Deixe o mercado acionário brasileiro em pausa e olhe, mais do que nunca, para as oportunidades no exterior, particularmente na renda variável. Quem dá o recado é Ronaldo Patah, estrategista-chefe do UBS Consenso, que se prepara para um 2022 com mais valorização das bolsas americanas (ainda que em um ritmo mais brando), também de olho no potencial de ações na Europa e no Japão e na apreciação de moedas como o dólar e a libra.
“Olhando para o cenário mundial, as implicações de crescimento são praticamente o contrário de Brasil”, diz Patah, ressaltando a expectativa de expansão de 4,5% da economia americana, em torno de 5% na Europa e de 5,5%, na China.
No Brasil, analistas consultados pelo Banco Central no mais recente relatório Focus estimam expansão de 0,42% da atividade no ano que vem, e a sugestão do UBS é focar na renda fixa.
Desde abril de 2020, o UBS recomenda aos investidores terem uma alocação acima do que estão acostumados em ativos globais, de preferência com diversificação e sem proteção cambial, ou seja, com exposição à variação do dólar.
A expectativa do UBS é de desaceleração da inflação nos Estados Unidos para um patamar de cerca de 2% ao fim do próximo ano, e com uma subida gradual dos juros no patamar de 0,25 ponto percentual, sem grande impacto sobre o mercado de renda variável, que detém sua preferência no exterior.
Mesmo com a reação negativa do mercado diante dos efeitos da nova variante Ômicron e dos receios de novos lockdowns, Patah ressalta que o UBS mantém seu cenário para 2022, confiante na solução via vacinação.
Juros ainda baixos, liquidez e vacinação
Hoje, o UBS conta com três pernas importantes para sustentar seu otimismo: uma política monetária ainda bastante acomodatícia, o pacote fiscal americano e os investimentos a serem gerados por ele e a continuação do processo de vacinação para combater a pandemia.
“E considerando que a população americana ainda tem poupança e um baixo endividamento, tudo nos leva a crer que o consumo vai ser forte e o crescimento dos lucros das empresas do S&P 500 pode chegar a 12%, em 2022, e a 9%, em 2023”, diz Patah.
O UBS vê o índice americano na casa dos 5.100 pontos ao fim de 2022, o que representa alta potencial da ordem de 8% sobre os preços atuais.
“Lembrando que a bolsa dobrou de preço do início da pandemia para setembro, ela ainda vai subir uns 10%, mas com uma volatilidade muito maior, porque o Fed [o banco central americano] vai subir os juros. E ainda será uma opção melhor que renda fixa, principalmente a de baixo risco”, observa.
Os setores de energia e financeiro são destaque no radar do UBS, que prefere ações mid caps às large caps por conta de preço.
“A bolsa americana está cara em relação ao passado, porque a média de PL [relação preço/lucro] é de 16 vezes, contra as 22 vezes atuais, e vai continuar cara porque a taxa de juros muito baixa vai fazer com que investidores ainda prefiram renda variável à renda fixa. Eles ficam propícios a pagar prêmio”, assinala.
Patah também destaca as bolsas europeias e japonesas pelo perfil cíclico, com possibilidade de se beneficiarem conforme a taxa de crescimento diminui diante da normalização econômica.
Em termos de classes de ativos, a preferência recai sobre renda variável à renda fixa. Dólar e libra lideram em relação a outras moedas, e há também menção ao petróleo, com expectativa de recuperação da perda vista desde o surgimento da variante Ômicron.
Nas aplicações de renda fixa, a recomendação do UBS é assumir maior risco para garantir retornos atrativos, como na parte de “high yield” asiática, com juros em torno de 10%, o que pode ajudar na diversificação do portfólio.
No Brasil, conservadorismo reina
Já a visão sobre Brasil é a oposta à dos Estados Unidos. Com expectativa de crescimento de apenas 0,6% da economia em 2022, com inflação recuando para 5%, o que é considerado um patamar ainda muito elevado para o UBS, e juros atingindo 12% até março, as recomendações estão essencialmente na renda fixa. E não há seletividade, com indicação de papéis pós-fixados, pré e atrelados à inflação.
Já o prazo de vencimento vai variar conforme o apetite do investidor, frisa Patah.
“Como acreditamos que a Selic cai para 7% em 2023 e com as expectativas de inflação ancoradas, uma taxa de retorno de 11% até 2024 e até com possibilidade de isenção de Imposto de Renda é uma oportunidade”, afirma.
Se o investidor tiver perfil mais arrojado, o estrategista assinala que é possível comprar papéis com vencimento até 2030 para travar juros prefixados da ordem de 11%, com um risco que considera relativamente baixo, relacionado a um aumento da inflação.
“Se o investidor colocar um terço dos recursos em cada tipo de renda fixa, caso a inflação dispare, dois terços da carteira estarão protegidos. Ou então ele vai ganhar dinheiro em todos e com um colchão em pós-fixado.”
A avaliação sobre renda variável, por sua vez, é outra. A expectativa é que fundos multimercado, que vêm apanhando nos últimos tempos, e a renda variável fiquem “de lado” pelo menos pelos próximos seis meses, até haver algum tipo de previsibilidade do novo presidente e de seu plano econômico.
A recomendação oficial do UBS é neutra para Bolsa, porque ela está muito barata para poder contar com indicação “underweight”.
Para clientes mais sofisticados, ter um percentual do patrimônio em private equity e venture capital também é uma recomendação do banco, até diante do perfil de maior proteção contra o ciclo eleitoral e até do econômico.
“Para quem pode abrir mão de liquidez, cada vez mais haverá mais produtos acessíveis em diferentes faixas de patrimônio”, assinala Patah.