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Como a M. Dias Branco (MDIA3) quer crescer para driblar a alta do preço do trigo – veja entrevista

Dona de marcas como a Piraquê e a Adria tem um grande desafio para continuar expandindo: o preço do trigo no mercado internacional

Foto: Shutterstock/tadamichi

Apesar de registrar uma alta na receita no terceiro trimestre deste ano, aumentar sua exposição no Sul e Sudeste e acelerar o processo de internacionalização da marca ao comprar uma empresa uruguaia, uma commodity deve comprimir os resultados da M. Dias Branco (MDIA3) nos próximos trimestres: o trigo.

Segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), o preço da tonelada da commodity em novembro de 2019, antes da pandemia, era cotado a R$ 819, enquanto em novembro de 2020, primeiro ano da pandemia, quando as commodities deram um salto, em função da dúvida sobre a oferta e a demanda do trigo, o valor era de R$ 1,334. Ou seja, um salto de 62,88%.

Mas foi em julho deste ano que o preço do trigo bateu o pico, de R$ 2,1 mil, período esse no qual o mundo passa por um cenário elevado de inflação, inclusive com a possibilidade de recessão global em 2023. Atualmente, a commodity é cotada a R$ 1,819 mil.

Então, diante de um cenário altamente desafiador, o diretor de relação com os investidores e novos negócios da M. Dias Branco, dona de marcas como Piraquê e Adria, revelou em entrevista exclusiva à Agência TradeMap que a empresa busca pavimentar sua avenida de crescimento em três pilares para continuar apresentando bons resultados.

A estratégia

Para Fábio Cefaly, o primeiro passo da estratégia montada é expandir os negócios nas regiões Sul e Sudeste, sem deixar de focar no seu core business, que é o mercado da região Nordeste.

O balanço financeiro e operacional da M. Dias Branco no terceiro trimestre deste ano mostra que 60,7% da receita bruta no acumulado de janeiro a setembro é proveniente das vendas no Nordeste, enquanto o segundo maior mercado, a região Sudeste, fica com 24,8%.

Para aumentar a participação do Sudeste nas receitas, o executivo afirmou que a empresa tem investido nas marcas Adria e Piraquê, além da Isabela, na região Sul. “Mudamos nosso processo de precificação, lançando produtos com maior valor agregado”, comenta Cefaly.

Se o primeiro passo é a expansão do negócio em regiões estratégicas, o segundo leva em consideração produtos de maior valor agregado, como os produtos saudáveis e snacks.

Para tal, a companhia adquiriu a Latinex, no final de 2021, enquanto em junho deste ano comprou a Jasmine, ambas focadas em alimentos saudáveis. No terceiro trimestre, a receita deste segmento cresceu em 109% na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, atingindo R$ 90,8 milhões.

Por fim, o terceiro pilar de crescimento é a internacionalização da marca. No último dia de outubro, a empresa informou que adquiriu a uruguaia Las Acacias, focada no mercado de massas, mas com um portfólio que também inclui molhos e mistura para bolo. O valor da compra não foi revelado.

“Até outubro, nossa presença internacional acontecia via exportações para mais de 40 países”, diz o executivo, acrescentando que a agenda de expansão é de longo prazo e que existe um foco, num primeiro momento, no mercado da América Latina. 

“Seguimos com o radar ligado pois temos uma área de fusão e aquisição. Temos esse foco no continente, até pela proximidade geográfica, cultural e de idiomas. Já exportamos para a América Latina, o que facilita o processo”, afirma o diretor da companhia.

O que o mercado acha disso

Segundo Bruno Damiani, analista de commodities da Western Asset, o movimento da M. Dias Branco de comprar empresas para aumentar o portfólio é positivo, mas ele acredita que o foco tem que ser em ganhar mercado no Sul e Sudeste. “Esse mercado é mais competitivo, mas tem um espaço para ‘brigar’ aqui antes de acelerar as operações fora do Brasil”, explica.

Damiani ressalta que a companhia tem um bom espaço para crescer na distribuição nessas regiões, já que possui uma participação no mercado (market share) do Nordeste de 60%, enquanto no Sudeste e Sul, essa fatia é de 25%.

“Existe um espaço para investir nessas regiões, mas a margem é mais pressionada porque a companhia enfrenta a presença de marcas globais, como Nestlé e Bauducco, além de marcas nacionais. Com um market share de 25% nessas regiões, a empresa pode investir em marketing e logística para aumentar a distribuição”, analisa o analista da Western.

O repasse e o terceiro trimestre

Além do trigo, a M. Dias Branco também utiliza o óleo de palma para executar sua produção. De acordo com Cefaly, os custos de ambas estão num patamar elevado em dólar, como se pôde ver no terceiro trimestre.

Apesar dessa pressão nos custos, a empresa conseguiu repassar esse aumento de preços nos seus produtos. Com isso, a receita da produtora de massas e biscoitos subiu 37% na comparação com o mesmo período do ano anterior, atingindo R$ 2,98 bilhões, um recorde para um trimestre.

Contudo, o lucro líquido da companhia se manteve estável na mesma base de comparação, para R$ 395 milhões.

No terceiro trimestre, o repasse dos custos nos produtos da M. Dias Branco foi próximo da inflação, segundo Cefaly. Dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) apontam que o indicador atingiu 6,47% nos últimos 12 meses, após um pico de mais de 10% no meio deste ano. Pelos cálculos de Damiani, o trigo representa 30% dos custos da companhia.

“A indústria inteira fez alguns repasses nos últimos trimestres para compensar o impacto das commodities e a desvalorização do real. Não foi possível compensar, foi possível mitigar”, avalia o diretor. Segundo ele, o repasse de custos pode ter atingido um teto. “O aumento de preços já foi feito esse ano. Ano que vem é outra história”.

Com o contínuo cenário de pressão nos custos, é possível que as margens da M. Dias Branco permaneçam muito pressionadas, uma vez que a alta do trigo não tem um indicativo de que vá arrefecer.

Isso porque a indefinição sobre o futuro da guerra entre Rússia e Ucrânia coloca ainda mais pressão no custo do trigo, já que os russos são os maiores produtores da commodity no mundo.

Olhando para a frente, no médio e longo prazo, Cefaly acredita que a empresa possa fazer um repasse superior à inflação. “Esperamos que essa trajetória (de alta das commodities) se inverta”.

Mas, na visão do analista da Western, mesmo conseguindo repassar os custos nos preços dos produtos, a M. Dias Branco terá muita dificuldade de aumentar seu volume de vendas no país, não conseguindo aumentar seu market share.

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