Como a volta das viagens corporativas deve impulsionar Azul (AZUL4), Gol (GOLL4) e CVC (CVCB3)

O setor de viagens corporativas reportou um faturamento de R$ 869 milhões em março

Foto: Shutterstock

Quando o Brasil passou a experimentar as primeiras flexibilizações da pandemia, tanto em 2020 quanto em 2021, as empresas ligadas ao setor de turismo, como as companhias aéreas e as agências de viagens, sentiram um alívio em seus negócios, graças à demanda que havia ficado reprimida durante os períodos de maior restrição e começava a se soltar, ainda que sem retomar os níveis anteriores à crise.

Estes momentos de recuperação, porém, estavam mais concentrados em clientes pessoa física, que estavam aproveitando para voltar a viajar de férias e reencontrar parentes. Já os clientes corporativos seguiram mais retraídos, até porque a maior parte dos eventos seguiu no formato virtual, e o home office, que havia se mostrado viável, estava ganhando em adesão.

Em 2022, contudo, o cenário tem começado a mudar. Os eventos estão voltando a ser presenciais e as medidas de restrição da pandemia nunca estiveram tão flexíveis.

Em março, o setor de viagens corporativas reportou um faturamento de R$ 869 milhões, apenas 2% menor em relação ao mesmo período de 2019, segundo a Associação Brasileira de agências de viagens corporativas (Abracorp).

O resultado é que as companhias têm retomado as viagens corporativas, passando a ser um motor a mais para as empresas ligadas ao turismo que têm lutado para recuperar os níveis do pré-pandemia. Entre as listadas na Bolsa, é possível destacar as aéreas Azul e Gol e a operadora de turismo CVC.

Azul (AZUL4)

No balanço do primeiro trimestre deste ano, a Azul mostrou que aumentou a oferta de assentos em 26,4%, em comparação com o mesmo período de 2021, para atender a forte demanda de viagens corporativas.

Este cenário impactou positivamente as receitas de passageiros por assento-quilometro oferecido (PRASK), que avançaram 40,7% em comparação ao primeiro trimestre de 2021 e 7,1% em relação ao mesmo período de 2019.

A receita corporativa da Azul, por sua vez, avançou 20% nestes primeiros três meses do ano em comparação com mesmo período de 2019. Porém, o tráfego corporativo ainda está em 71% dos níveis pré-pandemia, o que demonstra que ainda há oportunidades de crescimento.

Essa demanda reprimida por viagens corporativas fez com que a empresa elevasse o preço das tarifas, assim, compensando o aumento nos preços dos combustíveis e fortalecendo a rentabilidade da empresa.

Apesar do aumento nos preços dos bilhetes aéreos, a margem Ebitda da empresa foi de 18,6%, 10 pontos percentuais abaixo dos patamares dos três primeiros meses de 2019.

Já para o segundo trimestre, o CEO da empresa, John Rodgerson, espera um recorde de receita operacional e de receita por assentos-quilômetro oferecidos (RASK), resultado expressivo considerando que o segundo trimestre é sazonalmente mais fraco.

GOL (GOLL4)

Outra empresa aérea que foi favorecida pelo aumento das viagens foi a Gol. Nos meses de janeiro e fevereiro de 2022, a empresa viu as vendas crescerem 10% e 30%, respectivamente, em comparação com o mesmo período pré-pandêmico em 2019.

Já em março de 2022, os valores cresceram ainda mais, em cerca de 60% em comparação com o mesmo período em 2019. Este forte desempenho foi alavancado pelo aumento de 63% nas vendas para o segmento corporativo.

Impulsionada pela forte demanda corporativa, a empresa reportou avanço de 105% nas receitas, que atingiram R$ 3,2 bilhões em comparação com igual período de 2021.

Assim como a Azul, a Gol também cresceu sua oferta de assentos, em 14,7%, nos principais aeroportos brasileiros, e fez mudanças na malha aérea. Com a retomada dos aeroportos, a empresa incrementou a oferta em 30% no aeroporto de Congonhas, polo significativo para passageiros corporativos, e em 100% no aeroporto de Curitiba.

Por meio das mudanças na malha aérea, a empresa acredita que terá melhor posicionamento para atender o atual crescimento da demanda, principalmente no segmento corporativo.

CVC (CVCB3)

A CVC Corp, maior agência de turismo da América Latina, desfrutou, também, dessa alta demanda no segmento de viagens corporativas.

Neste primeiro trimestre de 2022, o desempenho no segmento de vendas corporativas (B2B) apresentou um crescimento de 139,1% nas reservas confirmadas em relação ao primeiro trimestre de 2021.

As reservas confirmadas totais no primeiro trimestre de 2022 atingiram R$ 2,8 bilhões, valor 110,5% superior ao mesmo período de 2021, mas ainda 27,72% abaixo dos patamares reportados no mesmo período pré-pandemia em 2019.

Já em relação à receita líquida do segmento corporativo, houve avanço de 46,1% em comparação com mesmo período de 2021. Este aumento pode ser explicado pelo crescimento de vendas de produtos aéreos, aquecimento de vendas corporativas e aumento no preço médio dos produtos (tíquete médio).

O tíquete médio da empresa cresceu 63,5%, para R$ 1.261, no primeiro trimestre de 2022 em comparação com os R$ 772 reportados no mesmo período de 2021 — o que permitiu que a empresa apresentasse uma receita líquida de R$ 292,8 milhões, avanço de 76,5% em comparação com o primeiro trimestre de 2021, porém 37,4% inferior aos R$ 467,7 reportados nos primeiros três meses de 2019.

Cenário nacional de viagens corporativas

No ano de 2021, as viagens corporativas demonstraram recuperação em comparação com o ano de 2020, porém ainda estão longe de alcançar os patamares de 2019.

Apesar da recuperação em relação ao ano de 2020, vale ressaltar que, entre os meses de março e setembro, o setor ficou paralisado por conta da pandemia de Covid-19.

O setor foi fortemente prejudicado pelas restrições impostas pela pandemia, reagendamento de viagens já confirmadas e, também, pelo pico de casos de Covid-19 nos últimos meses de 2021, que assustaram os viajantes e, consequentemente, reduziram as viagens durante o período.

Porém, no primeiro trimestre de 2022, com maior porcentagem da população vacinada e fim de várias restrições, o setor apresentou melhora. Neste primeiro trimestre, as viagens corporativas tiveram um faturamento de R$ 869 milhões, apenas 2% menor em relação ao mesmo período de 2019.

Segundo dados do ViajaNet, agência brasileira de viagens online, a busca pelo termo “viagens corporativas” cresceu 127% no primeiro trimestre deste ano, enquanto “turismo de negócios” e “turismo corpotativo” avançaram 50% e 22% respectivamente.

Este aumento na busca das empresas companhias por viagens pode ser explicado pela volta dos eventos presenciais que foram remarcados para este ano de 2022.

O CEO da travel tech Onfly, empresa que presta serviços de gestão de viagens corporativas, Marcelo Linhares, disse que o mês de março foi o melhor da história para a startup, com um volume de venda nove vezes maior do que o período pré-pandemia.

Embora haja otimismo para melhor desempenho do setor em 2022, é importante lembrar que o turismo depende de diversas variáveis que podem dificultar essa retomada.

Com o cenário macroeconômico conturbado, surgem alguns desafios que devem ser levados em consideração como a inflação alta, que acumula avanço de 12,13% nos últimos 12 meses, o reduzido poder de compra da população e o elevado preço dos combustíveis.

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