Bolsa cai com sentido global de aversão ao risco e pressionada por frigoríficos e mineradoras

O Ibovespa recua no primeiro pregão da semana e se junta aos seus pares internacionais, que também operam em terreno negativo, refletindo dados de emprego nos Estados Unidos, além da queda de ações ligadas ao minério de ferro, como a Vale (VALE3), e de frigoríficos que recuam em bloco.

Por volta de 13h25, o principal índice da Bolsa brasileira caía 0,33% e operava aos 108.169 pontos.

Na ponta negativa do índice, a ação da BRF (BRFS3) liderava as perdas com uma baixa de 5,82%, seguida de perto pela queda de 5,20% da Marfrig (MRFG3). Ainda dentro do setor, o papel da JBS (JBSS3) tinha baixa de 2,13%.

Guilherme Paulo, operador de renda variável da Manchester Investimentos, destaca que essas companhias acompanham notícias do setor, em específico da Tyson Foods (TSFN34), subsidiária da JBS que atua nos EUA.

Mais cedo, antes da abertura do mercado, a companhia divulgou seu balanço do quarto trimestre de 2022 com resultados abaixo do esperado e com projeções negativas para 2023.

No período, a companhia atingiu US$ 13,26 bilhões em vendas, uma alta de 2,55% frente ao mesmo período de 2021, mas abaixo das expectativas de US$ 13,15 bilhões do mercado. Segundo a Reuters, a companhia cortou suas expectativas para as margens operacionais em 2023, prevendo uma queda nos preços da carne bovina e uma menor demanda por carne suína.

A Tyson Foods disse que os preços da carne bovina caíram em média 8,5% no quarto trimestre do ano passado. Nesta tarde, a ação da companhia recuava 5,67% em Nova York. “O balanço veio ruim e isso acaba penalizando o setor, já que o spread bovino está pressionado nos EUA”, diz Paulo. O spread serve para dar uma ideia de como está a margem bruta dos frigoríficos.

Na sequência, as ações de mineradoras e siderúrgicas também recuavam em bloco. A Vale, que tem o maior peso dentre as ações do índice, recuava 1,28%. Além disso, a CSN (CSNA3) perdia 1,59%, Usiminas (USIM5) caía 1,41% e Gerdau (GGBR4) apontava em 0,55% para baixo.

Na China, o minério de ferro recuou e atingiu o nível mais baixo em três semanas, repercutindo um aumento dos estoques da commodity no país e alguns sinais de que a recuperação de demanda não será tão rápida.

Após atingir quase US$ 130 por tonelada no final de janeiro, o minério de ferro negociado em Dalian, na China, opera num patamar de US$ 126 neste início de semana, mesmo com uma alta de 0,8% na comparação intradia.

Para André Fernandes, head de Renda Variável e sócio A7 Capital, de forma geral, o mercado trabalha em um cenário de aversão ao risco. “EUA, Europa e Brasil trabalham em terreno negativo, ainda refletindo os comunicados dos bancos centrais em relação a trajetória dos juros”.

Altas do pregão

Do lado positivo, as altas eram lideradas por empresas de combustíveis, após o Itaú BBA iniciar algumas coberturas.

Com isso, o papel da Raízen (RAIZ4) subia 2,91%, a Vibra (VBBR3) ganhava 2,81% e a Ultrapar (UGPA3) apontava em 2,68% para cima.

Fernandes, da A7 Capital, ressalta que os papéis do setor sobem com o BBA iniciando a cobertura de Vibra e Ultrapar com recomendação de compra.

Segundo informações do site Infomoney, o banco considera que “os preços [de Vibra e Ultrapar] atuais de suas ações não refletem as perspectivas de crescimento razoavelmente atribuíveis aos negócios de energia renovável”. Levando em consideração o preço de fechamento de sexta-feira (3), o BBA projeta uma alta de 45,99% para o papel da Ultrapar e de 78,91% para a Vibra ao fim de 2023.

Ainda dentre as maiores altas, a Cielo (CIEL3) subia 2%, Totvs (TOTS3) ganhava 1,25% e Santander (SANB11) tinha valorização de 1,29%. O papel do banco, vale ressaltar, acumula uma baixa de quase 7% desde o primeiro dia de fevereiro.

Bolsas internacionais em queda

No exterior, os mercados globais operam em terreno negativo após os dados de emprego divulgados nos EUA no dia 3.

O país criou 517 mil vagas em janeiro, segundo dados do payroll, bem acima dos 190 mil empregos esperados pelo mercado.

Na avaliação da XP, os dados considerados fortes renovaram as preocupações com a intensidade do ciclo de altas na taxa de juros americana.

“Vimos uma abertura de vagas bem acima do esperado e o índice de desemprego no país caiu para níveis baixos, isso impressionou os mercados com a perspectiva de que o Fed, mesmo que reduza o ritmo de aumento na taxa de juros, ficará no território contracionista por mais tempo”, avalia o operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Ainda nos EUA, a temporada de resultados continua esta semana com os resultados de Uber, Disney e Pepsico.