Como a alta de juros pode ajudar a Infracommerce (IFCM3) em novas aquisições

O CFO da companhia, Raffael Quintas, concedeu entrevista exclusiva à Agência TradeMap e explicou a estratégia de aquisições

Foto: divulgação

O aumento dos juros costuma ser um terror para as empresas de tecnologia. 

As companhias do setor, que em geral precisam captar recursos no mercado para financiar suas expansões, naturalmente sofrem quando o dinheiro fica mais caro e mais escasso. 

Além disso, como são negócios apontados pelos investidores como mais arriscados, com modelos que ainda precisam se provar lucrativos, perdem atratividade quando os juros estão mais altos. 

A Infracommerce, porém, uma empresa que oferece serviços de tecnologia e logística para companhias de e-commerce e que abriu capital em 2021, tem preferido ver o copo meio cheio. 

A empresa, que tem se mostrado ativa em fusões e aquisições, pode aproveitar o cenário de juros em alta para comprar por preços menores as companhias de tecnologia que se desvalorizaram desde que a Selic voltou a subir. 

Desde o IPO, realizado em maio, a Infracommerce já fez quatro aquisições, entre as quais duas envolveram concorrentes diretas no mercado brasileiro, a Synapcom, por R$ 1,2 bilhão, e a Tatix, por R$ 124 milhões. 

No início desse ano, após fechar a aquisição mais recente, da Tevec, por R$ 25 milhões, a companhia decidiu fazer uma pausa, para se concentrar na integração das que foram adquiridas. A ideia é só voltar a fechar negócios no segundo semestre ou em 2023. 

Mas a alta dos juros pode forçar uma antecipação.

“Não é o foco fazer aquisições no momento, mas não queremos perder oportunidades”, disse o CFO da companhia, Raffael Quintas, em entrevista à Agência TraMap. “O aumento da taxa de juros afeta o valuation de todo mundo, inclusive das empresas que queremos comprar. Já mapeamos três ou quatro empresas.” 

A taxa básica de juros voltou a subir no Brasil em março do ano passado, após atingir, durante a pandemia, a mínima histórica de 2% ao ano. Hoje, está em 11,75%. E deve continuar subindo. A mediana das projeções do mercado aponta para uma Selic a 13% ao fim de 2022. 

Quando fez o IPO, no ano passado, a Infracommerce deixou claro que pretendia crescer por meio de aquisições. No início, a ideia era comprar empresas concorrentes ou similares, dentro e fora do Brasil, de olho na estratégia de ser uma empresa com presença na América Latina. 

Após levantar R$ 870 milhões na abertura de capital, comprou a Synapcom e a Tatix no Brasil e foi até a Argentina para levar, por US$ 9 milhões, a Summa Solutions, que desenvolve plataformas de e-commerce para outras empresas, um produto que a Infracommerce já tem no Brasil. 

A Infracommerce, vale lembrar, é uma empresa que opera no chamado full commerce, com serviços que vão desde a oferta de plataformas de e-commerce para marcas, plataformas de pagamentos e operações de logística e entrega de produtos, com centros de distribuição espalhados pelas cidades.

As primeiras aquisições tinham como objetivo ampliar o que a companhia já fazia, e também entrar em outros países da região, como foi com o caso da Summa Solutions.

Já a compra mais recente, da Tevec, mostrou uma mudança da estratégia. Agora, a Infracommerce busca empresas que tenham soluções de tecnologia que possam complementar o seu ecossistema. 

A Tevec, por exemplo, cria algoritmos que são capazes de prever a demanda por produtos, otimizar pedidos e reduzir o capital de giro necessário das companhias. Fundada em 2013 e com uma receita operacional líquida de R$ 6 milhões ao ano, a companhia levou consigo 22 clientes, e alguns deles são nomes conhecidos: Allied, Tok Stok, Bimbo, Danone, Mondelez e Vigor. 

Com esse tipo de aquisição, a Infracommerce consegue ampliar a sua receita, por meio de novos produtos que pode oferecer a seus clientes, na chamada venda cruzada. 

Quando voltar a anunciar aquisições, a ideia é seguir com essa estratégia. A companhia só deve fazer compras como as do ano passado, de empresas similares, se for para avançar por outros países. 

“A América Latina, hoje, representa de 15% a 20% da nossa receita e corresponde a 55% da população de fora do Brasil na região, então há um espaço para crescer essa participação”, afirmou Quintas. 

Por ter clientes globais, como Nike, Samsung e Motorola, a Infracommerce acredita que isso facilitará a expansão para outros mercados. 

“São empresas que atuam na América Latina. Se elas estão tendo uma boa experiência com a Infracommerce, é natural que nos procurem para expandir seus negócios para outros países, que foi o que aconteceu com a Nike”, disse. 

Com as aquisições, a Infracommerce mais do que dobrou o número de clientes. Ao final de 2020, antes do IPO, eram 201. Hoje, são 520. 

Como consequência, as vendas transacionadas pelas plataformas da Infracommerce cresceram 52% no quarto trimestre, no balanço mais recente, para R$ 2,4 bilhões, em relação a igual período do ano anterior. 

A receita líquida da companhia, por sua vez, somou R$ 165,5 milhões no quarto trimestre, alta de 79,9% em comparação a igual período do ano anterior, também impulsionada pelas aquisições. 

Receita líquida da Infracommerce em 12 meses

Plataforma do TradeMap

Mesmo sem as aquisições, a Infracommerce teria crescido. Sem considerar os clientes que entraram por causa das empresas incorporadas, a companhia teria tido avanço de 29% na receita líquida. 

O lado “ruim” das aquisições é que a margem da companhia tem estado pressionada, em razão dos custos para integrar as empresas adquiridas. 

Em 2021, a margem da empresa em relação ao Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) foi de 6,1%. Para 2022, contudo, a Infracommerce espera que haja uma melhora, para algo em torno de 10%, quando boa parte das incorporações já estiver superada. 

Com os custos e investimentos relacionados às aquisições, a empresa também terminou o ano passado no prejuízo. Em 2021, o resultado líquido da companhia ficou no vermelho em R$ 39,1 milhões. 

Para 2022, a companhia projeta que as vendas transacionadas pelos clientes atinjam R$ 13 bilhões, crescimento de 84% em relação a 2021, e que a receita líquida alcance R$ 950 milhões, avanço de 125% na mesma base de comparação. 

São projeções que já consideram que 2022 é um ano de desafios macroeconômicos. Com os juros e a inflação em alta, os brasileiros têm o poder de consumo limitado, afetando os clientes da Infracommerce.

Além disso, com o arrefecimento da pandemia e reabertura da economia, a expansão do e-commerce deve perder força. 

A Infracommerce, contudo, acredita que tem um modelo de negócio que lhe dá condições de passar por essas adversidades sem sofrer tanto quanto o varejo de forma geral. 

“Quando uma grande marca decide vender conosco, em vez de vender por meio de um grande marketplace, como Mercado Livre ou Via, acaba economizando na taxa que o marketplace cobraria dele”, disse o CFO. “É uma venda direta para o consumidor, que traz uma economia de custo, em um momento em que a inflação está subindo”. 

O que o mercado vê 

Os analistas que acompanham a Infracommerce também estão otimistas com a empresa. Segundo projeções compiladas pela Refinitiv e apresentadas na plataforma do TradeMap, seis dos sete analistas consultados recomendam compra da ação da companhia, enquanto o analista restante tem uma posição neutra em relação ao ativo. 

A mediana das estimativas aponta para um preço-alvo de R$ 21, uma valorização potencial de 150,9% em relação à cotação atual. Por volta das 15h30, a ação da Infracommerce era negociada a R$ 8,37, em queda de 6,9% no pregão desta terça-feira (19).

Nem tudo são flores 

O otimismo do mercado não isenta a Infracommerce de ressalvas. Na semana passada, a empresa foi alvo de uma polêmica envolvendo o seu plano de remuneração aos executivos em ações — as chamadas stock options –, com os analistas do BTG Pactual jogando luz sobre o tema. 

A polêmica começou no último dia 8, uma sexta-feira, quando a empresa divulgou um novo programa de remuneração aos executivos, para ser votado pelos acionistas em assembleia marcada para o dia 28 de abril. 

Programas como esse são comuns às empresas e servem para estimular a direção da empresa a entregar resultados melhores e também para reter profissionais. 

Leia mais: Stock option: Como funciona esse incentivo e como ele pode afetar a cotação das ações

O problema é que a Infracommerce já tinha um programa considerado generoso, de antes do IPO. 

No programa vigente, lançado em 2013, os executivos receberam o direito de comprar ações da companhia com preços que variam de R$ 0,43 a R$ 1,44. Considerando que a Infracommerce fez um IPO em 2021 com a ação a R$ 16, trata-se de uma faixa bem atrativa. 

As condições do novo programa ainda serão definidas pelo conselho de administração, mas, ainda que esteja em linha com o que é praticado no mercado, a proposição em si causou estranhamento. 

“Como a atual equipe de gestão, em geral, parece altamente incentivada pelo que alguns podem considerar um programa generoso de stock options, acreditamos que o mercado não esperava o anúncio de um novo plano neste momento”, escreveram os analistas do BTG, em relatório na segunda-feira seguinte, dia 11. 

Como reação, as ações da Infracommerce desabaram cerca de 20% entre a sexta-feira do anúncio do novo programa e a segunda-feira do relatório do BTG. 

Em comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Infracommerce afirmou que o novo programa tem o objetivo de atrair e reter talentos do mercado e de todas as aquisições realizadas desde o IPO. 

“A companhia entende que a criação de um novo plano de Stock Options, com os critérios de mercado e alinhamento mencionados acima, é fundamental para que continue na trajetória de crescimento robusto em um mercado competitivo por talentos”, disse a empresa. 

Desde terça da semana passada, a ação opera em queda de 18%.

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