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Com R$ 5,6 bilhões em caixa, faria sentido para a Renner (LREN3) comprar a C&A (CEAB3)?

Analistas comentam as oportunidades e os riscos que envolveriam a operação

Foto: Divulgação

Ocasionalmente as ações da C&A (CEAB3), que amargam perdas de 53% desde o início do ano, registram forte alta na Bolsa. E o motivo é sempre o mesmo: rumores de que a varejista de moda poderia ser comprada por alguma concorrente.

No episódio mais recente, a ação saltou 17,7% em um único pregão, no dia 23 de maio, só com base nestes boatos – e retomou sua trajetória de queda no dia seguinte, quando perdeu 7,1%.

Além da C&A, outro nome costuma estar envolvido nestes rumores: a Lojas Renner (LREN3), que, depois de realizar uma oferta de ações, fechou o primeiro trimestre com R$ 5,657 bilhões em caixa, mais do que o suficiente para abocanhar a C&A que, com referência no valor das ações na última terça-feira (7), está avaliada em R$ 897 milhões.

Em abril do ano passado, a Renner levantou R$ 3,987 bilhões em uma oferta subsequente de ações (follow-on), dando início a especulações sobre o que a varejista pretendia fazer com esse dinheiro.

Na ocasião, a gestão da companhia afirmou que os recursos seriam destinados a investimentos orgânicos e inorgânicos – aquisições, por exemplo – para fortalecer seu ecossistema, além da construção de um novo centro de distribuição e da expansão de lojas físicas.

“A Renner tem R$ 5 bilhões em caixa, e as ações da C&A estão sendo negociadas por volta de R$ 1 bilhão, então a Renner poderia comprar fácil”, opina João Abdouni, analista da Inv.

Vitorio Galindo, head de análise fundamentalista da Quantzed, acha que o atual valor de mercado da C&A pode ser justamente um empecilho para a transação.

“A C&A tem acionista controlador, não é muito pulverizada, e eu fico sem acreditar que eles venderiam a este preço”, opina. “A não ser que haja algum motivo específico, acho que eles esperariam o varejo se recuperar, a economia retomar, e venderiam esse ativo a um valor mais perto do justo”, completa Galindo.

O que a Renner poderia ganhar (ou perder) com a compra

Na visão de Abdouni, comprar a C&A faria sentido para a Renner porque aumentaria significativamente o número de lojas da rede. No fim do primeiro trimestre deste ano, a Renner tinha 414 lojas, enquanto a C&A tinha 319.

Para Galindo, porém, adquirir o portfólio de lojas da C&A pode não ser vantajoso, uma vez que grande parte delas estão localizadas nos mesmos lugares. “Se fosse uma outra rede com maior presença de lojas de rua, ou em lugares em que a Renner não está presente, talvez fosse melhor para ela”, diz o analista.

Além de não ser vantajosa, esta sobreposição de lojas poderia se tornar uma pedra no sapato da Renner, pressionando seus resultados no primeiro momento. Isso porque muitas destas lojas teriam de ser fechadas, acarretando em custos como demissão de funcionários. Além disso, o fato de as duas companhias terem o mesmo público-alvo também torna a transação menos interessante, na visão de Galindo.

A operação, segundo ele, faria mais sentido com o objetivo de tirar um concorrente do mercado, e não de expandir o número de lojas.

Outro ponto negativo levantado pelo analista da Quantzed é a diferença entre as culturas das duas companhias. “A C&A é uma empresa mais ‘de dono’, menos corporation e menos voltada a incentivar o funcionário a crescer. A Renner já tem mais esse perfil”, explica.

Também do lado negativo, João Abdouni considera que haveria um processo de turnaround – um dos motivos que pode estar pesando contra uma compra, segundo o analista, que cita como exemplo a aquisição da Avon pela Natura (NTCO3).

Desde que adquiriu a Avon em janeiro de 2020, por cerca de US$ 2 bilhões, a Natura vem tentando realizar um turnaround, mas tem sido difícil, aponta Abdouni. “Os prós: o valor de mercado está interessante, a Renner tem caixa e poderia executar um turnaround. Os pontos negativos: a Renner pode estar com medo de piorar sua operação comprando um ativo que não tem a mesma rentabilidade dos seus”, explica o analista.

No primeiro trimestre deste ano, a Renner registrou lucro de R$ 191,6 milhões, com margem líquida de 8,6%. A C&A, por sua vez, teve prejuízo de R$ 152,7 milhões, e margem negativa em 12,8%.

“Tem riscos no negócio. A C&A tem apresentado prejuízos constantemente, resultados fracos com balanço apertado”, diz Galindo.

No balanço da C&A, porém, há um elemento que poderia interessar à Renner, na visão do analista: o prejuízo acumulado. Em tributos a recuperar em 12 meses, a C&A acumula R$ 936,6 milhões, além de R$ 720 milhões na linha de ativos não circulantes. “Pode ser interessante, a Renner compraria o ativo pelo valor destes ativos tributáveis e iria usando isso ao longo do tempo”, aponta.

E tem que ser a Renner?

Para Abdouni, da Inv, apenas a Renner teria caixa para realizar uma operação deste tamanho. Para quem não tem o dinheiro em mãos, a alternativa é se endividar para fazer a aquisição, e o momento para isso é desfavorável, dado o nível elevado da taxa básica de juros, a Selic. Ela está em 12,75% ao ano e deve continuar subindo nos próximos meses.

Galindo concorda que a Renner seria a compradora mais provável da C&A, mas enxerga outras possibilidades no horizonte. Para o analista, uma fusão entre a C&A e uma empresa como Guararapes (GUAR3) ou Marisa (AMAR3) poderia fazer mais sentido.

“Do lado da C&A, em vez de ser vendida a qualquer preço, uma fusão com troca de ações poderia ser interessante”, aponta. Já Marisa e Guararapes, que têm perdido para a Renner em termos de resultados, poderiam sair da operação mais fortalecidas.

No primeiro trimestre, a Marisa registrou prejuízo de R$ 53,4 milhões, enquanto a Guararapes perdeu R$ 80,1 milhões.

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