais de 30 sites jornalísticos de graça! Inscreva-se no TradeMap!

“Todo esse capital distribuído pelos auxílios vira consumo e aquece a economia, mesmo que não seja de uma forma perene”, afirma Laatus. “Vemos um período de criação de vagas para suprir esse aumento de demanda pontual”.

A avaliação de André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, é semelhante. Ele destaca que os efeitos artificiais que o governo criou não devem sustentar a economia, e em consequência o mercado de trabalho, em horizontes mais longos.

Apesar de grande parte dos analistas dar como certa a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600 no próximo ano, independente de quem vença as eleições, outras medidas devem ser retiradas.

Nesta situação está o corte do ICMS (Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias) sobre combustíveis, energia, entre outros produtos.

“No curto prazo, são medidas que jogam dinheiro na economia e geram estímulo. A dúvida é se isso vai durar, talvez não. Muito do que foi aprovado foi em caráter emergencial tende a ser retirado no ano que vem”, afirma.

Juros altos e inflação preocupam

O otimismo com os dados do IBGE é ofuscado em parte pelas expectativas de juros elevados e inflação acima da meta no próximo ano.

A expectativa para a Selic medida pelo Boletim Focus, que reúne mais de uma centena de previsões de analistas, aponta para a Selic em 13,75% no fim do atual ciclo de alta. Porém, parte do mercado já começa a enxergar a taxa básica de juros em 14% ao ano para que a inflação volte para a meta perseguida pelo Banco Central.

Ao mesmo tempo, aumentaram as expectativas do mercado sobre até onde os juros ficarão altos. O Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (25) mostrou que os analistas preveem corte na Selic para 10,75% ao fim de 2023. Há um mês, a previsão era de 10,25%.

A mudança é reflexo da perspectiva de uma inflação maior no ano que vem do que esperado anteriormente, ao passo que a previsão deste ano está em queda pela retirada do ICMS sobre os itens com forte peso na variação de preços.

Os juros altos para domar a inflação também incidem diretamente no arrefecimento da atividade econômica, tendendo a impactar negativamente o mercado de trabalho.

“Taxa de desemprego baixa com inflação e juros altos é preocupando porque em algum momento uma das pontas tem que ceder”, afirma Laatus. “É o mesmo caso dos Estados Unidos, onde a única forma de baixar inflação é aumentar juros, e isso tem o risco de jogar a economia numa recessão. Aqui, nós corremos o mesmo risco.”

Apesar de reconhecer os efeitos positivos da PEC dos Benefícios e redução de tributos na geração de emprego no curto prazo, Gustavo Sung, economista-chefe da Suno, destaca os efeitos da política monetária no quadro geral.

“Para o segundo semestre, a perspectiva é de um arrefecimento da atividade diante dos efeitos da elevação dos juros e da alta inflação”, afirma.

Na mesma linha, Claudia Moreno, economista do C6 Bank, aponta a queda do desemprego no curto prazo, mas vê reversão do índice no ano que vem pelas questões macroeconômicas.

“Daqui para frente, acreditamos que o desemprego vai continuar caindo até o final do ano, fechando 2022 com uma taxa de 8,7%, e voltará a subir no ano que vem, por conta do maior impacto dos juros altos e da expectativa de desaceleração global”, disse.

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.