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Como a Alpargatas (ALPA4) pretende enfrentar a inflação e recuperar sua margem de lucro

No quarto trimestre de 2021, a margem recuou para 15,8%, bem abaixo dos 24,9% registrados em igual período do ano anterior

Embora tenha conseguido elevar o lucro líquido e a receita em 2021, a Alpargatas, dona da Havaianas e outras marcas de calçados, terminou o ano passado com uma dor de cabeça: o aumento dos custos de matéria-prima que utiliza para produzir os seus produtos.

Em teleconferência com analistas nesta sexta-feira (11), o CEO da empresa, Beto Funari, explicou que este foi o principal motivo que levou à diminuição da margem de lucro da companhia em relação ao Ebitda (lucro que desconsidera juros, impostos, depreciações e amortizações).

No ano passado, a margem da Alpargatas como proporção do Ebitda caiu para 18,2%, ante 19% em 2020, segundo balanço publicado na noite de quinta-feira (10).

Pode parecer uma diminuição pouco expressiva, mas a situação se mostra mais preocupante quando se analisa os últimos meses de 2021.

No quarto trimestre do ano passado, a margem recuou para 15,8%, bem abaixo dos 24,9% registrados em igual período do ano anterior.

O aumento dos custos de matéria-prima ocorre em um cenário de inflação alta no Brasil. No ano passado, a inflação do setor industrial, medida pelo Índice de Preços ao Produtor (IPP), do IBGE (Insituto Brasileiro de Geografia e Estatística), atingiu 28,39%, o maior nível da série histórica, iniciada em 2014.

A empresa, porém, tem uma plano para sair dessa, que se divide em duas frentes. A primeira, mais focada no curto prazo, se propõe a controlar a margem e evitar que a queda continue. A segunda frente, mais voltada para o médio e longo prazo, quer ampliar a margem.

Para o curto prazo, a ideia é, inicialmente, atuar na chamada gestão de crescimento de receita, uma prática das empresas para alterar preços e mexer no portfólio de produtos ofertados aos clientes, de modo a garantir um faturamento maior.

Não se trata somente de elevar os preços dos produtos que estão no mercado, repassando a inflação ao consumidor, mas também de focar em produtos de maior valor agregado e que podem gerar uma receita maior. É como se uma montadora, por exemplo, preferisse vender os carros mais caros em vez dos mais populares, pois terá receita e margem maiores.

A receita líquida da Alpargatas, que cresceu 25,6% em 2021 contra 2020, para R$ 3,9 bilhões, desacelerou o ritmo nos últimos três meses do ano passado, quando teve alta de 7,4% em comparação a igual período de 2020, para R$ 1,07 bilhão. Mas poderia ser pior.

A prática de gestão de receita já deu algum resultado no quarto trimestre. O preço médio por par de calçados teve avanço de 10,5% em relação a igual período do ano passado, o que também ajudou a amenizar a piora da margem da empresa.

Além de tentar aumentar o faturamento, a empresa também fará um esforço para mitigar os custos com matéria-prima e reduzir despesas operacionais.

Na teleconferência, a empresa disse que está aderindo à metodologia de Orçamento Base Zero (OBZ), que consiste em fazer uma revisão completa dos custos de cada área, deixando de lado a média de gastos dos últimos anos, para focar nas necessidades do momento.

No quarto trimestre de 2021, as despesas operacionais até chegaram a cair, ao atingirem R$ 325 milhões, queda de 20,2% em relação ao mesmo período de 2020. Porém, o quarto trimestre de 2020 foi afetado por eventos não recorrentes observados, como fechamento de lojas e reestruturações.

As despesas operacionais recorrentes cresceram 16,9% em relação ao quarto trimestre de 2020, em razão do aumento de investimentos em áreas como marketing, estrutura organizacional e digital, tecnologia da informação e sustentabilidade.

Para o longo prazo, empresa pretende aumentar a sua capacidade, investir em mais inovação, ampliar o nível do serviço e apostar em uma maior escala operacional, com aumento da produtividade e diminuição dos custos.

 

Fonte: Alpargatas

E lá fora?

A Alpargatas, que tem uma estratégia de expansão internacional, também como forma de diversificar sua receita, anunciou em dezembro a aquisição da marca americana Rothy’s, de calçados, bolsas e acessórios para mulheres.

Pelo acordo, a empresa vai pagar US$ 475 milhões para ter 49% da Rothy’s. Para ajudar a bancar a transação, a Alpargatas anunciou na noite de ontem que fará uma nova oferta de ações, que pretende captar cerca de R$ 2 bilhões.

A Rothy’s atualmente tem 26% de reconhecimento de marca entre as mulheres nos EUA, o que está bem abaixo de marcas globais e mais consolidadas. Um exemplo é a Nike, com 99%, ou Birkenstock, com 88%. Em contrapartida, está acima de marcas nativas digitais comparáveis, como a Allbirds, com 24%, e Vert, com 8%.

Sob ótica de produto, preço, geografia, canal e ponto de preço, a companhia acredita que a Rothy’s possui um perfil complementar com a Havaianas.

Fonte: Alpargatas

Na teleconferência, Funari disse que não poderia entrar em detalhes sobre a aquisição, para além do que já estava no comunicado divulgado ao mercado. Tampouco se pronunciou sobre a oferta de ações anunciada ontem.

O CEO, porém, comentou a situação da Alpargatas no exterior e disse que o mercado externo teve um ano “muito forte”, com foco em Europa, Estados Unidos e China. A Havaianas Internacional teve receita líquida R$ 1,244 bilhão em 2021, alta de 41,5% ante 2020.

No quarto trimestre, a Europa foi a única região do exterior onde a receita líquida cresceu, ao atingir R$ 55,2 milhões, alta de 30,8% ante o resultado do quarto trimestre de 2020, em valores convertidos e que consideram a taxa de câmbio média do período. Na região, a empresa é mais forte entre turistas, mas quer ser mais consumida pelo público local.

A ideia é repetir o que foi feito na Indonésia. Lá, a empresa vendia 90% dos produtos em Bali, um lugar muito turístico. Hoje, a companhia vende 60% para mercado doméstico e 40% em áreas turísticas. E 25% das vendas acontecem de forma online.

Nos EUA, houve um avanço na estratégia de canais, com mais presença em lojas físicas, o que faz com que o preço dos produtos diminua. A receita líquida, porém, teve uma queda de 13,3% no quarto trimestre, na base anual, para R$ 27,2 milhões — explicada principalmente pela redução do volume (-150 mil pares), mas que foi em parte compensada pelo aumento no preço do par de 18,8%.

O mercado chinês também teve queda no quarto trimestre, de 19,6%, para R$ 3,4 milhões. De acordo com Funari, o crescimento na China tende a ser devagar.

Análise dos especialistas

Quando observamos as recomendações do mercado para a Alpargatas, em levantamento disponível na plataforma do TradeMap, a maioria está otimista com a empresa. Das cinco recomendações, quatro sugerem compra e apenas uma tem posição neutra.

A mediana das estimativas aponta para um preço-alvo de R$ 49,00, o que representa valorização potencial de 78,44%. Por volta das 14h40, a ação era negociada a R$ 27,40, em alta de 3,1%.

Fonte: TradeMap

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