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Ambev (ABEV3) vs Heineken: quem leva a melhor na guerra da cerveja no Brasil?

A disputa pelo mercado de cerveja fica cada vez mais acirrada - e a dianteira por enquanto está com a Ambev

Foto: Shutterstock

A disputa entre Ambev (ABEV3) e Heineken pela liderança no mercado brasileiro de cerveja segue acirrada, e no segundo semestre, quando ambas esperam melhora nos resultados, cada uma lutará com uma arma diferente para conseguir a coroa.

Até agora, mesmo com o desafiador cenário macroeconômico de alta inflação, que reduz o poder de compra do consumidor, as duas cervejarias conseguiram aumentar o volume de vendas no Brasil em relação ao observado no ano passado.

A Ambev busca recuperar espaço no mercado, e vem conseguindo abrir caminho rumo a este objetivo principalmente entre as marcas com preços mais altos ao consumidor – Stella Artois, Brahma Duplo Malte, Spaten, Original, entre outras.

No segundo trimestre a Ambev registrou avanço de 8,5% no volume de cerveja vendida no Brasil, para 21,9 milhões de hectolitros, em comparação a igual período de 2021. O destaque ficou justamente com o segmento premium, que cresceu pouco mais de 20%.

Na primeira metade do ano, o volume de cerveja vendido pela companhia no Brasil aumentou em 2,2 milhões de hectolitros – ou quatro vezes mais do que a concorrência, segundo as contas da Ambev, que estima ter ganhado participação no mercado no período.

A Heineken não ficou muito atrás, e reportou um aumento de 20% no volume vendido de cerveja no segundo trimestre em relação a um ano antes – embora não tenha detalhado quanta cerveja entregou aos consumidores. Apesar disso, assim como a Ambev, relatou que o crescimento foi puxado por seu portfólio premium, com a marca Heineken, e o convencional, com a Amstel.

O aumento nos volumes de venda das duas companhias acontece ao mesmo tempo em que enfrentam aumento nos custos de insumos usados na produção de cerveja. Os preços de cereais como o trigo, essenciais para a fabricação da bebida, e do alumínio, usado nas embalagens, subiram 30% e 4% no mercado externo desde o segundo trimestre do ano passado.

Isso reduziu a margem de lucro tanto da Ambev quanto da Heineken, embora a empresa holandesa tenha sido menos prejudicada porque aumentou os preços antes da concorrente.

A Heineken registrou uma margem de lucro operacional (margem Ebit) de 16%, queda de 0,3 ponto porcentual (p.p.) em comparação com semestre de 2021. A Ambev registrou queda de 2,2 p.p., para 22,7%.

As empresas estão tomando cuidado na hora de aumentar os preços num ambiente de inflação elevada porque, com o poder de compra reduzido, o consumidor tende a ser mais criterioso na hora das compras.

A demanda por produtos não essenciais, como a cerveja, por exemplo, é mais sensível a preços mais altos, e se ela cair, as margens de lucro das empresas podem diminuir também.

Estratégias para vencer

Além de ajustar o portfólio de marcas e o tamanho das embalagens para atingir um público maior, a Ambev tem focado em aumentar as vendas usando tecnologia, principalmente por meio de duas plataformas digitais; o Bees e o Zé Delivery. O foco é elevar volumes de vendas nas regiões em que a empresa já atua e onde os níveis de consumo são baixos.

O Zé Delivery decolou a partir de 2020, quando as pessoas tiveram que ficar em casa por causa das restrições de mobilidade impostas pela pandemia de Covid-19. O aplicativo ajuda o consumidor a ter acesso a produtos Ambev de forma mais rápida e prática.

No segundo trimestre, o Zé Delivery representou 6% do volume total de vendas da companhia.

Já o Bees é voltado para os clientes comerciais, como bares e restaurantes. A função da plataforma digital é entregar para os clientes produtos da Ambev e de outras empresas – como por exemplo BRF (BRFS3), M. Dias Branco (MDIA3) e Pão de Açúcar (PCAR3) – por meio do marketplace no aplicativo.

Além disso, a plataforma inclui um banco digital chamado “Bees Bank” que oferece serviços financeiros como crédito, cartões e maquininhas para os clientes comerciais.

Com isso, a empresa espera ter uma redução nos custos e um maior volume de vendas. Além disso, a diversificação das operações traz menor dependência de um setor específico, protegendo a Ambev de eventuais adversidades peculiares ao setor de bebidas.

Ou seja, o aumento dos preços de insumos para produção de cerveja tende a trazer impactos menores para a Ambev, que deve ter margens menos pressionadas que as da Heineken no futuro.

Enquanto isso, a empresa holandesa opta por manter o foco no core business, que é a venda de cerveja, mas aumentando a produção e convencendo o consumidor brasileiro que vale a pena pagar mais pelos produtos de maior qualidade da marca.

A Heineken sinalizou recentemente que um dos problemas enfrentados pela companhia no Brasil, que era a limitação da capacidade produtiva, será resolvido nos próximos meses – principalmente a partir do quarto trimestre. Além disso, a empresa tem um projeto de R$ 1,8 bilhão para abrir uma nova cervejaria, a 15ª no Brasil, em Minas Gerais até 2025.

Nas palavras do executivo-chefe da companhia, Rudolf van den Brink, “sabemos que restringimos o nosso volume por um longo tempo por causa de limites de capacidade e por uma escolha deliberada de privilegiar o premium, algo que vamos continuar fazendo. Mas agora a parte mais econômica do portfólio terá menos limites de capacidade do que antes”.

Portanto, as restrições que impediam uma expansão mais ampla da Heineken no mercado brasileiro devem deixar de ser uma barreira, o que deve gerar um aumento no volume de vendas.

Esse crescimento, no entanto, precisará vir acompanhado de um forte investimento em marketing e vendas, o que por sua vez pode apertar um pouco mais as margens.

Expectativas futuras

Embora as margens de Heineken e Ambev devam ser pressionadas por aumentos nos custos das commodities, as empresas devem ter maiores volumes de venda devido ao aumento no Auxílio Brasil – que em agosto passou de R$ 400 para R$ 600 mensais – e ao início dos jogos da Copa do Mundo de 2022 – evento festivo que deve elevar as vendas de cerveja.

Além disso, a Ambev anunciou que irá reajustar os preços novamente em outubro. Segundo a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), o valor esperado do reajuste é em 10%.

Duelo de múltiplos

O investidor que quiser escolher entre uma ou outra para se expor ao mercado de cerveja deve ficar atento a indicadores de valuation, de endividamento, de rentabilidade, entre outros.

Por meio de dados apresentados na plataforma TradeMap e SeekingAlpha, selecionamos alguns indicadores de cada área para uma melhor comparação das empresas – e já adiantamos: a Ambev leva vantagem na maioria deles.

Começando com o preço sobre lucro (P/L), indicador que mostra o quanto o investidor está disposto a pagar por cada real/euro de lucro gerado pela empresa.

No caso da Ambev, este índice é de 16,3, levemente menor que o da Heineken, de 18,7, sugerindo que a companhia brasileira está mais barata que a holandesa.

Por outro lado, é importante ficar atento em indicadores PL altos pois é possível que os investidores estejam confiantes em um crescimento substancial do lucro da empresa nos próximos resultados – algo que pode não ocorrer.

Em termos de rentabilidade, o quadro fica um pouco mais difuso.

O indicador de retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) mostra o quanto a empresa é capaz de gerar de retorno para o acionista utilizando apenas o próprio capital.

O retorno gerado pela empresa para o acionista pode ser reinvestido, acelerando o crescimento da companhia, ou distribuído na forma de dividendos para os acionistas.

O ROE da Ambev ficou em 16% nos últimos doze meses, enquanto a Heineken atingiu 21,6%. Por outro lado, ao utilizar o ROE médio dos últimos cinco anos, a Ambev mantém na casa dos 16%, porém a Heineken cai para 11,46%. Portanto, a Ambev tende a ter maior estabilidade quanto ao retorno para os acionistas.

A Ambev também leva a melhor em termos de dividendos. O dividend yield (DY) acumulado nos últimos 12 meses pela brasileira é de 3,64%, enquanto o da Heineken chega a 1,38%.

Este indicador mostra a proporção que o investidor recebeu de retorno em relação ao preço por ação. Quanto maior o índice, maior o rendimento.

O indicador que mede a taxa de crescimento anual composto (CAGR) da receita nos últimos cinco anos também favorece a Ambev, assim como o de dívida líquida sobre o Ebitda (DL/E), que indica o quanto a empresa tem de dívida, deduzido caixa, para cada 1 real/euro gerado nas principais operações da empresa.

A Ambev demonstra um menor risco de solvência, uma vez que sua dívida é menor que a quantia de dinheiro que possui em caixa.

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