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BCE decreta fim dos juros negativos na Europa e começa longo caminho para baixar inflação

BCE começa a elevar juros para deter aumento da inflação, mas crise de energia na zona do euro será obstáculo relevante nos próximos meses

Foto: Alexandros Michailidis / Shutterstock.com

A decisão do BCE (Banco Central Europeu) de elevar a taxa de juros da zona do euro em 0,50 ponto porcentual (pp) surpreendeu o mercado, que esperava aumento menos intenso, e colocou um ponto final no período de juros negativos na região. No entanto, o esforço ainda está longe de ser suficiente para conter a inflação no curto prazo, segundo especialistas.

Mais cedo, o BCE aumentou a taxa referencial de juros pela primeira vez desde 2011, de -0,50% ao ano para zero. A elevação foi mais agressiva que a esperada pela maioria dos especialistas, que previam um aumento de 0,25 pp, para -0,25% ao ano.

A opção pelo aumento acima do previsto tem um motivo claro: mostrar ao mercado que o BCE está falando sério quando diz que deseja combater a inflação, que chegou a 8,6% na zona do euro nos 12 meses até junho. É a maior taxa desde a criação da moeda europeia, em 1999.

Além disso, em vários países que fazem parte do bloco, a alta de preços já passa de 10% e está nos maiores níveis desde a década de 1980.

O BCE perdeu credibilidade no combate à inflação ao longo dos últimos meses porque, assim como outros bancos centrais de países desenvolvidos, chegou a classificar a alta de preços como transitória – o que depois se provou uma leitura incorreta do cenário econômico. Os europeus, no entanto, insistiram no erro ao demorar muito mais que seus pares internacionais para aumentar os juros.

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O banco central dos Estados Unidos, por exemplo, que também havia errado sobre a transitoriedade da inflação, começou o ano com juros perto de zero e já elevou as taxas algumas vezes. No momento, os juros americanos estão entre 1,50% e 1,75% ao ano, e a expectativa é de que dobrem até o final de 2022.

“O aumento, assim como as potenciais próximas altas, serão todos voltados a reduzir as expectativas de inflação e a restaurar a reputação e a credibilidade do BCE no combate à inflação”, disse Carsten Brzeski, chefe global de macroeconomia do banco ING em relatório.

Batalha contra a inflação será longa

A alta de juros anunciada pelo BCE, porém, será inócuo no combate à inflação no curto prazo. A própria presidente da instituição, Christine Lagarde, reconheceu durante entrevista coletiva que o ritmo de alta de preços na zona do euro ficará “indesejavelmente alto por algum tempo”.

Parte disso está relacionado ao problema dos preços elevados do petróleo e dos combustíveis, que na Europa é agravado pelo fato de um dos principais fornecedores do continente ser a Rússia.

Os russos invadiram a Ucrânia no final de fevereiro e sofreram sanções econômicas da União Europeia por causa disso. Estas sanções restringem o comércio entre o bloco e a Rússia, em particular na área de energia.

Com menos opções de fornecedores, os europeus são obrigados a pagar mais caro para terem petróleo e gás, e a situação deve piorar nos próximos meses quando a União Europeia deixará de importar estes produtos da Rússia via navios.

Os preços da energia correspondem a mais da metade da inflação atual registrada na zona do euro.

“Todos nós sabemos que o aumento de juros hoje não vai trazer a inflação para baixo no curto prazo – nem mesmo no lado da demanda, que vai reagir muito mais à recessão iminente do que a qualquer decisão do BCE”, acrescentou Brzeski.

Para o economista internacional do banco americano Wells Fargo, Nick Bennenbroek, ainda que uma recessão possa vir a diminuir a inflação na zona do euro, as taxas ainda estão muito distantes da meta do BCE, de uma alta de preços de 2,0% ao ano, o que abre espaço para que a instituição continue aumentando os juros de forma mais agressiva nos próximos meses.

“Achamos que a inflação continua elevada o suficiente e com riscos preocupantes o bastante para que os aumentos mais forçosos continuem. A alta de hoje deve ser seguida por uma nova elevação de 0,50 pp na reunião de setembro”, disse ele, em relatório.

“Além disso, mesmo que a inflação continue elevada e até que o crescimento da zona do euro desacelere de forma mais significativa, também vemos uma série de aumentos de juros como sendo mais prováveis do que não. Neste contexto, também prevemos uma alta de 0,25 pp nas reuniões de outubro e dezembro”, acrescentou.

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