O Ibovespa engatou o segundo dia consecutivo de alta nesta terça-feira (20), amparado pela melhora das expectativas para o quadro econômico a partir do próximo ano e impulsionado pelo avanço das varejistas.
O otimismo é reflexo da possibilidade de desidratação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição, que segue em negociação na Câmara dos Deputados, para apenas um ano de vigência, tirando parte da pressão de descontrole dos gastos públicos no governo eleito.
Com isso, o principal índice da B3 encerrou o pregão em alta de 2,03%, aos 106.864 pontos, segundo dados disponíveis na plataforma TradeMap.
O resultado faz o Ibovespa reduzir a retração em dezembro para 5%, enquanto a alta acumulada em 2022 chega a 1,94%.
Alívio nos juros
O presidente da Comissão Mista de Orçamento, deputado Celso Sabino (União-PA), confirmou nesta tarde que governistas e congressistas chegaram ao acordo de limitar a PEC da Transição em um ano, ante o prazo de dois anos chancelado pelos senadores.
A expectativa é que o texto seja aprovado pelos deputados e encaminhado para nova votação pelos senadores ainda nesta semana.
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A mudança no texto que autoriza cerca de R$ 145 bilhões fora do teto de gastos tira parte da pressão do risco de descontrole das contas públicas a partir do próximo ano.
O movimento de alívio pôde ser sentido na distensão dos juros futuros. Os contratos de DI para janeiro de 2026 perderam 42 pontos-base, fechando a 13,25%. Já os contratos de juros para janeiro de 2028 recuaram 36 pontos-base, a 13,17%.
Varejistas lideram alta
O alívio nos juros fez as varejistas, um dos setores mais impactados pela pressão das taxas, subirem em bloco na sessão.
A Via (VIIA3) liderou o grupo, com alta de 10,81%. Também destaque para a Natura (NTCO3), que subiu 8,59%, e Magazine Luiza (MGLU3), com alta de 8,05%.
A alta do dia, porém, foi puxada pela Gol (GOLL4), que subiu 11,18%, enquanto Azul (AZUL4) fechou com avanço de 7,58%.
No caso da aérea, a queda do dólar nesta terça também aliviou as empresas, já que são companhias que possuem custos (combustível e manutenção) atrelados à moeda americana.
O dólar encerrou a sessão em baixa de 1,83% na comparação intradia, cotado a R$ 5,21, segundo a plataforma TradeMap.
Poucas baixas hoje
Entre as poucas empresas que ficaram no negativo, a Fleury (FLRT3) liderou, com perda de 3,28%. Também tiveram quedas Qualicorp (QUAL3), que caiu 3,07%, Marfrig (MRFG3), que perdeu 1,58% e Suzano (SUZB3), com baixa de 0,59%.
Se a baixa do dólar beneficia as aéreas, o mesmo movimento prejudica as empresas de papel e celulose, já que as receitas delas são baseadas na moeda americana por serem majoritariamente exportadoras.
Bolsas internacionais divergem
Nos mercados globais, as bolsas operaram mistas, com os mercados em Wall Street avançando enquanto os mercados europeus recuaram.
O Dow Jones fechou em alta de 0,28%, enquanto o S&P500 subiu 0,10% e a Nasdaq, que concentra ações de tecnologia, avançou 0,01%. Na Europa, o Euro Stoxx 50 perdeu 0,33%.
Mais cedo, o Banco do Japão surpreendeu os mercados com uma mudança na política monetária, que permitirá taxas de juros de longo prazo mais altas.
A instituição manteve a taxa básica de juros do país negativa, em -0,1% ao ano, o que era esperado pelos especialistas. No entanto, afrouxou a política de controle das taxas de juros de longo prazo – o que estava fora do roteiro.
Desde 2016 o banco central japonês usa um sistema que limita a variação dos juros de 10 anos do país a um intervalo que vai de -0,25% a +0,25% ao ano. Com a decisão recente, porém, este limite aumentou, passando para o intervalo de -0,50% a +0,50% ao ano.
“O movimento sugere uma mudança de postura em relação à política monetária até mesmo de um dos bancos centrais mais acomodativos do mundo”, avaliou a XP, em relatório.
Na Europa, a inflação ao produtor (PPI) da Alemanha registrou uma variação negativa de 3,9% ante uma baixa de 2,5% das estimativas do mercado, o que indica que a inflação pode estar entrando em tendência de baixa no país.
Criptos
Seguindo a recuperação dos mercados americanos, os criptoativos também voltaram para o campo positivo, apesar que ainda de uma forma tímida.
Por volta das 17h50, o Bitcoin (BTC) ganhava 0,22%, aos US$ 16.899, segundo dados da plataforma TradeMap. Na mesma hora, o Ethereum mostrava recuperação de 2,93%, cotado a US$ 1.218.
O mercado de criptos segue uma onda de estabilidade após a forte volatilidade emanada da crise da FTX, no início de novembro. Investidores olha mais para o cenário macro, que indica a manutenção dos juros altos ainda ao longo de 2023.