Capital estrangeiro impulsiona a valorização da bolsa em novembro

Fonte: Shutterstock/Good dreams - Studio

Novembro registrou um comportamento intenso do fluxo estrangeiro na B3, combinando forte volatilidade com uma retomada consistente do apetite ao risco. O período encerrou com saldo líquido positivo de R$ 2,550 bilhões, o segundo melhor resultado do semestre.

A trajetória do fluxo ao longo do mês foi marcada por movimentos abruptos. Entre 7 e 19 de novembro, a B3 recebeu uma entrada líquida robusta de R$ 9,294 bilhões, acumulada ao longo nove sessões consecutivas, um movimento que coincidiu com o fim do shutdown mais longo da história dos Estados Unidos, encerrado em 12 de novembro após 43 dias. A reabertura do governo americano trouxe alívio imediato aos mercados globais, reduziu a aversão ao risco e reativou o apetite por ativos de maior retorno em economias emergentes, beneficiando diretamente o Brasil.

O ritmo, porém, não se manteve até o fim do mês. Entre 21 e 28 de novembro, houve saída líquida de R$ 5,277 bilhões, acumuladas durante seis sessões seguidas, marcada por um episódio mais brusco em 21 de novembro, quando foram retirados R$ 3,159 bilhões, a maior saída diária desde março de 2025. O movimento ocorreu logo após o feriado do dia 20 e refletiu realização de lucros, ajustes táticos e reposicionamento dos investidores após o forte rali recente do Ibovespa. Ainda assim, a volatilidade não foi suficiente para comprometer o saldo final positivo do mês.

A melhora do fluxo estrangeiro coincidiu também com o movimento do Ibovespa avançou 6,37%, encerrando novembro em 159.072 pontos, renovando máximas históricas e registrando uma sequência de 15 pregões consecutivos de alta. O desempenho reforçou a percepção de resiliência da economia brasileira e de continuidade do processo de desinflação. O movimento de alta reflete uma mudança significativa na percepção dos investidores sobre o mercado brasileiro, que segundo especialistas passou anos sendo considerado subvalorizado, mas agora a atual valorização é impulsionada principalmente pelo retorno do capital estrangeiro.

A divulgação do IPCA-15 de novembro, que avançou 0,20%, ligeiramente acima do esperado e pressionado pelos serviços, mas ainda compatível com um cenário de inflação comportada, reforçou a percepção de que o processo de desinflação segue avançando. O resultado contribuiu para intensificar o debate sobre possíveis cortes da Selic em 2026, mesmo com a taxa mantida em 15,00% ao ano pelo Banco Central. Para o investidor internacional, a combinação de juros reais elevados, câmbio relativamente estável e perspectiva de afrouxamento monetário no horizonte manteve o Brasil como um destino atraente, favorecendo o fluxo recente e a valorização dos ativos locais.

Externamente, o ambiente seguiu favorável ao risco. A mudança de postura do Federal Reserve, após iniciar os cortes na taxa de juros em setembro, reduziu o rendimento das Treasuries e estimulou o redirecionamento de capital para mercados emergentes. O dólar globalmente mais fraco impulsionou moedas e ativos de maior retorno, movimento que ajudou o real a se valorizar 0,95% frente ao dólar Ptax em novembro. Ao mesmo tempo, as incertezas sobre a condução da política econômica dos EUA durante o governo Donald Trump e o debate sobre a autonomia do Fed incentivaram estrangeiros a diversificarem posições fora do mercado norte-americano, beneficiando o Brasil mesmo em meio às discussões sobre fragilidade fiscal e ao cenário eleitoral doméstico para 2026.

O volume negociado acompanhou a intensidade desses fluxos. As compras somaram R$ 311,447 bilhões e as vendas, R$ 309,386 bilhões, registrando o maior patamar desde maio. Na comparação anual, o apetite estrangeiro ficou evidente: as compras avançaram 13% ante o mesmo período do ano passado, enquanto as vendas cresceram 11%. As operações de follow-on movimentaram R$ 489 milhões, o maior volume do ano, reforçando a presença do investidor estrangeiro também nas ofertas subsequentes.

Com o resultado de novembro, o fluxo líquido acumulado de investidores estrangeiros em 2025 atingiu R$ 28,490 bilhões, alta de 9,8% em relação a outubro e uma virada expressiva quando comparada ao mesmo período de 2024, quando o saldo no ano era negativo em R$ 25,429 bilhões. O salto reforça a recuperação estrutural do fluxo e o papel decisivo do investidor internacional na trajetória recente de liquidez e direção do mercado brasileiro.

O quadro de novembro evidencia, mais uma vez, a sensibilidade do fluxo estrangeiro à combinação de variáveis globais (juros americanos, câmbio e eventos políticos) e aos fundamentos domésticos, incluindo inflação, atividade e estabilidade institucional. A forte entrada observada na metade do mês, seguida de ajustes pontuais, reforça que o investidor internacional segue atento ao Brasil e reage rapidamente aos sinais econômicos dos dois lados do hemisfério. Nesse ambiente, o retorno do capital estrangeiro tem desempenhado papel decisivo na valorização da bolsa brasileira em 2025, sustentando o rali e ampliando a liquidez do mercado.

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