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A era de ouro dos dividendos da Petrobras (PETR4) terminou em 2022? Veja o que dizem analistas

Metodologia utilizada hoje pela estatal para pagar proventos deve mudar com a entrada do novo governo, avalia mercado

Foto: Shutterstock/Arnaldo Jr

A Petrobras (PETR4) vai pagar nesta quinta-feira (19) a segunda e última parcela de dividendos e JCP (juros sobre capital próprio) referentes ao terceiro trimestre do ano passado. Mas a troca de governo gerou uma dúvida nos investidores: a era de ouro de pagamento de proventos da estatal terminou?

Para analistas consultados pela Agência TradeMap, a metodologia utilizada hoje pela Petrobras para definir quanto do resultado distribuirá aos acionistas deve mudar e, por consequência, o valor pago também.

Mas, antes de irmos aos fatos, um pouco de história recente da Petrobras para entender como a empresa conseguiu chegar a um nível tão monstruosos de proventos nos últimos anos.

Por ser uma empresa estatal, a companhia passou por altos e baixos ao longo da sua história de quase 70 anos. No entanto, muito provavelmente a pior fase tenha sido entre 2014 e meados de 2016, quando a operação Lava Jato revelou um esquema de corrupção dentro da companhia e jogou a empresa na lona.

Durante esses quase dois anos, a empresa passou de uma das maiores empresas do Brasil para a terceira empresa de capital aberto mais endividada do mundo.

Para se ter uma ideia, em setembro de 2015, a Petrobras tinha uma dívida líquida no valor de US$ 101,1 bilhões.

Mas, após diversas vendas de ativos, acordo com a Justiça brasileira e americana, foco em operações mais lucrativas e investimentos assertivos, a estatal, enfim, começou uma virada.

A virada da Petrobras

A partir do segundo semestre de 2016, com o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), as coisas passaram a melhorar e muito para a Petrobras. Isso porque, Michel Temer, então vice-presidente, assumiu a Presidência da República e colocou na diretoria da companhia agentes técnicos que deram um novo rumo à estatal.

Uma das práticas que colaboraram para os resultados, embora com mudanças ao longo tempo, foi a de considerar a paridade internacional para os preços dos combustíveis. Ou seja, para reajustar para baixo ou para cima o valor de produtos como a gasolina e o diesel, a Petrobras passou a usar como referência a cotação do dólar e o preço do petróleo no mercado internacional.

E por que isso é importante? Porque a venda de derivados passou a ter uma importância significativa nas receitas da companhia, ajudando a Petrobras a iniciar o ciclo da era de ouro do pagamento de dividendos.

Além dos combustíveis, a valorização do petróleo tipo Brent – usado como referência para a estatal – também contribuiu e muito para turbinar os resultados da empresa nos últimos anos.

Em 2022, por exemplo, o óleo passou de US$ 77,84 no dia 4 de janeiro para US$ 85,91 no dia 30 de dezembro, uma valorização de 10,36%. É importante lembrar que, após a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia, em fevereiro do ano passado, o preço do barril do Brent superou a casa dos US$ 120.

Com isso, entre 2018 e 2022, quando as contas já estavam acertadas e a Petrobras voltou a dar lucro anual, o montante de proventos distribuídos aos acionistas, sem considerar o quarto trimestre de 2022, somava mais de R$ 300 bilhões.

A forma como a Petrobras define o preço dos combustíveis, no entanto, é um assunto sensível, e o atual governo é contrário à política em vigor.

A dúvida dos investidores é se a nova administração da estatal vai sacrificar a rentabilidade da empresa em prol de um preço de combustível mais palatável para o consumidor, ou de investimentos em áreas menos lucrativas, mas mais alinhadas à visão do novo governo.

E é por isso que o mercado se pergunta: será que o terceiro mandato de Luiz Inácio da Lula Silva (PT) vai manter esse pagamento vultuoso de proventos aos investidores?

O que dizem os analistas

Segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, a expectativa é que a partir deste ano o pagamento de proventos pela Petrobras deixe de dialogar com a geração de caixa.

Atualmente, a política de remuneração da estatal prevê que, em caso de endividamento bruto inferior a US$ 65 bilhões, a empresa poderá distribuir aos acionistas 60% da diferença entre o fluxo de caixa operacional e os investimentos.

“O novo governo pode desvincular a política da geração de caixa e ficar nos 25% do lucro líquido. A partir de 2023, esse pagamento não deve mais dialogar com a geração de caixa”, diz Abertman.

Para o analista, a nova diretoria deve realizar mudanças no plano de negócios atual e a alocação de capital deve ser revista. “O novo governo está sendo incisivo com investimento em refino e na transição energética global”.

Mesmo antes da troca do governo, interlocutores de Lula, principalmente aqueles vinculados à área energética, afirmaram que a política de dividendos da Petrobras e os investimentos devem mudar, com o foco maior sendo em refino, investimento esse que a Petrobras já tinha praticamente abandonado.

“Além disso, a receita da companhia vem da venda de derivados no mercado interno. Vimos esse tema também sendo falado pelo novo governo. Pode ter mudança na regra de combustíveis. 2023 deve ser de transformações e investimentos em áreas que não estavam contemplados no plano de negócios”.

Para o próximo quinquênio, entre 2023 e 2027, o plano de negócios da Petrobras prevê investimentos de US$ 78 bilhões, 15% superior ao anunciado em 2021. De acordo com a empresa, o valor está no patamar de outros pares do setor petrolífero.

Deste total, o segmento de exploração e produção vai receber a maior quantia, o equivalente a 83%, seguido pela área de refino, gás e energia, com 12%, comercialização e logística, com 2% e 3%, respectivamente.

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Pedro Galdi, analista da Mirae Asset, vê uma faca de dois gumes. De um lado, o novo governo vai precisar dos dividendos da Petrobras para a conta fechar, do outro serão necessários mais recursos para investimentos em áreas não previstas.

“Falta ainda o quarto trimestre, que pode não ser mais generoso como antes. Provavelmente virá na linha de 25% do lucro líquido ajustado. Além disso, não houve mudança de CEO. Quando entrar, (Jean Prates) deve definir novos investimentos, desinvestimentos, política de combustível e dividendos”.

Segunda parcela de dividendos

Em novembro do ano passado, após registrar lucro líquido de R$ 46,09 bilhões no terceiro trimestre, a Petrobras anunciou o pagamento de 43,7 bilhões em proventos. Com isso, até setembro de 2022, a estatal tinha já desembolsado R$ 173 bilhões em remuneração aos acionistas.

Mas a empresa deve encerrar o ano passado mais de R$ 200 bilhões em dividendos e JCP pagos aos acionistas, já que o valor do quarto trimestre de 2022 ainda não foi revelado.

“Após um novo CEO, o pagamento não deverá ser mais tão volumoso, mas o quarto trimestre, com a diretoria do governo passado, vamos ver um pagamento regular de dividendos”, explica Abertman.

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A segunda parcela dos proventos, que será paga hoje, tem como premissa o valor por ação de R$ 0,74 em JCP e de R$ 1,61 em dividendos para os dois papéis, tanto o ordinário quanto o preferencial.

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