Em junho, novamente o mercado financeiro brasileiro foi instável e marcado por vários acontecimentos econômicos e políticos. O cenário continua não sendo muito favorável: nos últimos 17 pregões do Ibovespa, 11 terminaram no azul e 6 no vermelho.
Só no primeiro semestre de 2024, o Ibovespa registrou uma queda de 7,7% em reais, mas a desvalorização foi ainda mais acentuada em dólares, com uma queda de 19,5%. Este foi o pior desempenho entre os principais mercados globais, refletindo uma forte desvalorização da moeda brasileira, que atingiu suas mínimas em mais de dois anos.
Aqui estão os principais eventos que impactaram o Ibovespa e o comportamento das ações:
Decisão do Banco Central sobre a Selic
O Banco Central decidiu manter a taxa básica de juros, a Selic, em 10,50%. Esta decisão foi acompanhada de receios no mercado financeiro, já que havia uma expectativa de possível divergência entre os membros do Copom.
A manutenção dos juros em um nível alto foi vista como uma medida para controlar a inflação, mas também trouxe preocupações sobre o impacto no crescimento econômico e nos setores mais sensíveis à taxa de juros, como o setor de consumo e o imobiliário.
Pronunciamento do presidente
No fim de junho, o presidente Lula fez declarações sobre medidas de corte de gastos públicos, o que ajudou a aliviar o pessimismo que dominava o mercado no início do mês.
Essas declarações foram recebidas positivamente pelos investidores, levando a uma alta significativa do Ibovespa no dia 27 de junho, quando o índice subiu 1,36%. Este alívio temporário foi um dos principais fatores que contribuíram para a alta mensal do índice.
Turbulências fiscais
O início de junho foi marcado por incertezas fiscais domésticas. A falta de clareza sobre as políticas fiscais e a possibilidade de descontrole nas contas públicas geraram aversão ao risco, especialmente entre os investidores estrangeiros.
Esses investidores buscaram segurança em ativos menos voláteis de economias mais maduras, o que afetou negativamente o mercado de capitais brasileiro.
Impacto do dólar
A valorização do dólar teve efeitos distintos sobre diferentes setores da economia. Para as empresas exportadoras, como as do agronegócio, a alta do dólar foi benéfica, aumentando a competitividade e os lucros em reais.
No entanto, para empresas que dependem de insumos importados ou que têm dívidas em dólar, como as companhias aéreas, a valorização da moeda americana foi prejudicial, aumentando os custos operacionais e pressionando as margens de lucro.
Principais altas e baixas da bolsa
Altas
- BRF (BRFS3): A empresa do setor de agronegócio liderou as altas com um crescimento de 22,01%, fechando junho a R$ 22,67. A alta do dólar contribuiu para o bom desempenho da empresa, que se beneficiou do aumento das exportações.
- São Martinho (SMTO3): Com uma alta de 21,99%, a São Martinho foi a segunda maior alta do Ibovespa. A valorização do dólar ajudou a empresa, que é um dos principais players do setor sucroenergético no Brasil – por isso, mesmo estando em alta, essa ação não é muito recomendada.
- Suzano (SUZB3): A empresa de papel e celulose subiu 17,06%, impulsionada pela desistência da compra da International Paper. A decisão de não seguir adiante com a aquisição foi vista como positiva pelo mercado, que considerou a transação grande demais e com sinergias pouco claras.
- Weg (WEGE3): A Weg registrou uma alta de 12,36%, sendo favorecida pela alta do dólar e pela percepção de qualidade e estabilidade da empresa. A Weg é uma grande exportadora de bens industriais, e o dólar mais forte aumenta sua competitividade no mercado externo.
- JBS (JBSS3): Fechou o mês com uma alta de 11,89%, com os analistas otimistas sobre o futuro desempenho da unidade de proteínas nos EUA. A expectativa de melhora no ciclo pecuário nos Estados Unidos e a valorização do dólar foram fatores que contribuíram para o bom desempenho da JBS.
Baixas
- Azul (AZUL4): A companhia aérea teve a maior queda do mês, recuando 22,49%. A alta do dólar aumentou os custos operacionais, especialmente o preço do querosene de aviação. Além disso, o setor aéreo continuou a enfrentar dificuldades econômicas, com muitas companhias reportando prejuízos.
- Assaí (ASAI3): O setor de varejo alimentar não teve um bom mês, e o Assaí registrou uma queda de 15,11%, encerrando o mês a R$ 10,34. A manutenção dos juros elevados prejudicou as expectativas de crescimento para o setor.
- Yduqs (YDUQ3): A empresa de educação caiu 14,04%, sendo impactada por decisões do STF que restringem a abertura de novos cursos de medicina. A volatilidade das ações small caps também contribuiu para a queda.
- Carrefour (CRFB3): Também do setor de varejo, o Carrefour teve um desempenho negativo, com uma queda de 9,07%, fechando a R$ 9,02. A manutenção dos juros altos afetou o setor de varejo, mesmo o alimentício, que é considerado mais resiliente.
- Dexco (DXCO3): A empresa do setor de construção e materiais teve uma queda de 8,47%, influenciada pela manutenção da Selic e pela situação do mercado imobiliário. A dependência do setor de construção de ciclos econômicos mais amplos e de condições favoráveis de crédito pesou sobre o desempenho da Dexco.
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