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Banrisul (BRSR6): o que esperar da estatal gaúcha após a “reeleição” de Eduardo Leite?

Entenda o cenário para a estatal gaúcha após o governador eleito mudar de posição em relação à privatização

Foto: Shutterstock/Vergani Fotografia

No último domingo de outubro, os gaúchos foram às urnas e votaram pela “continuidade”, assim mesmo, entre aspas, ao eleger mais uma vez o tucano Eduardo Leite para governar o estado.

Leite, que havia renunciado ao cargo no início do ano, quando decidiu apostar no plano de ser candidato do PSDB à Presidência da República, desistiu da ideia quando viu que não teria chance de chegar ao Palácio do Planalto e resolveu se candidatar novamente ao governo do Rio Grande do Sul, sendo “reeleito”.

Embora os gaúchos tenham optado pela continuidade, há algo muito sensíveis aos investidores que mudou de rumo: os planos de Leite para privatizar o Banrisul (BRSR6), o banco estatal do Rio Grande do Sul.

Uma semana depois do primeiro turno, no dia 11 de outubro, Leite indicou que havia mudado de ideia.

O tucano, que durante o seu primeiro mandato costumava dizer que era favorável à privatização e estava trabalhando para que isso acontecesse, afirmou no dia 11 do mês passado que não iria encaminhar a privatização no seu próximo governo, após ter sido cobrado a se posicionar sobre o assunto.

A declaração pegou os investidores de surpresa e a ação fechou o pregão daquele dia em queda de 8,5%.

Mas, apesar do posicionamento de Leite durante a campanha, o tema ainda gera dúvidas entre os investidores, que não deveriam descartar a possibilidade de uma nova mudança de ideia por parte do governador eleito.

O próprio Leite, vale lembrar, já mudou de ideia um vez em relação à Corsan, a estatal de saneamento do Rio Grande do Sul, ao autorizar a desestatização da companhia, mesmo depois de já ter indicado que era contra.

Em geral, as privatizações costumam ser bem vistas pelos investidores porque tendem a deixar as estatais mais eficientes, focando em maiores lucros, e, portanto, os retornos para o acionista podem ser maiores no longo prazo.

Além disso, a redução do poder do governo pode evitar a utilização da empresa para manobras políticas, como, por exemplo, mudanças nas estratégias com viés político, que afastam a empresa do caminho do lucro.

Está barata?

No entanto, ainda que o mercado não tenha gostado da declaração de Leite, isso não quer dizer que a empresa não seja uma oportunidade de investimento.

Um dos indicadores de preço mais analisados para o setor bancário, o preço sobre valor patriomonial (P/VPA), sugere que ação do Banrisul está sendo negociada 44% abaixo do que seria o seu preço justo, de acordo com dados disponíveis na plataforma do TradeMap.

Além disso, o indicador de preço sobre lucro (P/L), que divide o valor de mercado da empresa pelo lucro anual e chega ao número de anos necessários para que o lucro atinja o valor de mercado, está em 3,6 vezes, abaixo da média de 5,8 vezes dos últimos três anos. Quanto menor o resultado, mais barata a empresa está, porque indica que a companhia pode dar um retorno mais rápido para o investimento.

Por outro lado, o P/L baixo pode ser um sinal de pessimismo do investidor quanto à melhora operacional do banco. Isto é, pode ser que o mercado esteja esperando lucros menores no futuro, por já não estar contando com a privatização da empresa.

Desempenho do banco durante o governo

Mas não adianta só olhar para indicadores de preço. É preciso também avaliar o negócio em si.

Nos quatro anos do primeiro mandato do governo Leite, a carteira de crédito do Banrisul teve crescimento de 30%, para R$ 44,5 bilhões ao final do segundo trimestre deste ano, em comparação com o segundo trimestre de 2018.

Por outro lado, o lucro do banco foi menor em 2020 e em 2021 em relação a 2018, devido às menores taxas de juros no período, que chegaram aos patamares mais baixos da história.

Isto levou a empresa a ter que reduzir o “spread” bancário, que é a diferença do quanto a instituição recebe para emprestar e paga para utilizar os recursos tomados. A rentabilidade do banco, portanto, tem sido cada vez menor.

No primeiro semestre, o banco reportou um lucro líquido acumulado de R$ 391,9 milhões, valor 30% menor do que o registrado no semestre anterior e representa apenas 37% do lucro reportado no ano de 2018.

Isto é, por mais que o banco tenha expandido a carteira de crédito, não tem conseguido reverter em lucro, o que traz um sinal de alerta para o lado operacional da instituição financeira.

Em 2022, ainda que os juros básicos tenham voltado à casa dos dois dígitos, o banco não tem esboçado uma reação. Pelo contrário, ainda está longe de alcançar o resultado de 2018, em especial porque as despesas operacionais aumentaram e houve expansão nas despesas de provisão para possíveis perdas de crédito.

Por mais que estas despesas com provisão não tenham efeito direto no caixa, já que é uma reserva que o banco faz para possíveis calotes, isto afeta negativamente o lucro contábil.

Além disso, as despesas com intermediação financeira mais que quadruplicaram na primeira metade desse ano em relação ao primeiro semestre de 2021, para R$ 3,4 bilhões, enquanto a receita cresceu em menor proporção, a 76%, para R$ 5,7 bilhões.

Portanto, a rentabilidade é menor e o retorno é menos atrativo para o investidor. Em 2018, o banco registrou um retorno sobre o patrimônio líquido de 14,4%, enquanto, no acumulado de 12 meses até junho deste ano, este valor foi de 8,9%.

Diante disso, o investidor pode ficar receoso quanto à capacidade da empresa de gerar maiores retornos no futuro. Sendo assim, os papéis da empresa derretem 47,5% desde o início de janeiro de 2019 até o fechamento do pregão da segunda-feira (7). E, para o futuro, a tendência é que o lucro comece a cair, uma vez que a expectativa é de queda para a taxa Selic, o que pressionaria para baixo o spread cobrado nas transações.

A mais segura entre os pares do mercado

Entre seus pares, o banco pode ser considerado o mais seguro contra calotes, já que possui o menor índice de inadimplência. Isso se deve ao fato de grande parte das linhas de crédito ter garantia.

Isto é, as operações são de menor risco, já que os pagamentos dos empréstimos são descontados diretamente do salário de servidores estaduais do Rio Grande do Sul ou do benefício do INSS, no caso de pessoas físicas, ou são garantidos pelo FGI e pelo BNDES, no caso de pessoas jurídicas.

 

Além disso, o banco conta com um índice de cobertura altíssimo, de 319%, no primeiro semestre. Isto quer dizer que o banco tem reservado um montante três vezes a mais que o saldo de calotes em 90 dias. Portanto, a capacidade de cobrir a inadimplência traz maior segurança para empresa.

Para reforçar a maior segurança, o banco conta com um índice de Basileia de 16,8%, que mostra a relação entre o capital próprio da instituição financeira e o capital de terceiros que será exposto a risco por meio da carteira de crédito. O Banco Central entende que um índice mínimo é de 11%. Quanto maior, melhor.

Por outro lado, como o crédito concedido é mais seguro contra calotes, a margem tende a ser menor, o que leva a uma perda na rentabilidade. Por isso, o retorno sobre o patrimônio líquido da empresa é menor em relação aos pares do setor, o que torna os concorrentes mais atrativos em relação ao retorno para o acionista.

Ainda assim, o Banrisul parece ser o banco mais barato, já que o P/VPA é o menor entre os bancos mencionados.

Porém, o Banco do Brasil (BBAS3) pode ser uma opção mais atrativa para o investidor, uma vez que os preços podem estar sendo negociados com desconto e o retorno é muito maior que o dos outros bancos.

É claro que, para analisar melhor os papéis, é necessário avaliar outros indicadores e entender a fundo todo o cenário financeiro, econômico e de governança do banco.

De acordo com compilado feito pela Refinitiv e apresentado na plataforma do TradeMap, a recomendação da maioria dos analistas é de manutenção do papel.

Para os analistas, por mais que o ativo esteja abaixo do preço considerado justo, as ações apresentam baixo potencial de valorização. Isto porque a mediana das estimativas  de preço-alvo é de R$ 12,5, uma valorização potencial de 7,9% a partir do preço do fechamento do pregão de segunda-feira (7).

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