A Corsan, estatal de saneamento básico localizada no Rio Grande do Sul, retomou as negociações com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para abertura de capital na B3.
Para a empresa, a oferta de ações será um dos meios de atingir a meta de investimentos, de cerca de R$ 10 bilhões, implementada pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), com o objetivo de alcançar a universalização dos serviços de água e esgoto até o ano de 2023.
Segundo a empresa, os investimentos operacionais, feitos pelo governo do estado do Rio Grande do Sul, são de baixa qualidade. Além disso, há dificuldade em captar novos financiamentos, por ser uma estatal.
Portanto, a empresa projeta realizar uma oferta primária, na qual os recursos captados serão direcionados para o caixa da empresa, em um montante estimado de R$ 1 bilhão.
Além disso, a empresa pretende realizar uma oferta secundária, na qual o acionista controlador (governo do estado) venderá fatias das suas participações no capital da companhia, mantendo uma posição abaixo de 50%, e, consequentemente, perdendo a posição de controlador majoritário.
Análise das empresas do setor
Ao investidor que leu a notícia da retomada dos planos de IPO como um possível investimento na Corsan, vale a pena comparar os resultados da empresa com outras do setor que já estão listadas em Bolsa. São os casos de Sabesp (SBSP3), empresa de saneamento de São Paulo, e Sanepar (SAPR11), do Paraná.
Em análise feita pelo TradeMap, a estatal gaúcha demonstrou boa competitividade, tomando como base os resultados do primeiro trimestre, em especial nos indicadores de endividamento e margem líquida.
A margem líquida é um dos indicadores que avaliam a rentabilidade da companhia. Trata-se de uma maneira de verificar a capacidade da empresa em transformar as receitas obtidas em lucro. A margem líquida é basicamente a proporção do lucro gerado no trimestre em relação às receitas obtidas.
No primeiro trimestre, tanto a Sabesp quanto a Sanepar elevaram a margem líquida, enquanto a Corsan teve queda. Ainda assim, as duas primeiras não conseguiram superar o resultado da estatal gaúcha.
A Corsan teve uma margem líquida de 21,3%, levemente superior às concorrentes, mas com uma queda de 3 pontos percentuais (p.p.) em comparação com o primeiro trimestre de 2021. A empresa apresentou um lucro de R$ 184 milhões, 2,3% menor em relação a igual período de 2021.
A Sanepar, por sua vez, obteve uma margem líquida de 20,7%, crescimento de 0,6 p.p. em relação ao mesmo período de 2021. Já a Sabesp reportou uma margem de 20%, avanço de 9,4 p.p.
Em relação ao endividamento, a Corsan apresentou a menor alavancagem, que calcula o quanto a dívida líquida da companhia representa em relação ao Ebitda dos últimos 12 meses.
Neste trimestre, a empresa reportou uma alavancagem de 0,55 vez, enquanto a Sanepar e da Sabesp ficaram em 1,34 vez e 2,21 vezes, respectivamente, segundo dados apresentados na plataforma do TradeMap.
Alavancagem da Sabesp

Ao fazer esta conta, é possível saber quanto tempo levaria para a empresa pagar as dívidas por meio da utilização dos recursos obtidos nas atividades operacionais. A Corsan, portanto, levaria cerca de seis meses para honrar com as obrigações, enquanto a Sanepar levaria mais de um ano e a Sabesp, mais de dois.
Alavancagem da Sanepar

Por outro lado…
Os indicadores em que a Corsan não se sobressai são os de retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) e a margem Ebitda.
O ROE tem como objetivo medir a capacidade da empresa em gerar valor para si mesma e para os investidores com base nos seus próprios recursos. No primeiro trimestre de 2022, a Corsan reportou um ROE de 11,4%, acima do resultado da Sabesp, de 10,75%, mas abaixo do da Sanepar, de 15%, segundo dados retirados da plataforma TradeMap.
Mesmo que não tenha o melhor desempenho, a empresa demonstra eficiência na missão de ser rentável por meio dos recursos que tem disponíveis.
Já na margem Ebitda, a Cosan fica completamente para trás. O indicador é responsável por medir a eficiência operacional da empresa, ou seja, identifica a capacidade da empresa em gerar lucro por meio da comercialização de seus principais produtos.
No primeiro trimestre, a Corsan reportou uma margem Ebitda de 31,3%, queda de 0,6 p.p., em comparação ao primeiro trimestre de 2021.
Apesar do avanço de 11,3% na receita líquida, para R$ 867 milhões, os custos e despesas aumentaram em maior proporção, de 12,3%, para R$ 595 milhões, em comparação com o primeiro trimestre de 2021. Este resultado explica a perda de margem da empresa no trimestre.
Enquanto isso, a Sanepar reportou uma receita líquida de R$ 1,4 bilhão, avanço de 14,7% em comparação com primeiro trimestre, e uma margem Ebitda de 42,3%, queda de 0,3 pontos percentuais.
Já a Sabesp incrementou 4,1% na receita líquida e atingiu R$ 4,8 bilhões. A margem Ebitda da empresa foi a única que cresceu e ficou em 35,3%, avanço de 0,3 p.p. em comparação com primeiro trimestre de 2021.
Portanto, a Corsan apresenta a menor margem Ebitda dentre as empresas comparadas. Sendo assim, é necessário que a empresa busque formas de aumentar a lucratividade, seja com redução nos custos e despesas operacionais ou com o aumento nos preços dos produtos oferecidos.