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Cautela será a palavra de ordem em 2022 e empresas devem pisar no freio em IPOs

Depois de 45 ofertas na B3 em 2021, mercado tende a desacelerar neste ano

Foto: Pixabay

Após um ano fora do comum tanto em número de ofertas quanto em volume captado, com níveis não vistos desde 2010, os ventos começam a mudar e a impor um cenário desafiador para as ofertas públicas iniciais (IPOs) em 2022.

Em 2021, foram realizados 45 IPOs na Bolsa brasileira e 26 ofertas subsequentes de ações (follow-on), além de quatro empresas nacionais terem listado suas ações nos EUA.

O total captado pelas ofertas na B3 foi de R$ 103,107 bilhões, sendo R$ 65,262 em estreias. Para efeito de comparação, em 2020, ano já aquecido, foram 28 IPOs, ante apenas cinco em 2019.

A grande bateria de IPOs, no entanto, se concentrou no início do ano, momento em que o mercado vivia uma euforia, assinala Phil Soares, analista da Órama Investimentos.

Desde o segundo semestre, porém, a janela tem se fechado. “Esse retorno da política do Banco Central, que ficou mais restrita antes do esperado e com um aumento de juros maior do que o previsto, fez com que o preço das ações caísse muito, e os IPOs também fizeram parte dessa queda”, ressalta.

Outro indicador importante que coloca dúvidas sobre o sucesso de 2021 no mercado de IPOs trata do número de desistências ou interrupções de ofertas: 75, muito mais do que as que de fato abriram capital. Além disso, nove empresas estão aguardando a abertura de capital, segundo dados da B3.

“Quando olhamos para 2020, o ano passava a impressão de que 2021 seria mais um período de ofertas, o que de fato foi. Só que no final, principalmente pelo cenário macroeconômico, em que o juro subiu muito rápido, tivemos mais IPOs interrompidos do que os que de fato aconteceram. A balança final não foi positiva”, avalia Danielle Lopes, sócia da Nord Research.

Segundo Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, do segundo semestre em diante, quando os temores relacionados à parte fiscal e à reforma tributária vieram à tona no país, a deterioração macroeconômica começou a pesar bastante sobre as ofertas de ações.

“Não à toa, diversos IPOs foram cancelados nesse ano”, explica o analista, que cita o aumento da volatilidade e a menor liquidez como consequências da política monetária em curso e com reflexo sobre a perda de atratividade do mercado acionário para novas estreias.

Além disso, apesar do grande número de ofertas, a maioria das ações que entrou na Bolsa neste ano tem registrado perdas desde o IPO, especialmente as de tecnologia. De todas as empresas que abriram capital em 2021, apenas 11 fecharam o ano no positivo – ou cerca de 24,5%.

As vencedoras de 2021

Entre as companhias que estrearam na B3 em 2021, a maior performance foi da Vamos (VAMO3), com alta de 84,28% desde a estreia, em 29 de janeiro.

A Intelbras (INTB3) também figura entre os melhores desempenhos de IPOs, beneficiando-se da alta do dólar e passando a jogar praticamente sozinha em diversos segmentos de produtos eletrônicos no Brasil, segundo João Piccioni, analista da Empiricus. Desde o IPO, em 4 de fevereiro, até o fechamento do último pregão do ano, a ação teve valorização de 77,59%.

A ação da Viita (VITT3), por sua vez, subiu 67,7% neste ano desde a abertura de capital, em 2 de setembro. Também no setor agrícola, Boa Safra (SOJA3) e Jalles Machado (JALL3) acumularam valorizações de 60,2% e 25,78%, respectivamente.

Em termos de volume da oferta, e não de performance no ano, Crespi destaca o IPO da Raízen (RAIZ4), que levantou R$ 6,9 bilhões. Outras operações que merecem destaque, segundo o analista, foram o spin-off de Assaí (ASAI3), CSN Mineração (CMIN3) e Smartfit (SMFT3).

“Vemos que as empresas que estão terminando bem o período não são de tecnologia, operam negócios físicos. Temos indústria, agrícolas, muito na contramão do que estava sendo o hype do mercado”, afirma Soares.

As maiores perdedoras

Do lado negativo, destacam-se ações de empresas como Dotz (DOTZ3), que perderam 79,7% desde o IPO, Mobly (MBLY3), com queda de 76,76%, Westwing (WEST3), com perdas de 73,08%, e GetNinjas (NINJ3), com recuo de 72,9%.

“Elas tentaram entrar na onda de ‘varejo tech’ e o mercado acabou não comprando essa ideia”, aponta Lopes. “A maior queda é da Dotz, em que o mercado não viu nenhum diferencial competitivo. E WestWing e Mobly. O mercado não comprou a ideia, as duas têm problemas de logística e o modelo de negócios não agradou”, completa.

Entre as cinco empresas que mais se desvalorizaram desde o IPO, a única que não se encaixa no setor de tecnologia é a OceanPact (OPCT3), ressalta Soares, que, além de ter sofrido com a oscilação do mercado de maneira geral, foi fortemente punida pelo mercado depois de anunciar, em julho, um grande reajuste salarial para boa parte de seus funcionários. A ação caiu 73,09% desde o IPO, em 12 de fevereiro.

Ano novo não tão feliz

O ano de 2022 será marcado por eleições presidenciais polarizadas, que geram mais incertezas e volatilidade para o mercado. “Acho que não vai ser um bom ano para IPOs e poderemos ter algumas empresas fechando capital”, ressalta Soares. Para Lopes, o mercado pode começar a melhorar quando – e se – houver mais visibilidade em relação as eleições.

Além destes eventos, a própria mudança no comportamento do investidor deve impactar o mercado de IPOs no ano, avalia Piccioni. Como a migração que houve de recursos da renda fixa para a renda variável, os fundos de ações e os fundos multimercados captaram muito dinheiro no primeiro semestre, ele diz. “Agora, a realidade se impôs e o mercado está mais atento ao que os bancos de investimento estão trazendo ao mercado, e também ao discurso das próprias empresas.”

Piccioni é um pouco mais otimista em sua conclusão. “Acho que vai ser um mercado positivo, não tão bom quanto 2021, mas com um número razoável de ofertas, em especial de follow-on”, diz o analista, que menciona possíveis captações via ofertas de ações de Eletrobras (ELET3) e Braskem (BRKM5) como as mais aguardadas.

A tendência para o ano, na visão de Piccioni, é que as ofertas de empresas de tecnologia diminuam, seguindo as performances das estreantes de 2021, e que a dominância no mercado brasileiro seja de operações secundárias envolvendo grandes empresas e ofertas voltadas para investidores qualificados.

Entre as ofertas mais aguardadas para o ano que vem, Lopes menciona Madero, Lupo e Kalunga – mas não pelos fundamentos das companhias. “Talvez elas nem sejam tão boas em fundamentos, mas vão chamar a atenção. São nomes conhecidos, e isso faz diferença quando temos mais pessoas físicas na bolsa”, diz a analista.

Crespi destaca as possíveis ofertas da unidade brasileira da Coty, que deveria ter ocorrido neste ano, assim como da CSN Cimentos e do Grupo Votorantim, como IPOs que devem chamar a atenção neste ano.

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